terça-feira, 30 de março de 2010

Órfãos de pai e mãe


Afonso Vieira

Mais uma vez nos deparamos com um ano eleitoral. Mais uma vez iremos escolher um candidato que irá nos guiar por quatro anos. Infelizmente, mais uma vez estaremos votando no “menos pior”. Será possível que ninguém realmente competente e probo se interesse pela política?

Não adianta tentar tapar o sol com a peneira, de ser cego e querer vislumbrar qualidade onde ela inexiste. Estamos muito mal representados em praticamente todas as esferas do poder, salvo raríssimas exceções. Já participei de acalorados debates sobre a obrigatoriedade do voto e o ato de anulá-lo. Não houve, até o presente, nada que me convença em votar em quem eu não nutra a menor simpatia, nem mesmo o suposto bolivarianismo do Brasil.

Seguindo as tendências atuais, teremos como os mais prováveis candidatos num segundo turno, a ministra Dilma Rousseff e o governador José Serra, ambos candidatos de centro-esquerda, frise-se! Não há nenhum candidato dos maiores partidos que seja de direita ou que defenda valores apregoados pela economia de mercado e visão liberal, nenhum!

Muitos petistas, cegos por natureza, querem propagandear que o PSDB é um partido “neoliberal” – seja lá que signifique isso -, mas é fato que os claros do tucanato não passam de marxistas moderados, facção que era contrária à luta armada por ocasião do regime militar.

No Brasil temos uma verdadeira lavagem cerebral em curso, e isso vem ocorrendo desde os mais tenros bancos escolares. Basta se verificar que estão obrigando o ensino da sociologia ainda no ensino médio, em detrimento de outras matérias comprovadamente importantes. Oras, não é necessário ser nenhum gênio para perceber que a doutrinação está vindo a todo vapor.

Eu, e muitos dos amigos e colegas com que tenho maior afinidade, podemos ser classificados como “porcos capitalistas”; talvez, porque defendemos o Estado Democrático e de Direito, as liberdades individuais, o direito de propriedade, o trabalho como mola propulsora da sociedade, lucros e resultados efetivos dentro das organizações, o império da Lei, ainda que discorde dela.

É de bom alvitre ressaltar, que a maior parte dos críticos da meritocracia, são frustrados profissionalmente, que não deram certo como engrenagem de um sistema que exige a competência como regra. Políticas assistencialistas e ações afirmativas deveriam ser de caráter emergencial e estritamente focadas em nichos específicos, não como moeda eleitoral, criando uma nova versão do voto de cabresto.

Continuamos órfãos, ainda que contrários a muita coisa imposta pelo Estado, respeitamos a Constituição. Vamos nos sobressaindo dentro de um sistema sufocante, com impostos abusivos e burocracia capenga; ao utilizarmos padrões gerenciais de ponta, conseguimos resultados satisfatórios, ainda que tenhamos toda uma estrutura contrária à maximização de lucros.

O “satã” das esquerdas, nada mais é o que proporciona que elas mesmas sobrevivam hipocritamente demonizando o capital, que gera desenvolvimento e possibilita melhora na qualidade de vida da população.

Para finalizar, aos que insistem na tese do “menos pior”, vou utilizar de um exemplo esdrúxulo, mas que é bastante pertinente: suponha que temos em segundo turno como candidatos, Luiz Fernando da Costa e Marcos Willians Herbas Camacho, em quem você votaria?

Ps. Para os de parca memória, trata-se de Fernandinho Beira-Mar e o Marcola, líderes do Comando Vermelho e do PCC, respectivamente.

http://www.campogrande.news.com.br/canais/debates/view.php?id=5156

terça-feira, 9 de março de 2010

Entre vampiros e lobos


Afonso Vieira

Não, este texto nada tem a ver com a saga juvenil Crepúsculo. Refletindo recentemente sobre uns procedimentos descritos nas teorias administrativas, deparei-me com uma contradição dentro do meu ser: alguém ávido por trabalho, porém, apaixonado pela vida boêmia, pelos prazeres da noite. Às vezes fica difícil conciliar.

Sempre gostei de sair dando voltas a esmo pelas cidades que morei. Por vezes solitário, noutras com amigos. Por ser um tanto conservador nas atitudes, após muito circular acabava sempre pelos mesmos bares e arredores, raramente mudando de nicho. Sou o tipo de cliente fiel.

Os prazeres da noite são envolventes, muito atraentes, todo o jogo de sedução que o ambiente de um bar produz, remete-nos aos mais variados desfechos. Às vezes, trabalhar no dia seguinte chegava a ser extremamente penoso, não pela produtividade em si, mas até “pegar no tranco” demorava um pouco.

Dependendo da cidade, a prática de andar como um lobo solitário ficava comprometida, haja vista as opções proporcionadas. Nesses momentos de ócio noturno eu aproveitava para colocar as leituras em dia.

Dourados não oferece muito que se fazer para pessoas com meu gosto, mas tenho conseguido me divertir à contento. Em alguns dias, pego um livro, sento-me no bar e peço uma cerveja, isto feito me delicio com meus pensadores favoritos. Campo Grande já me agrada mais, tendo mais opções e proporcionando ambientes mais palatáveis, das cidades que conheci e morei, ela está no topo daquilo que enxergo como custo beneficio na qualidade de vida, ao menos para alguém com meu nível de exigência.

Hoje, para não comprometer o rendimento profissional, e sabendo que o organismo não aguenta mais os exageros da juventude, tenho equacionado meu tempo de forma a conseguir me divertir, sempre com o olho no relógio e outro no prazer encontrado. Sempre avaliando o “preço” da noitada.

É gratificante saborear a noite, às vezes escorado no balcão de um boteco, ora ouvindo uma música, ora tergiversando mentalmente por lugares inimagináveis.

Gosto da solidão, da liberdade, mas em certos casos, também faz falta uma companhia agradável – mas isso pode ser apenas consequência do momento. Numa análise mais profunda, libertários sempre penderão para a individualidade - salvo raríssimas exceções.

Ontem estava lembrando do “velho safado” Bukowski, e suas citações irônicas, não há como pensar em boemia e deixar o autor passar em branco.

Seja em locais de reputação estimada, seja em botecos fedorentos, bares tenebrosos ou elitizados, o verdadeiro boêmio se importa muito mais com a qualidade da bebida, do clima que lhe é proporcionado. De que adianta ar condicionado, belas mulheres se o atendimento é deprimente, a cerveja quente e música chinfrim? Em muitas situações, o bar do seu Zé da esquina é melhor destino do que a boate do playboy da vez.

Lobos e vampiros da noite preferem perambular, divagar e observar. Louvar a lua, a intimidade ou a coletividade, é mera consequência do estado de espírito do momento. Pouco importa se é a modinha da vez ou o cafofo da dona Maria. Importa é a satisfação pessoal, única e intransferível.

http://www.campogrande.news.com.br/canais/debates/view.php?id=5115