terça-feira, 27 de outubro de 2009

O antissocial

Certa vez escrevi um texto sobre a solidão, há aproximadamente um ano. Nele divagava sobre situações onde pessoas enxergam algo ruim, em que outras – as solitárias – conseguiam vislumbrar algo belo, prazeroso e de bom tom. Na medida em que me aprofundo em pensamentos filosóficos, creio que me torno mais antissocial, com menos apreço pelo meio que me cerca.

Antigamente fazia muitas amizades, e isso era uma constante. Sempre frequentava os locais “da moda” onde me sentia bem. Com o amadurecimento, o rancor e a chatice nos tornam extremamente mais seletivos, ao ponto de evitarmos nos sentar com este ou aquele ser que não nos agregam valor, ou mesmo nos levantar e ir embora de um estabelecimento por motivo banal.

Fico vendo que a autenticidade e opinião própria é algo que nos afasta de muita coisa. Não sou radical como amantes clássicos da solidão como Schopenhauer – mesmo porque seria muita pretensão me comparar com o escritor -, mas não é à toa que me identifico muito com sua obra.

Nossos atos e convicções dizem muito do que realmente somos, às vezes pequenas atitudes dizem muito mais que diversas palavras. Têm dias que sento na mesa de um bar, sozinho, peço uma cerveja e fico a divagar sobre milhares de coisas, outro momento muito propício para elucubrar é na hora da corrida solitária. Sempre penso que se conseguisse colocar no papel aquilo que vem à mente nesses curtos espaços de tempo, talvez produziria algo realmente de qualidade. Nunca fui fã do notebook, mas creio que será algo inevitável, eis uma forma de minimizar o abismo entre as idéias e o “papel”. Sentar em um café no fim da tarde e poder tergiversar ad infinitum é uma dádiva, mas só será à contento na individualidade do ser.

No livro Travessuras da menina má, do Mario Vargas Llosa, Ricardito – que era tradutor – se aproveitava dos cafés para executar seu ofício. A imagem que aquela leitura propicia do personagem é muito semelhante ao que penso quando me transfiro para um happy hour, seja onde for, sozinho com “papel e caneta à mão”.

A rabugice dos teimosos necessita de muito controle e policiamento. Muitos dissabores poderiam ser evitados, mas a força de nossas idéias tende a ir de encontro com o bom senso, por diversas vezes.

Mas é isso, a luta do lobo solitário que habita em nós é uma constante, como não acredito em valores e conceitos absolutos, creio que podemos mudar, para melhor ou pior, dependendo da ótica individual e situação de cada um. Mas que briguemos para que seja com cordialidade e respeito, que o “ermitão moderno” prossiga na sua busca incessante pela paz interior.

domingo, 11 de outubro de 2009

A consciência individual


Nas últimas décadas, temos sido bombardeados por leis e padrões de conduta que tendem a impor certos valores de um excessivo “politicamente correto”. Ainda que muitas das atitudes tomadas tenham sua razão de ser e pretendem atingir resultados satisfatórios a todos, elas tendem a ignorar o conceito de indivíduo.

O assunto é muito amplo e filosófico, mas todo tipo de debate é válido, pois tende a aprimorar definições e quebrar paradigmas. Hoje é raro conseguirmos ler, conversar ou visualizar pessoas realmente autênticas. Poucos têm coragem de ser e agir conforme a própria consciência. É a hipocrisia ululante tomando conta da sociedade.

É comum vermos textos com referências a filósofos e autores consagrados pela história, tal roupagem tem sido utilizada para dar um ar intelectual ou erudito ao escriba, mas muitas vezes o conhecimento é pífio ou a interpretação totalmente errônea. Falta o verdadeiro “eu” nas palavras, falta a própria opinião.

Não se pode mais fazer brincadeiras, não se pode fumar, não se pode beber, não se pode gritar, ser “eu mesmo”! Há patrulhamento ideológico e social em tudo, como se nós não fôssemos um ser pensante, querem pensar e agir por nós. Há uma nova santa inquisição em curso, onde não podemos mais ter defeitos, ou não podemos admiti-los!

Eu, por exemplo, nunca tive problema em aceitar minhas imperfeições - que são muitas. Expresso minha opinião doa a quem doer. Meus atos sempre assumi e respondi por eles, exerço meus direitos e cumpro meus deveres. Mas sou uma ilha dentre tantos. Talvez alguns, dos poucos iguais a mim, façam parte do meu círculo de amizade. Mas como sempre digo, não ligo muito para juízos de outrem.

Oras, chego a ler certas estultices que me dão nos nervos. Querem impor dogmas coletivistas ignorando nosso egoísmo. Sim, todos somos egoístas! Mas pouquíssimos possuem hombridade em admitir. Eu não quero resolver o problema do seu Zé da vila vintém, tenho minhas próprias prioridades. Talvez, quando realmente tiver solucionado meus impasses, possa vir a me dedicar ao próximo, mas sou eu quem decide isto!

Sabe quando seremos brindados por mentes como Nietzche e Schopenhauer novamente? Provavelmente nunca mais. A autenticidade se tornou defeito. Os dois filósofos que citei, eram brilhantes justamente por ser quem eram e não tinham vergonha de colocar seus pensamentos, preconceitos e frustrações.

Em uma reflexão extremamente particular, posso dizer que amo/amei pessoas muito mais pelos defeitos do que pelas qualidades. As pessoas com quem mais discuto e divirjo, são justamente meus melhores amigos.

As máscaras estão postas e ostentadas por todos os lugares. Mas não reclamem quando forem enganados pelo ente mais próximo, pois a verdade é relativa, mas a falsidade não!