sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Valores morais


Afonso Vieira


O que vem a ser um valor moral? Creio que sejam dogmas em que acreditamos, que temos como princípios básicos sobre honestidade, honra, lealdade, ou seja: é a nossa integridade moral.

Nunca acreditei que o homem fosse puro por natureza, como previa Rousseau; filo-me mais ao prescrito por Thomas Hobbes: “homo homini lupus". Ainda que na prática sofremos influência do meio, temos também uma carga genética a ser considerada e o empirismo do dia a dia.

Qual o valor da sua consciência: oito, dez, cem mil, um milhão de reais? Se você relutou e cogitou um valor, você faz parte de uma considerável parcela da população que não possui princípios de ética e honestidade bem formados. Basta dizer que é mais um hipócrita que critica políticos e corruptos, mas na menor oportunidade cerraria fileiras com usurpadores e improbos.

Em nome de uma amizade, você cometeria algo que considera imoral, ilegal? Cerro fila com os ensinamentos de meu pai, que se o filho cometesse um crime, ele mesmo o entregaria às autoridades – guardadas as devidas proporções do ato.

Quantas pessoas deitam, colocam suas cabeças no travesseiro e têm a certeza do dever cumprido, não perdem o sono com preocupações devido a maracutaias? A cada dia que passa, penso que esse número se reduz. Se existe um ser perveso que comete atrocidades e ainda assim não sente arrependimentos, com certeza já não se trata de um ente nas condições normais de suas faculdades mentais.

Muitos de nós temos preconceitos, dos mais diversos - em sua maioria são coisas pequenas e irrelevantes. Há ainda os que passam uma imagem perfeita, de conduta ilibada; mas atrás de uma fachada, sempre há o local para o lixo.

Pautar seus atos e atitudes pelo respeito ao próximo, honrar sua família, seus amigos, cumprir as Leis e não cometer irregularidades, seriam um bom exemplo de valores morais bem definidos, defendidos e aplicados. É triste a constatação que mesmo entre nosso meio mais próximo, isso ande tão em baixa. Castelos desmoronam a cada dia, sutentam-se apenas por imagens falsas e distorcidas do verdadeiro ego.

Todos temos nossas qualidades e defeitos; porém, ter a certeza da própria honestidade, não se arrepender das próprias atitudes, saber que cumpriu sua tarefa de forma satisfatória, deveria ser a regra e não a exceção. Andar de cabeça erguida, ter orgulho da própria probidade - nos dias atuais - é algo raro e para poucos, muito poucos.

Maquiavel é que estava certo, como sempre seus ensinamentos se comprovam na realidade dos fatos. Cabe a nós sabermos discernir, estar preparados e prontos para levantar após o próximo tombo. Lembrem-se, ainda nos resta nossa hombridade, nossa moral!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Pelo direito de não votar


Afonso Vieira

Começo o presente ensaio com a pergunta: alguém sente prazer em votar? Se sente, não coaduna com minha opinião e de diversas pessoas com quem compartilho idéias diariamente.

Já escrevi alguns textos sobre o péssimo nível de nossos representantes, com o acirramento das campanhas eleitorais, só reforça a tese de que estamos muito mal assistidos neste quesito.

Será que tais postulantes a cargos eletivos ao menos se inteiram das leis existentes, antes de soltarem as diatribes diárias? Pelo visto, não! O pior ainda é ouvir alguns supostos letrados – com formação superior, às vezes até duas ou mais faculdades e especializações – citando suas prioridades, perdem-se em seus raciocínios e acabam colocando tudo em um mesmo patamar. Quando indagados quanto aos recursos, um deletério muito comum utilizado é: “o fulano, que é do meu partido, já garantiu a verba/apoio”.Volto a enfatizar, o conhecimento de Lei de Responsabilidade Fiscal parece ser zero!

Que democracia é esta em que sou obrigado a votar? O descontentamento com a classe política é tamanho que já se constata um elevado índice de jovens que deixaram de tirar o título. A tendência de nulos e brancos deve aumentar.

Estamos sendo obrigados a fazer algo torturante. Tenho arrepios ao ver o horário eleitoral e saber que uma parcela significativa dos candidatos são professores; deve ser por isso que nosso ensino anda em nível tão deplorável. Essa constatação só reforça a pesquisa recente, sobre doutrinação em salas de aula, ao contrário do conteúdo programático.

Candidatos a reeleição - outrora a pior alternativa - despontam como os “menos piores” em meio a adversários totalmente despreparados. Sinceramente, não há nada que me convença que votar é algo bom, ou exemplo de cidadania como a demagógica propaganda da justiça eleitoral propõe. Não me alinho a nenhum partido, não me sinto representado por nenhum candidato; face a isto, já fui até taxado de anarquista - coisa que nunca fui e nem serei. Defendo o estado democrático de direito, suas leis e instituições – que infelizmente estão desmoralizadas.

As democracias mais sólidas, justamente nos países mais desenvolvidos, facultam o voto. Países com tradições autoritárias obrigam o voto. Em meio ao demagógico jogo eleitoral, ficam os cidadãos comuns - totalmente descontentes – sendo obrigados a escolher entre tantos biltres e analfabetos funcionais, quando não corruptos consagrados.

Voto sim, no direito de não votar. Pelo direito de não ser conivente com essa balburdia. Tenho consciência política, estudo o assunto diariamente, acompanho os atos de nossos representantes, e face a isto, só reforça minha antipatia. Pela liberdade e não obrigatoriedade; enquanto isso, só nos resta o nulo.

http://promotordejustica.blogspot.com/2008/09/pelo-direito-de-no-votar.html

http://www.claudiohumberto.com.br/img/src/noticia/file/Pelo_direito_de_nao_votar_doc.doc



sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Tortura!


Não, este texto não será enviado a nenhum site, nenhum jornal, quando muito repassado aos amigos. Não estou aqui para falar dos interrogatórios do DOI CODI, muito menos dos atos de Lamarca e Marighella; vou falar da tortura que é ser diferente em meio à ditadura da maioria.

Qual o problema em gostar de rock, música clássica, ópera e de música mais trabalhada? Pelo certo, não haveria nenhuma discriminação. Mas, quando se mora no interior, onde a cultura ao fútil, ao chifre e demais ornamentações atinentes ideário do povão predomina, muitas vezes nos vemos sufocados.

Recentemente um amigo escreveu um artigo na Folha de São Paulo, onde malhava toda nossa produção cultural no que tange à música. Ainda que eu goste de muita coisa produzida em solo tupiniquim, a grosso modo ele não deixa de ter razão. Tudo que não presta, vende, e muito! Oras, quem nunca se irritou com meia dúzia de retardados em volta de um carro ouvindo “música” no volume para chinês escutar? O desrespeito aos demais é imenso, e não há um pingo de educação nessa galera, pelo contrário, acham bonito ser ridículo!

Morando no Mato Grosso, a coisa tende a piorar, já que o afastamento dos grandes centros parece que é condição para nos distanciar ainda mais de qualquer produção de qualidade. Recentemente teve em minha cidade uma apresentação de jazz - nem preciso dizer que o quórum foi medíocre -, evento que me surpreendeu pela ousadia. Poucos gostam ou conhecem o gênero musical, por motivo de força maior me vi impossibilitado de assistir.

As pessoas reclamam a falta de opção, mas quando alguém prepara algo diferente, mesmo os adeptos e fãs não prestigiam. Não há peças teatrais, raramente uma feira do livro, show musical, só se for de axé, sertanejo ou funk. Como é duro dissonar do meio que me cerca.

Quando eu era mais novo até me arriscava ir a bailes, micaretas e aglomerações costumeiras, não digo que não mais o farei, mas pode ter certeza que penso várias vezes antes de consumar o ato. É, sou um chato exigente que sofre muito devido aos gostos pessoais, mas o fato é: não justifica no mundo atual, ser produto do meio, quando este é extremamente limitado.

O que nos salva do ostracismo é a internet, que nos possibilita acompanhar a evolução da humanidade. Criamos uma nova modalidade de sociedade, a virtual, onde nos falamos, brincamos, trocamos informações como se estivéssemos em uma mesa de bar. Livros? Tenho encontrado praticamente todos que preciso. Músicas? Até seus clipes consigo ver. Filme? Dá para acompanhar todas as tendências. Mas e a inteligência? Ah, a inteligência, o papo produtivo com um ser do sexo oposto, infelizmente ainda é artigo de luxo no seio que me abriga.

Torturados pela ditadura do status quo, ainda assim, sabemos filtrar, relevar e sobreviver na selva da ignorância, do fanatismo pelo medíocre e acultural. Somos produtos do meio, mas felizmente conseguimos ser um fruto sem podres, na verdade, menos imperfeitos.

Viva a diversidade! Desde que esta não me sufoque, não me obrigue a nada e respeite primordialmente meu direito de escolha. Minha liberdade!

Publicado em O Jornal do Vale, 27.10.2008

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

33



Engraçado como a idade nos faz evoluir, me recordo que na minha juventude não era muito fã da data natalícia, bobeira inerente à estupidez da adolescência; hoje vejo como momento de reflexão, alegria e exaltação ao lado bom que a vida nos proporcionou.

A música que ilustra esta postagem se chama Igreja Universal do Reino Rock, que conheci graças a minha grande amiga Yáscara. Realmente a letra tem muito da minha personalidade, já que o que ela prega continua entranhado em minhas convicções. Um garoto em pele de homem, um tanto irresponsável e totalmente responsável, ao mesmo tempo; continuo vivendo como a Banda Made in Brazil cantou: A minha vida é o rock’n roll!

Nos percalços do destino temos a experiência, entre várias cidades e estados, dezenas de verdadeiros amigos e acima de tudo, a consciência tranqüila de viver sob a égide da verdade.

Os erros que cometi muito me ensinaram, as conquistas foram frutos da aprendizagem mundana. Posso afirmar que se hoje tenho uma satisfação pessoal, foi pela evolução do pensamento, que só após diversas trombadas com a realidade, foi-me possível.

Aos mais próximos, não preciso dizer o valor que dou para a amizade, creio que seja o pilar de sustentação de meu ser. Não há nada que me seja mais caro.

Posso citar muitos amigos, em Dourados: Gordo’s, Galego, Anielthon, Mary, Cornélio, Maneluco, Dagata, Paulinho’s, a Corol, e muitos mais; em Campo Grande: Nilsão, Alemão, Roberto, minha irmã Ana Flávia, e outros; de Salvador entre tantas amizades, destaco Calazans; de Aquidauana: Kleyton, Deyvid, a Bugrinha e mais uma galera; de Araraquara meu brother Luciano Pestana; de Cuiabá minha irmã Fernanda, minha amiga Andréa, a mamis Sandra; do Rio de Janeiro o Ricardo e a Dani Loira; de Buenos Aires, minha irmã Euchéria; de Foz do Iguaçu, não poderia deixar de lembrar da Valéria; de Tangará as amizades são recentes, mas cito o Tatu, o Willian, a Dani, e o já velho amigo Taylor; da Nova Zelândia minha irmã Jana; do Japão o brother Saru e a Fernandinha Japa; de Londres o Doc, o Muleque, a Lizziane, a Anelise e até o Jolens; o Monteiro e o Marlon da Bolívia; do mundo virtual posso citar a Graça Maria, Yáscara, Marcelo, leandro, o grande chapa Stefano, et caterva; láureas para meus pais: Edward e Pastora. Com certeza estou esquecendo uma penca de gente, não é minha intenção desmerecer ninguém, mas agradecer, e nada mais justo que seja no meu aniversário. Se posto este comentário no blog, é porque as pessoas que me rodeiam são muito importantes. Bom, chega de melação.

Meu mundo tem se pautado pelo aprendizado constante, enxergando maquiavelicamente as coisas – o que não quer dizer em sentido ruim, pelo contrário. O ceticismo é meu norte, tenho me policiado mais, estudado mais e agradecido à vida tudo que ela me deu. Desculpem-me por algo.

Beijos e abraços!

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Dia do Administrador


Afonso Vieira

Comemora-se no dia 09 de setembro, o Dia do Administrador, profissão de extrema importância e muitas vezes, pouco valorizada em nossa sociedade, motivo que faz necessária a elaboração desta crônica.

Algumas fontes identificam como os primeiros administradores, os gestores das companhias de navegação inglesas do século XVII. Podemos dizer que, de certa forma, tal função sempre existiu, seja na resolução de problemas diários, estratégias operacionais, de guerra, enfim, a grosso modo, o conceito de administrar é extremamente amplo.

Com a invenção da máquina a vapor, em 1776 – mesmo ano da publicação do livro A riqueza das nações, de Adam Smith -, e a evolução até então nunca vista das organizações em nossa história, foram necessárias diversas adaptações para acompanhar o acelerado ritmo. A revolução industrial mudou a face do mundo moderno, criou novos desafios e novos padrões organizacionais. Com o enfraquecimento do liberalismo clássico, ao fim do século XIX - devido ao surgimento dos oligopólios -, foi necessária uma abordagem científica na administração das empresas, tendo como pioneiros Frederick Taylor e Henri Faylol, aumentando sua eficiência e competência.

Essa escola tradicionalista teve rapidamente que se adequar, seus conceitos autocráticos foram contestados pelos behavioristas, que mais tarde desencadeou no movimento estruturalista. Hoje temos inúmeras teorias administrativas, cada qual com seu foco específico, gerando análises de grupo e linhas de ação alternativas para o desenvolvimento organizacional, com enfoque no estrutural-social.

Em meio a toda essa revolução encontram-se os profissionais administradores, que têm a incumbência de gerir de forma eficiente seu setor, sua empresa e organização. Muitos não entendem a importância dessa profissão, a disciplina de Teoria Geral da Administração (TGA) muitas vezes é pouco assimilada nos bancos acadêmicos. O que não enxergam os demais profissionais, é que cada vez mais os conceitos gerenciais são imprescindíveis. Um belo exemplo é quando o servidor sobe na hierarquia organizacional, qual é a primeira exigência? Uma especialização na área administrativa, em sua maioria o famoso Master Of Business Administration (MBA), ou se assim preferir: Mestrado em Administração de Empresas.

A arte de planejar, organizar, dirigir e controlar organizações é nobre. O estudo do comportamento humano, da aceitação do produto pelo feedback, a busca constante pela primazia são características arraigadas dessa profissão, cujo único conceito imutável é a própria mudança constante.

Enquanto a máxima que move as organizações é o lucro, no papel gerencial está o profissional da administração, que conforme Peter Drucker ensinou, buscam acima de tudo a qualidade. Talvez seja exatamente a falta desses especialistas em pontos chave das empresas que ocasiona o mau atendimento, as incansáveis filas, serviços públicos ineficientes, etc.

Lembrem-se, o administrador é a condição sine qua non para a eficiência. Precisamos cada vez mais de competência, que só será atingida pelos gestores da qualidade.

Parabéns!

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Necessária solidão


Afonso Vieira

A maioria das pessoas tende a ver a solidão como algo ruim, danoso, um mal a ser extirpado; muitos tornam o combate a essa situação como prioridade de vida. Mas já pararam para pensar que há todo um charme, algo de belo e envolvente nessa circunstância?

Quantas pessoas têm seu quarto como algo intocável, sua fortaleza pessoal, sua trincheira de pensamentos e divagações? Quantos seres escolheram ficar só, brindaram-se contra os sentimentos mundanos mais comuns de forma que sabem perfeitamente do que estão abrindo mão, em nome do que acreditam ser melhor para si próprio?

Todos temos nossos limites, desejos e aspirações - cada qual do seu jeito, com sua forma e seu conteúdo. Felizmente, não somos todos iguais!

Muitas vezes saímos sozinhos sem destino certo, procurando nada em lugar nenhum. Ao estarmos rodeados de centenas, às vezes milhares de pessoas, ainda estamos mergulhados em nossa introspecção, em nosso mundo irreal, tergiversando sobre pensamentos que fogem à compreensão da racionalidade.

Como é bom ter um tempo somente para nosso eu interior, para o momento de auto-análise, para uma grande reflexão. Solitários podem ser nossos corpos; em contrapartida, nossas mentes tendem a ser o que há de mais liberto de nossas vidas. A gama de possibilidades é infinita.

Você já parou para pensar que existem pessoas que não gostam muito de bajulações, de que se importem ou se preocupem com elas? Pois é, elas existem e são mais numerosas do que imaginamos. Muitas vezes tendem a ser reservadas com suas particularidades, abominam a invasão de privacidade a tal ponto de se ofender com o mais banal comentário. Gostamos de nossa individualidade – que chega a se confundir com a própria liberdade - a tal ponto que isso se torna uma bandeira a defender.

Às vezes estamos diante de um eremita moderno que - por escolha peculiar - assim o decidiu ser. Possuem vida social, mas não fazem muita questão que seja agitada, glamourosa ou reconhecida, normalmente preferem o anonimato. São pessoas que dão mais valor às idéias e pensamentos, que sentem prazer em estar só, no aconchego de seu quarto, junto a uma meia dúzia de livros e afazeres triviais. Gostam dos prazeres da carne, desfrutam do que a vida lhes dá de melhor, porém, se reservam o direito de terminar no ermo de seu espírito.

De um ponto de vista mais filosófico é possível enxergar beleza em tudo, da mais aterradora catástrofe até o mais belo e admirável ato. O mesmo ocorre com os solitários que, ao contrário da maioria, conseguem atingir sua realização pessoal de forma inimaginável para a maior parte da sociedade.

São esses seres que se vêem sozinhos em uma ilha deserta, no topo do Himalaia ou mesmo no deserto do Saara e, ainda assim, vislumbram inúmeras possibilidades e benefícios da situação. Dão valor a muitas coisas, muitas vezes mais a idéias e atitudes do que aos bens materiais propriamente ditos, podem aparentar estar só - mas não se engane - estão perfeitamente integrados e adaptados ao meio que criaram.

Não somos doentes ou maléficos - talvez um pouco diferentes - mas o que definitivamente queremos e necessitamos é de um pouco de solidão.

"Não ouse roubar a minha solidão, se não fores capaz de me fazer real companhia..." - Nietzsche