segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Utopia


Afonso Vieira

Imagine um mundo onde todos são iguais, todos satisfeitos e fartos. Não há criminalidade. Não há doenças. Não há divergências de espécie alguma. Todos vivem nos melhores dos confortos e possuem tudo que necessitam. Agora voltando ao mundo real, isso seria um saco, um tédio propriamente dito!

Primeiramente, o igualitarismo total só ocorreria se todos pensassem de forma única. Nós, indivíduos, não teríamos aspirações pessoais, somente coletivas. A natureza humana, com todas as suas imperfeições, não existiria. Ódio, raiva, cobiça, inveja e outros tantos sentimentos comuns no ente carnal, sequer passariam perto dessa sociedade.

Recordo-me de A revolução dos bichos, de George Orwell, onde os animais se rebelam e criam seu mundo “perfeito”. Passado o fervor da rebelião, começa a surgir a verdadeira face da natureza dos indivíduos, ou seja: todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros.

Na outra ponta, temos a sociedade de consumo perfeita, todos lucram, todos conseguem galgar os postos nas respectivas carreiras. Os luxos individuais são supridos sem delongas. Os empresários são sempre honestos, não há corruptos nem corruptores. Trabalhadores rendem o máximo e estão plenamente satisfeitos com suas condições de ofício. Praticamente não há leis e normas, o Estado se resume tanto que chega a parecer ausente. Pois é, mais uma vez, esqueceram de combinar com a razão, com a lógica e a inquietação inerente ao espírito humano.

Não há sociedade, forma de governo, político-econômica ou o que quer que o valha, perfeita. Infelizmente, ainda é muito difícil colocar isso na cabeça de dinossauros ultrapassados que leram meia dúzia de livros, escritos em contextos totalmente diferentes do atual, e que sempre vislumbraram algo intangível.

De nada adianta ficar no campo das idéias, sem vivência e desempenho prático. As ideologias caem por terra ao menor contato com o poder, isso é fato! O ser humano, talvez por carência intelectual e espiritual, sempre tende a crer em algo que julga ser “o bem maior”, mas não passa de um hipócrita ululante, que não consegue sustentar suas pregações.

É curioso verificar que as nações e sociedades culturalmente mais desenvolvidas, são justamente aquelas em que a liberdade e direitos fundamentais são mais preservados. Não há a necessidade de excesso de regulamentações, e as poucas existentes são devidamente cumpridas. Seus preceitos foram conseguidos após séculos de aprimoramento, sempre jogando no caminho do consenso, no equilíbrio.

Biltres fundamentalistas continuam a tratar política de Estado, como se fosse algo meramente partidário ou de governo específico – portam-se como torcedores de futebol. Em ano eleitoral, essa excrescência tende a se agravar. Houve um certo tempo em que o cidadão honrava sua palavra, esta já bastava. Hoje, nem com inúmeras evidências e provas, conseguimos dar exemplo de punição aos ordinários que saqueiam o erário – e eles estão em todas as esferas do poder: municipal, estadual ou federal; sejam de direita ou de esquerda - sabe-se lá o que isso significa hoje em dia.

Eu, como um defeituoso ser que sou, tenho uma utopia: o “ordem e progresso” de nossa bela bandeira serão cumpridos. Representantes públicos que não sabem de nada, assinam documentos sem ler, flagrados embolsando dinheiro, que montam esquemas de corrupção das formas diversas, todos, sem exceção, serão enquadrados exemplarmente! A população terá exemplos de honra, lealdade e probidade, pois isso será, com já dito, uma política de um Estado, democrático e de direito. Pena que isso não passe de, como já dito, uma nobre utopia . . .

http://www.campogrande.news.com.br/canais/debates/view.php?id=5012

domingo, 3 de janeiro de 2010

Entre palavras e idéias


Afonso Vieira

Há muito tempo atrás, Nietzsche escreveu a seguinte frase: “A força e a liberdade que surgem do vigor e da plenitude intelectual se manifestam através do ceticismo”, nada mais niilista e que expressa o que deveria ser o norte de todo filósofo. Oras, como teorizar eternamente possuindo amarras que limitem o pensamento e a visão? Afinal, segundo Oscar Wilde, “definir é limitar”.

Temos tido todo o tipo de patrulhamento quanto idéias e informações escritas, sejam na mídia ou na literatura. Não dá para expressar nada sem que haja um crivo de censura, de minorias, de políticos ou de governos. Imaginar que certas obras clássicas - de pensadores dos mais variados rincões - estariam nas prateleiras atuais das livrarias, acaba por ser algo impensável.

Eu, quando li Mein Kampf, de Adolf Hitler, li como uma obra histórica, que obrigatoriamente deveria ser lida por todos os historiadores e pessoas que tendem a discutir política/ideologia. Mas tenho plena certeza que ele jamais seria publicado nos dias atuais. O túmulo do fanatismo, de Voltaire, seguiria pela mesma linha, ao menos em países de maioria cristã; o que dizer de O anticristo, de Nietzsche? Já imaginaram as feministas de plantão lendo A metafísica do amor, de Schopenhauer?

Em discussões e fóruns, já li os mais variados argumentos e interpretações. Muitos enxergam racismo, preconceito e objeções em diversas obras tidas como clássicas, das mais variadas vertentes; nos padrões atuais, podem ser consideradas, mas temos que contextualizar a época e momento em que foram escritas. Iniciar uma leitura com uma pré-concepção é uma armadilha, pois já tendemos a ter juízo antes mesmo de se deliciar com os escribas. Muitos dos grandes pensadores, hoje, seriam escachados pelas suas idéias.

Temos, na atualidade, pouquíssimos filósofos de grande estatura. Creio que isso seja consequência da infinidade de amarras impostas pela sociedade atual - frise-se que entre os maiores censores, encontram-se supostos filósofos. Costumo dizer que poucas coisas me chocam, que onde alguns veem algo danoso, vejo aprendizado, cultura e outra versão.

Os que buscam a verdade, que tentam ser senhores da razão, tendem à limítrofe visão una. Não há verdade, há versões! Há a forma que cada indivíduo enxerga a respectiva situação. A primeira coisa a se fazer quando lhe veem com algo - que supostamente é o fato consumado -, é contestar! É na antítese, na discussão que se chega ao mais próximo do que é real.

Inicia-se o ano, jornais e blogueiros continuam sob censura. Supostos democratas e libertos continuam hipócritas e fazendo exatamente o oposto do que pregam. Uma infinidade de idealistas continuam limitados, dentro de mundicos e redomas, que criaram ou foram doutrinados.

Dentro de todo este contexto mundano, quem perde é somente a liberdade, seja individual ou coletiva. Quem perde são as mentes, definitivamente abertas, árduas por informações, por palavras e idéias.

http://www.campogrande.news.com.br/canais/debates/view.php?id=4979

http://www.douradosagora.com.br/not-view.php?not_id=272149

http://www.folhadedourados.com.br/view.php?cod=47612