terça-feira, 27 de julho de 2010

A qualidade de nossa leitura


Há tempos vivemos numa época de ostracismo intelectual. Os títulos de livros que fazem maior sucesso entre leitores, nada mais são que obras de cunho duvidoso – salvo raríssimas exceções. De nada adianta a leitura se o entendimento e capacidade de estimular a imaginação forem irrisórios.

Na semana passada li uma reportagem que dizia que a vendas dos chamados e-books superaram a dos livros convencionais, mas - cabe ressaltar - que a comercialização dos livros de capa dura também continua a crescer. Os dados são de um dos maiores sites do gênero no mundo, da Amazon.com.

Nesta semana assisti uma reportagem – no Bom dia Brasil - sobre o crescimento de livrarias em nosso país, mais um dado a ser comemorado pelos ávidos por conhecimento.

Em uma pesquisa recente, encomendada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, diz que 46% da população brasileira costumam ler jornais. Ai é que se encontra o nó da questão. Atente-se também para a origem desse “estudo”.

O fato de quase metade da população declarar “ler jornais” não quer dizer muita coisa, haja vista que de nada adianta ler e não entender, ou ler somente o que lhes interessa, de forma míope e superficial. Quanto ao crescimento da leitura de livros e de novas bibliotecas, sei perfeitamente do calvário que é estimular isso, afinal, também sou educador.

Não custa dizer que os livros mais vendidos, via de regra, não são perfeitos exemplos de excelência, ao menos os atuais. Quantidade não é qualidade! Mas, em contrapartida, não me preocupo muito com títulos destinados ao público infanto-juvenil. Oras, é melhor que eles leiam Paulo Coelho e a saga dos vampiros da moda, à nada! Lembrando que, apesar de nunca ter lido nada do mais famoso escritor brasileiro da atualidade, cresci e estudei com uma geração onde a leitura de O alquimista era algo quase obrigatório, nem por isso deixamos de ter produzido excelentes profissionais, nas mais diversas áreas.

Não li, nem pretendo ler O segredo, por exemplo. Quando o livro era febre entre meus companheiros de docência, eu já o denegria em meus pensamentos, “autoajuda chinfrim”, pensava com meus botões. Peguei preconceito contra o autor Irvin D. Yalom, justamente pela febre que foi seu livro de estréia, que li e não gostei. Jornais e revistas são coisas obrigatórias, mesmo dentre as mais duvidosas das publicações, pode-se ter certeza que conseguimos extrair algo para estimular nosso senso crítico.

Leio diversos blogs, diariamente, com o tempo aprendemos a selecioná-los de forma correta. Há oportunidade de se encontrar muito escritor culto, que nos transmitem coisas muito além da mediocridade convencional, inclusive indicações à publicações estrangeiras e obras que jamais sonharíamos em ver na lista dos “mais vendidos” da Revista Veja. Mas - como forma oposta - também temos muitos jabazeiros posando de paladinos da ética e da moral, pseudos intelectuais, com audiência elevada na rede.

Curiosamente, há uma massa de energúmenos que pulula na internet, achando que o fato de frequentarem blogs e fóruns, tecendo comentários dos mais variados assuntos – com a profundidade de um pires -, é sinônimo de intelectualidade e cultura. Pessoas que há tempos leem apenas um autor, acreditam em uma única verdade e não possuem o menor senso crítico, pelo menos para enxergar sua infinidade de defeitos.

Caminhamos, aos poucos, para uma melhora no nível cultural. Os aumentos citados acima, ainda que contestáveis, devem ser exaltados. Até mesmo uma revista em quadrinhos é melhor do que a não leitura, afinal, é para frente que se anda!

"Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por idéias" – Mario Vargas Llosa

terça-feira, 20 de julho de 2010

Dia Internacional da Amizade **



Afonso Vieira
Amizade, este deve ser o sentimento mais louvável e verdadeiro do ser vivo. O estabelecimento de um dia específico para comemorar algo que manifestamos diariamente é mera formalidade para a exaltação.

Não há sentimento maior de afeto; os amigos podem ser pais, irmãos, a pessoa amada, parceiros do trabalho e pessoas do círculo social. Entretanto, só se torna merecedor da alcunha alguém digno da confiança depositada, "um irmão pode ser um amigo, mas um amigo será sempre um irmão."

Você já parou para pensar que existem pessoas que mesmo distantes não nos saem da cabeça? É algo inexplicável, queremos o bem desses seres sem importar quando e onde. Seja em Buenos Aires, Nova Zelândia, San Diego, Japão ou até mesmo em Marte. O sentimento transcende a lógica da razão - por mais que possam ocorrer divergências, o vínculo afetivo supera qualquer impasse.
O verdadeiro amigo não precisa nos provar nada, o simples fato de existir já é a nossa maior recompensa. É aquela pessoa que aguardamos que nos incomode, que nos ligue na madrugada em pleno inverno, que mesmo embriagada consegue nos alegrar pelo simples fato de nos procurar.

Na convivência diária, até os defeitos mais irritantes fazem falta na ausência. É a pessoa acima do bem e do mal, aquela que pode ser uma péssima referência para os outros, mas o que importa é o que é para nós. Com todos os defeitos possíveis, o amigo ainda terá mais qualidade que um mártir da virtude.

O verdadeiro amigo pode ficar por anos desaparecido, coisa que meia dúzia de palavras e um simples abraço superam como se nunca tivesse se ausentado.

É aquela pessoa que podemos contar a qualquer hora do dia ou da noite, que nunca nos negará o ombro na alegria ou na tristeza. O verdadeiro amigo não precisa ter vínculo de sangue, basta o vínculo da confiabilidade.

Os melhores amigos são os irmãos que a vida nos dá, são nossos cúmplices e confidentes de todos os momentos. A amizade é superior à materialidade. Criamos laços mesmo por trás de uma tela de computador. Aprendemos a confiar em pessoas que não vemos ou sequer conhecemos pessoalmente, sem que isso abale de forma alguma o sentimento.

A vida nos brinda com momentos e pessoas que devem ser aproveitados e preservados. A minha me proporcionou uma quantidade considerável de verdadeiros amigos, tanto como familiares quanto não - pessoas com que convivi e convivo. Ter este dia para exaltá-los é mero rito formal para comemorar o que é cultivado todos os dias, o sentimento de amor pelo que de melhor minha breve existência me apresentou.

Bom seria se todas as pessoas preservassem as amizades, honrassem este sentimento tão nobre e praticassem a tolerância e compreensão - coisas que só aprendemos no exercício da afeição.

Feliz dia internacional da amizade!

*Publicado em O Jornal, 20 de julho de 2007.

**Não tive tempo de escrever nada este ano, portanto, republico este texto publicado originalmente em 20/07/2007

terça-feira, 13 de julho de 2010

Dia Mundial do Rock




As duas fotos tirei no show do AC DC em Buenos Aires, em dezembro passado.

Algumas músicas indispensáveis para comemorarmos o Dia Mundial do Rock:









Agora um AC DC para terminar:

terça-feira, 6 de julho de 2010

Um País sem Copa


Afonso Vieira

Por fim fomos eliminados da Copa do Mundo na África do Sul. Sinceramente, vejo com bons olhos a saída da Seleção Canarinho. Antes que me acusem de ser antipatriótico ou algo que o valha, deixo claro que também torci e me chateei com a derrota. Mas há uma cultura popular medíocre que precisamos acabar, afinal, jogo do Brasil não é feriado!

Não consigo entender a sanha do funcionalismo público em enforcar o serviço, que - via de regra - já é péssimo. Nas empresas privadas, boa parcela parava apenas na hora do jogo, e retornava ao ofício após seu término. Quem tem obrigações a cumprir, não pode se dar ao luxo de desperdiçar duas horas de sua jornada. O dever vem em primeiro lugar.

Estive conversando com amigos, empresários e profissionais liberais, e a opinião era quase unânime, os dias de jogos atrapalhavam suas produções e compromissos. Nós, brasileiros, temos a cultura futebolística, torcemos e sofremos por nossos times, mas também deveríamos primar pelo cumprimento de contratos e acordos.

Vou citar alguns exemplos que me prejudicaram nesta copa: tinha um material para ser entregue, a previsão era sexta – dia da eliminação da seleção de Dunga -, o “descompromissado” motorista parou o dia todo para se refestelar vendo a derrota de nosso time, como resultado, recebi o material com um dia de atraso. Na outra, algo muito mais absurdo - a meu ver -, quando se compra material fora do estado, temos que pagar o diferencial de alíquota através do Termo de Verificação Fiscal (TVF). Como uma boa parcela de meus pedidos chegou sexta, e nossos amigos da fiscalização resolveram gazetear todo o dia de serviço, estou até o presente em que escrevo esta crônica, sem o material.

É comum que os estereótipos sejam prontamente rechaçados pelos detentores da má fama, mas será que não há um fundo de verdade? Como é que mudamos uma visão ruim? Somente provando que ela está errada, e não há outro caminho senão a execução de normas e padrões com elevado grau de excelência. Seria interessante que fossem exibidas estatísticas com os valores perdidos a cada jogo televisionado dos “canarinhos”. Tirando bares e distribuidoras de bebidas, creio que a maioria das organizações perde muito. E nem estou falando no absenteísmo nos dias que sucedem tais eventos.

O grosso da população critica pessoas ávidas por trabalho, mas o fato é que, os bem sucedidos e tidos como competentes, jamais deixariam de lado seus afazeres e responsabilidades para se encharcar no “ópio do povo” tupiniquim.

“De longe, o maior prêmio que a vida oferece é a chance de trabalhar muito e se dedicar a algo que valha a pena” - Theodore Roosevelt

*Foto www.band.com.br

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Muito além do Nirvana


Afonso Vieira

Muito se falam em definições, verdades, na eterna luta entre o Bem e o Mal. Será que isso realmente é algo mensurável? Existe alguma certeza plena no universo? Há uma força divina que nos governa ou somos nós que – como seres fracos – temos eu acreditar em algo?

Se existe uma verdade, ela nada mais é do que o fato em si, da forma e no exato momento em que ocorreu; a partir do próximo minuto, estaremos nos deparando nas versões de cada um. Em nome de uma verdade histórica, já se cometeram várias atrocidades, até hoje mentiras são exaltadas como algo real. Não há um único ser no universo que consiga descrever um fato em sua plenitude, quando quem repassa a informação possui outros interesses, a distorção é ainda maior.

Faça um teste: encene um ato com uma pequena platéia, logo após peça para que todos descrevam o ocorrido com suas próprias palavras. O resultado será surpreendente!

Ao pegarmos um dicionário, temos as diversas definições para o que nos cerca. Historicamente, as definições foram sendo aprimoradas e adequadas conforme a necessidade de quem ditava as normas. Isso vale para leis e até mesmo “dogmas” religiosos.

Os próprios padrões morais são completamente diferentes de uma sociedade para outra, e no seu tempo. Alguém no ocidente acha normal uma criança de 12 ou 13 anos se casar? Pois é, isto é nos dias atuais; faça uma pesquisa rápida entre seus familiares mais velhos, pais e avós, novamente haverá o espanto. Pedofilia – este crime execrável – é “mais execrável” nos anos 2000 do que há 30 ou 40 anos.

Os homossexuais vivem se sentindo discriminados, mas se esquecem de respeitar héteros que não lhes querem como parceiros, a tolerância é uma obrigação constante, e principalmente, recíproca. As individualidades devem ser preservadas. Aos intolerantes, que creem piamente que o homossexualismo é uma doença ou algo recente, se esquecem do berço da civilização ocidental, onde a promiscuidade – no conceito atual – era regra. Estudem um pouco de cultura greco-romana, para citar apenas dois exemplos.

Sempre reflito muito sobre a imortal batalha Bem VS Mal. Mas também sempre indago: o que é o Bem e o que é o Mal? Quem definiu? Tenho para mim que tudo isso não passa de convenções sociais/morais, impostas pelo meio que nos cerca. Custa-me a aceitar que um ente divino possa matar inocentes em nome de um “bem maior”, e daqui a pouco pregar a completa tolerância e respeito à vida – seja de quem for. Einstein nos ensinou que tudo é relativo, e talvez estivesse certo. Tudo depende do ambiente e da ótica dos envolvidos.

Aprendi a não ter certeza de nada, a duvidar, mas antes de tudo, respeitar. Já escrevi várias vezes que uma das poucas coisas que me choca é a imposição, seja de onde vier. Às vezes sou mal interpretado por leitores que possuem pré conceitos imutáveis, oras, minhas divagações almejam algo muito além do “bem” e do “mal”.

A maioria busca apoio e repouso espiritual em crenças, o que de forma alguma condeno, pelo contrário, é uma opção pessoal e como tal, deve ser respeitada. Outros acreditam facilmente em definições e conceitos prontos – é mais fácil decorar do que contestar. Mas eu, não vejo necessidade de crer para alcançar ou transpor meu Nirvana, não tenho dogmas e há tempos não acredito em verdades e definições absolutas.

Onde muitos veem obstáculos e comodismo, eu vejo uma incógnita, que merece ser explorada e decifrada, de forma saudável e prazerosa, longe de restrições, obedecendo somente o respeito às normas e convenções, desde que sejam aceitáveis.

“Reiterarei, contudo, uma centena de vezes que a 'certeza imediata', como o 'conhecimento absoluto' e a 'coisa em si', contém uma contradictio in adjecto” [contradição nos termos]. - Nietzsche em Além do Bem e do Mal

http://www.imil.org.br/artigos/muito-alem-do-nirvana/