terça-feira, 29 de março de 2011

O direito dos idiotas


Há algum tempo ando afastado do meu hobby da escrita. Na semana passada acompanhei uma discussão sobre uns impropérios tecidos por um ator ao estado do Piauí. Logo em seguida, fiquei sabendo de outra asneira proferida por um “cantor” adolescente sobre a região amazônica.

Até ai nada demais, oras, ambos os falantes têm o direito de deslizarem nas palavras. Mas a reação da turba - supostamente ofendida - foi algo completamente desproporcional. Ambos tiveram eventos marcados por aquelas regiões, cancelados.

Quem é que nunca disse uma asneira, daquelas bem cabeludas? Isso é normal que ocorra, e o disparate é inversamente proporcional à quantidade de massa encefálica que possuímos. Pelo que vi, ambos têm deficiência com neurônios.

O ator eu desconhecia, a “banda” eu nunca ouvi – evito rádios e a mídia convencional -, só vi algumas vezes, pois o visual esquisito que me chamou atenção, que não considero algo adequado para meus padrões de vestimentas. Mas o problema é deles, se querem se vestir assim, têm o direito!

Nunca entendi essa relação doentia entre o bairrismo e os idiotas. Começo a enxergar algo além. É comum que os menos favorecidos intelectual, financeira e moralmente, busquem formas de escape para suas frustrações. Daí a explicação do alarde ao que “pensa” ou diz alguém que nem merece muita atenção. Na verdade – para os casos em questão -, ganharam cartaz e visibilidade além do que mereciam.

Há uma frase atribuída ao escritor Samuel Johnson: “o patriotismo é o último refúgio dos canalhas”. Acredito que a referência é justamente para casos como os supracitados. Desculpem-me meus caros, mas as assembléias legislativas, os programas de TV, entre outros, deveriam ter coisas mais importantes do que se incomodar com biltres saltitantes. Deveriam . . .

Eu, assim como qualquer pessoa normal, também tenho meus momentos de idiotia – um deles foi em um comentário infeliz semana passada em meu ambiente de trabalho, mas isso é outra história.

A récua de algozes é pior, muito pior que os novos “inimigos” do Norte e Nordeste. Afinal, eles tiveram tempo para pensar e planejar suas ações. Recordei-me do episódio que ocorreu com o colunista Diogo Mainardi e Cuiabá – cidade lotada de bairristas, frise-se! O que foi escrito foi mal interpretado, mas a manada não raciocina muito quando o assunto fere o “decoro” da terra natal. Mas não dá para pensar em interpretação de texto em uma terra que até o sertanejo é “universitário”.

Temos exemplos diários de babaquices, só que é difícil entender o que move os corações abarrotados de ódio, como o dos “ofendidos”. Acredito que se o comentário fosse o inverso, oriundo de um morador daquelas plagas contra São Paulo ou Rio de Janeiro, passaria completamente despercebido. Mas o coitadismo, o politicamente correto resolveu triunfar na cultura brasilis. Não dá para esperar muito de uma terra onde idiotas criam leis racistas para combater, pasmem, o racismo.

A defesa das liberdades individuais, do direito de sermos idiotas, pode parecer mais uma tolice, mas não é! O patrulhamento tosco e sem fundamento, pode virar algo muito pior que meras churumelas de apresentadores e políticos oportunistas. A história está repleta de exemplos, que o digam os idiotas religiosos de nossa antiguidade, e até mesmo de um passado recente.

O que pensa ou deixa de pensar um ator desconhecido e um “aborrescente” emo, pouco me importa, mas quando formadores de opinião, parlamentares e pessoas influentes se sentem ofendidos por algo banal, começo a me preocupar. É, estamos mal, muito mal.

Já morei em diversos locais pelo país, conheço o Brasil muito melhor que considerável parcela da população. Cada local possui seus encantos, suas particularidades e defeitos. Não é censurando, calando e atacando ignorantes que vamos resolver problemas de autoestima, de egolatria e de carência de afetividade.

Eu, por exemplo, aprendi a amar cada cidade que morei, mas jamais deixei de enxergar suas peculiaridades e deficiências. Afinal, idiotas existem em todos os cantos, seja no meio artístico, político, social ou intelectual. Falta-lhes apenas a hombridade de aceitarem isso.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Perdendo minha fé?

Há muito tempo adotei uma postura cética sobre tudo e todos que nos cercam. Tornei-me um racionalista com o passar dos anos. Dentro desta ótica, passei a enxergar defeitos e virtudes onde antes não os via. Com a maturidade obtida no passar dos anos, tornei-me mais e menos tolerante ao mesmo tempo, tudo dependendo do contexto a ser analisado.

Os que me são mais próximos, sabem que sou um descrente. Não tenho fé em deuses, não possuo dogmas absolutos e nem pauto meus atos por livros, escrituras e instituições consideradas sagradas. Pauto única e exclusivamente pelos meus valores morais e individuais adquiridos ao longo de minha existência.

Por que escrevo este texto? Escrevo porque a maioria de nossa sociedade ainda depende da crença em algo superior para pensar e agir, e nós, agnósticos e ateus, somos uma ínfima parcela, pouco ou nada compreendida. Às vezes, somos até mal vistos pelos mais fundamentalistas.

Vejo, diariamente, pessoas creditando seus sucessos a um Deus, pouco ou nada é ao que realmente importa, o esforço e a dedicação pessoal. Não os culpo nem os julgo, só quero deixar claro, que por mais que se crê em algo, que ore ou reze, de nada vai adiantar se não se dedicar no objetivo proposto. Em termos cristãos, podemos dizer que é algo como livre arbítrio.

Curioso um fato que sempre me deixa a pensar, não vejo descrentes querendo mudar a opinião de religiosos, pena que o inverso não pode ser aplicado, não na regra social. Oras, somos mais de 6 bilhões de entes, com uma infinidade de crendices, e todos, sem exceção, dizem-se o caminho da verdade. Quer dizer, na melhor hipótese, considerando as maiores agremiações, 4 bilhões - no mínimo – estão errados!?

Uma vez perguntei a um ateu – extremamente culto e articulado -, como havia se tornado cético, a resposta imediata foi: lendo a bíblia. Não partilho a opinião dele, que só vê malefícios nas instituições “sagradas”. Mas ao ler e estudar toda nossa história, fica difícil crer nos argumentos daquelas instituições, de todas, frise-se. Na maioria, são teses fracas e de fácil desmonte.

Um perfeito exemplo da necessidade de aprofundamento nos estudos, sejam quais forem,ocorre com uma frase de Voltaire – um dos maiores críticos das religiões que se tem notícia –, que diz: “Se Deus não existisse, precisaria ser inventado”. Basta uma lida na sua obra para entender que isso é uma crítica, não uma afirmação benévola. E assim vai a maior parte das defesas em nome da fé.

Não tenho intuito de criticar ou mudar a opinião de quem quer que o seja, mesmo porque, vejo que as instituições religiosas são ainda de extrema importância para a formação moral dos cidadãos. Não dá para desmerecer a influência dos ensinamentos judaico-cristãos para o ocidente, mas também não podemos tolerar fanatismo, nem mesmo o ateísmo militante – o que de certa forma se torna uma religião.

Atrocidades foram e são cometidas em nome da fé, antes que alguém venha dizer que regimes ateus também mataram milhões - como o caso da URSS - já digo que o comunismo em sua utopia do “Partido”, nada mais era que outra forma de crença fundamentalista.

Talvez nós todos necessitemos de crer em algo, seja em divindades, na razão, em um copo de cerveja ou o que quer que o valha, mas tudo seria bem mais fácil e aceitável se os indivíduos fossem respeitados, independente de credo, cor, classe social ou qualquer parâmetro utilizado para identificar uma minoria/maioria.

Eu, por exemplo, não consigo acreditar em nada que me cerceie a liberdade, nada que diga que o que eu gosto de fazer é pecado, algo ruim. Jamais aceitaria como norte algo contraditório, que perfeitamente explicita o faça o que digo, mas não faça o que faço.

Acredito nos méritos individuais, nas conquistas e na paz interior, que só podem ser alcançadas de dentro para fora, sem necessidade de nenhuma instituição ou ser alheio aos meus pensamentos, de nada que provenha de algo intangível e que seja imposto.

Estou perdendo minha fé? Creio que não, simplesmente evoluí, para alguns posso ter regredido, mas não há nada que digam ou façam que mudará minha opinião. Respeito quem me respeita, faço votos que sejam muito felizes nas vidas que abraçaram, eu vivo muito bem dentro da minha razão.

“A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais” – Arthur Schopenhauer