domingo, 30 de outubro de 2011

O câncer, Lula e o SUS

O ex-presidente Lula foi diagnosticado com câncer na laringe, após exame foi feito no hospital Sírio-Libanês. Quando li a notícia lembrei-me de uma declaração sua, feita há tempos atrás – quando ainda era o titular do Planalto - de que a saúde pública brasileira beirava a perfeição. Mais uma entre tantas diatribes proferidas em seus oito anos de mandato.

De imediato as manifestações de apoio e solidariedade começaram a surgir. No mesmo ritmo que as redes sociais começavam a brincar com a doença. Coisas como: “força tumor”, “Lula, faça o tratamento pelo SUS”, etc.

A saúde do cidadão Luis Inácio não me diz respeito, não me importa e não tira meu sono – não sou hipócrita em afirmar o contrário. A saúde da pessoa pública Lula, somente me diz respeito pelo fato dele ter sido chefe do Executivo Federal, ter alardeado a suposta qualidade do SUS, e ter dito que iria sugerir ao presidente norte-americano, Barack Obama, a fazer um sistema semelhante. Foi o responsável pela saúde pública e quando precisou correu para o sistema privado. Hipocrisia pouca é bobagem!

Um dos ensinamentos que a vida castrense me ensinou era: nunca cobre de um subordinado aquilo que não possa cumprir. Na vida pessoal penso da seguinte forma: não queira para os outros o que não deseja para você. São máximas que não necessitam de maiores explicações. Um líder deve dar o exemplo, sempre!

O câncer é uma das piores doenças que um ser humano pode enfrentar, pouquíssimos conseguem superá-la por completo. Perdi há alguns anos uma grande amiga vítima dessa mazela. O falecido vice-presidente José de Alencar era um exemplo na luta contra essa maldição, ficou anos combatendo. Mas seu exemplo para por ai, na vida pessoal se negou até os últimos dias a reconhecer uma filha bastarda.

O que quero explicitar com este texto é: não vou mudar minha opinião sobre esta ou aquela pessoa por estar passando por uma fase ruim. Torço que todos que estejam enfrentando doenças, que consigam superá-las, mas só vou me importar efetivamente com aqueles que realmente me importam e me digam respeito, que nutra afeição. Não esqueço suas más contribuições, não apago da minha memória atos daninhos, pelo contrário, são coisas que agregam aprendizado para não incorrermos nos mesmos erros.

Minhas divergências com a figura Lula estão no campo político e moral. Ele representou tudo o que eu não quero em um líder. Nem por isso desejo seu óbito e seu sofrimento. Gostaria sim, que as denúncias de corrupção em seu governo fossem devidamente apuradas e os responsáveis punidos. Como estamos falando de Brasil, nem o SUS presta atendimento de qualidade, nem Lula reconhece isto e ninguém da alta corte vai comprovar e ser punido pela corrupção que as evidências todas teimam em confirmar.

Ps. Antes que algum energúmeno apareça chorando as pitangas, não sou filiado a nenhum partido. Não tenho nenhum exemplo para seguir nos políticos atuais. Se fosse alguém do PSDB ou do DEM, na mesma situação e com mesmo histórico, a opinião seria a mesma.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Aos que querem salvar o mundo 1

Uma das maiores características da era da informação é verificar instanta-
neamente todos os acontecimentos da vida real. As redes sociais podem divulgar nossas qualidades, mas ao mesmo tempo, maximizar nossas futilidades. Diariamente somos bombardeados de boas atitudes, os “bons samaritanos” enlouquecem os feeds de notícias de todas as mídias.

Sempre desconfiei dos puros de coração, com raríssimas exceções, todos têm segundas intenções, faz parte da natureza humana. Os românticos ainda querem acreditar que a ampla maioria da sociedade é boa, que os corruptos e degenerados de ocasião são exceções. Desculpe-me em desapontá-los, Rousseau estava errado!

Certa feita estava em uma reunião, quando ainda vestia a farda verde oliva e ostentava minhas estrelas. A discussão era sobre segurança dentro dos quartéis, nela a reclamação era geral:

- É um absurdo revistarem os veículos de nossas esposas! – bradava a massa. Lá fui eu, remando contra o consenso:

- Desculpem-me, senhores. Mas estatisticamente falando, dentro desta sala – com mais de 100 militares - temos drogados, ladrões, espancadores de mulheres, etc. Não podemos garantir a idoneidade de todos, temos que raciocinar com a pior hipótese, temos que revistar! – devo ter sido demonizado por uns dias . . .

Dentro do dia a dia - e cada vez mais - observamos o discurso indignado da população contra nossa falta de segurança, o aquecimento global, o corte de árvores, a corrupção impune, a péssima educação. Mas façam o teste, deem corda para seus pares, deixem a conversa fluir e verifiquem onde chegarão. A maior parte vai escorregar e admitir que sua moral é relativa, que sua probidade depende de ocasião. 90% ou mais subornaria um guarda! E este é apenas um exemplo. Seguem alguns outros:

- Ah, o cara está cobrando a menos na conta do bar. Oba! Vamos aproveitar e beber mais. Que se exploda esse mané e o dono do estabelecimento;

- Moço, posso passar na sua frente na fila, é rapidinho, só tenho dois itens para pagar;

- Todo político rouba, eu, se estivesse lá, também o faria. Ao menos aceitaria o retorno;

- Minha filha, dá para liberar aquela autorização antes dos demais, sabe com é, tenho urgência, meu filho está morrendo e minha mulher se acidentou . . .

Dá para ver que a hipocrisia reina por todos os cantos, mas pouquíssimos admitem, é mais fácil inventar virtudes do que reconhecer defeitos.

Eu nuca fui um exemplo de pessoa, mas não prego o que não faço. Não quero salvar o planeta, no máximo resolver meus problemas e consequentemente dos que me cercam. Admito que sou um grande egoísta, chato contumaz, e tenho completa aversão a utópicos, hipócritas de ocasião. Volto em breve com outro texto para complementar.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Bebidas, Bukowski e solidão

Há poucos dias terminei de ler o livro Mulheres, do Bukowski. Como não podia deixar de ser, identifiquei-me muito com o personagem. Os conflitos, o desapego e a indiferença contumaz do escritor - o alter ego Henry Chinaski -, são apenas algumas das características. É realmente curioso, o velho safado consegue ser envolvente mesmo numa linguagem simples e recheada de palavrões, bem no estilo “a vida como ela é”.

Uma das coisas que chama a atenção é o fascínio que o escritor causava em suas fãs. Em suas obras, Bukowski/Chinaski sempre englobava coisas do seu cotidiano, situações que vivenciou, de forma que seus escritos sempre refletiam muito da sua personalidade e sua vida. A forma solitária, singular e desbocada de ser, parecia ser seu charme, e isso lhe propiciava inúmeras mulheres.

Com todos os defeitos do ser humano, às vezes são justamente os deméritos que atraem e apaixonam, e não as qualidades alardeadas e exaltadas aos quatro cantos. Pessoas mais evoluídas conseguem compreender, filtrar e superar pré-conceitos, deliciando-se dos momentos de prazer.

Em tudo que leio, escuto, estudo e vivencio, nada me atrai mais do que quando se fala em solidão. Letras de músicas, escritores, filósofos, entre outros, sobressaem à maioria quando se compara a qualidade oferecida no conjunto da obra.

Certa vez estava conversando com um companheiro de boteco, músico e compositor dos melhores, quando toquei no nome de Schopenhauer. De imediato, Renato Fernandes se revelou leitor do autor alemão, talvez daí saia uma das fontes da genialidade de suas canções de blues.

Todos nós temos necessidades, mas com o passar do tempo, nossas prioridades mudam. Há dez ou quinze anos, eu, por exemplo, era o maior arroz de festa - não perdia um único evento de porte. Hoje, só me prontifico a sair de casa ou viajar se realmente tiver algo que considere valer à pena. Dedico meu lazer apenas para viagens visitando amigos e para algo raro e que me seja caro.

Bukowski era viciado em mulheres, e quem não o é? O problema é ter alguém invadindo sua intimidade mais que alguns dias. Todo bêbado gosta de sentar, beber e não ter ninguém para enchê-lo e dar satisfação. Isso é algo impossível para um compromissado com um ser que quer fazer de tudo para substituir até o ar que se respira.

Paga-se um preço pelas escolhas, nada mais justo para ter uma vida conforme se deseja. Uns nasceram para serem dominados, subjugados ou para alegrar a família e a sociedade. Gostam do mundo perfeito. Outros, mais “endiabrados”, preferem um boteco sujo, um livro instigante, um quarto de hotel, uma transa casual, um copo de whisky e acima de tudo, sua liberdade, sem dogmas e muito poucas regras para seguir.