quarta-feira, 2 de abril de 2008

A indignação que nos falta


Afonso Vieira

Quando foi a última vez que você procurou por seus direitos? Qual foi sua última atitude concreta visando corrigir falhas e abusos das instituições com as quais você convive? Você cobra do seu vereador, deputado ou senador por projetos e por suas atitudes? Quando foi a última conversa com seus filhos, visando instruí-los e alertá-los para os agouros da vida?

Muitos têm a mania de reclamar de tudo e de todos: de quem fura a fila, dos corruptos, dos abusos cometidos em repartições públicas ou mesmo privadas, mas, quando indagados sobre o que fizeram para melhorar isso, respondem negativamente, com desculpas tão ou mais esfarrapadas do que as dos assessores políticos.

Oras, vemos coisas absurdas acontecendo a nossa volta, defesas estúpidas de repórteres e jornalistas comprados, matérias tendenciosas praticamente diárias, e o que - além de comentar negativamente - você fez?

Pois é, pessoas de certas cidades e estados são extremamente bairristas, chegando ao cúmulo de defender figuras mais do que desmascaradas pela história, pelo simples fato de serem conterrâneos; ou ainda, não aceitam críticas a certos comportamentos e vícios locais que beiram a estupidez. Parece aquela mãe que vê o filho fazendo algo errado, não corrige e ainda discute com quem o faz.

Temos que parar de ser acomodados e tomar propósitos que efetivamente mudem a situação. Já que possuímos a memória curta, anotem em letras garrafais o nome do candidato em que pretende votar e respectivo endereço – lembrem-se que estamos em ano eleitoral -, para que possamos cobrá-lo constantemente; anotem o número do telefone da ouvidoria do seu banco, da repartição pública que freqüenta, ou das empresas com que transaciona; saiba o endereço do Ministério Público da sua cidade – pode ter certeza que ele é muito mais acessível do que você pensa; quando ligar em um call center, anote o nome do atendente e o protocolo de sua reclamação; procure ler jornais e revistas que dêem um parecer da vida e da sociedade, não leia apenas a parte do esporte, coluna social ou horóscopo; ligue para a redação do jornal da sua cidade, mande cartas! Chega de proselitismo e fanfarronices com a opinião pública! Falta-nos uma consciência política maior. Sugiro ainda que procure entender de política, pois é nela que nossas vidas são decididas.

Já está mais do que na hora do brasileiro dizer um basta para a apatia geral que tomou conta do país. Já nem mais nos espantamos com os escândalos políticos nacionais. Nossas empresas – que antes eram sinônimo de competência – começaram a decair em padrão de qualidade. Ligue no Procon, oriente-se de procedimentos a serem tomados quando do mau atendimento ou ilegalidades.

Garanto que se ao menos um terço da população mostrar indignação, buscar seus direitos e primar pelo cumprimento de seus deveres, teremos meio caminho andado para uma melhoria significativa nos padrões de nossa sociedade, o outro meio é por meio da consciência política, que infelizmente – e com os atuais representantes - ainda temos um caminho muito longo para seguir.