terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Festas e reflexões


Afonso Vieira

Abro a primeira cerveja da noite desta segunda, 22 de dezembro, no mesmo momento em que começo a escrever este texto – repor as calorias após os 10 Km no Imaculada não é fácil. Não sou muito fã do natal, nunca fui, porém, acho válido como momento de reflexão. Bom, depois continuo, estão buzinando no portão.

Voltei, e faço questão de registrar isso no texto, iniciei o presente ensaio ainda nos desatinos da corrida diária, onde o pensamento vai longe, muito além da mera inspiração para escrever. Quando comecei a colocá-lo no papel, fui interrompido por um amigo, saímos pela “Golden City”, ruas cheias, nem todos os bares abertos e as mesmas figuras carimbadas nos botecos.

Voltando ao assunto de festas de fim de ano, quem me conhece sabe que sou praticamente ateu, conheço boa parte das igrejas de freqüentá-las, como discordei de quase tudo que ali é pregado, restou-me o agnosticismo. Não acredito em nada que não tenha inicio no mérito pessoal, trabalho e persistência. O natal, data de celebração cristã, serve para refletir, para muitos é momento de compaixão, arrependimento e aflorar bons fluídos. Vejo como um acerto de contas com nossa consciência, de rever nosso comportamento, aprendendo com os erros e aprimorando os acertos. É um momento também de muita hipocrisia por parte da sociedade, como se todas as ações incorretas ou omissões fossem justificadas ou enterradas em uma única data, simplesmente com um presente. Não, não é, o caráter se mede diariamente, a cada ato, correção e reconhecimento dos propósitos.

O ano que se encerra foi muito produtivo para minha pessoa, de conquistas pessoais e profissionais, com algumas decepções – o que faz parte do jogo da vida.

Politicamente falando, vejo que ainda temos muito que melhorar, o país cresceu no ranking da corrupção, a desfaçatez e o mau-caratismo peculiar dos políticos, que em tempo de crise tentam colocar milhares de inúteis nas câmaras municipais da nação, continua em combate. Algumas ações afirmativas e de cunho “social”, poderão acarretar uma piora considerável, ao contrário que alardeiam os defensores do “frascos e comprimidos”.

Economicamente, estávamos relativamente bem, mas ao contrário que uma besta propagou, a crise mundial é inevitável, e não tem nada de marola. Devido a ações do Presidente do Banco Central - que sempre foi alvo de críticas por parte de integrantes do primeiro escalão governamental – estamos um tanto menos suscetíveis a suas conseqüências.

Poderia escrever um artigo mais formal, com intuito de publicação em algum jornal, mas prefiro agregar tudo em um só, afinal, estou filosofando sobre tudo em uma espécie de balanço geral.

No quesito pessoal, estou plenamente feliz em ter retornado para minha terra amada, após 13 anos fora. Cresci intelectualmente, profissionalmente e com os pés no chão, mais do que nunca. Pretendo ler muito mais no ano vindouro, crescer mais ainda e permanecer satisfeito. Paixões foram, vieram e continuarão aparecendo, mas meu flerte com a solidão continua um elo firme, um libertário tem seus dogmas pessoais, ainda que todos os conceitos sejam relativos e passíveis de revisão.

A vantagem de ter terminado esta crônica somente hoje, terça-feira, foi que tive a oportunidade de ver um vídeo postado por um colega de comunidade do orkut, como não estou conseguindo postá-lo, procure no youtube pelo vídeo 'Playing For Change: Song Around the World "Stand By Me"', é excelente! Não deixe de conferir por completo.

Como estou fechando a conta do ano que finda, aproveito mais uma vez para cumprimentar todos meus amigos - que sabem perfeitamente que eu não os saúdo apenas no fim do ano - eu brindo com álcool todos os dias possíveis a grande quantidade de pessoas que posso dizer verdadeiras. Neste ponto, creio que sou um privilegiado como poucos.

Fica registrado meu muito obrigado pelas companhias; se errei e ainda não o reparei, fica o pedido de desculpas - que deveria ter ocorrido no ato - anote-se. Faço votos que todos sejamos melhores em 2009, que nosso convívio seja ainda mais prazeroso e saudável. Boas festas, um excelente ano novo!

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Mutantes


Afonso Vieira


Repensando sobre nossas vidas, comecei a meditar sobre nossa capacidade de adaptação. De como nós - seres humanos – nos portamos dentro das adversidades mundanas. Como sou alguém com uma considerável bagagem, locupletei-me por horas sobre ocupações, ócio, situações e ambientes.

Muitas pessoas são radicais em períodos da vida, talvez devido a ignorância relativa a idade, ou ainda, rebeldia sem causa ou opinião extrema sobre determinado assunto ou situação. Quem nunca se irritou com uma música, com o comportamento de outrem, com a fumaça do cigarro alheio, até mesmo com coisas das mais banais? Notem que as atitudes variam de acordo com o momento ou circunstância. Todos temos nossas limitações, propensões e ojerizas, mas somos mutantes natos; basta abrir a mente e usufruir do maravilhoso mundo imaginário.

Muitos dizem que filosofar é se desprender de dogmas, de preceitos e enxergar tudo por uma ótima diferente, até mesmo na forma de uma viagem alucinógena. Proponho que façamos isso quando confrontados com ocasiões que nos causem aversão. Oras, aquele trabalho chato, aquela festa tediosa ou aquela pessoa desagradável pode se tornar um ótimo passatempo, pode vir a ser prazeroso. Até mesmo a cerimônia mais enfadonha pode produzir bons frutos.

Quem já leu algum livro sobre teorias administrativas sabe perfeitamente que a característica de um gestor é justamente se adaptar ao meio que o cerca, a situação vigente e ante isto, conseguir resultados satisfatórios. Peter Drucker e Tom Peters eternizaram seus ensinamentos em livros, artigos e entrevistas. Deveríamos ler mais esses “gurus”, não como obras de teóricos das organizações, mas para que essas idéias nos ajudem também com o cotidiano, com afazeres corriqueiros, de modo a tornar a vida mais alegre.

É engraçado quando nos deparamos com obstáculos, eu mesmo, consigo resolver facilmente diversos problemas organizacionais, financeiros e burocráticos, mas quando parte para o lado trivial da vida particular, literalmente, “colo as placas”. O excesso de responsabilidade, de perfeccionismo, de racionalidade, pode fazer com que relute demais em atitudes que poderiam ser melhor aproveitadas, às vezes o medo de cometer um ato falho pode ser exatamente o maior erro.

O que fazer quando se é apreciador de rock e se depara com um ambiente hostil, do tipo sertanejo? Oras, se for radical, vire as costas e vá embora dormir, ou finja que a música não existe e aproveite a cerveja, as companhias e procure tirar ganho. Se aquela pessoa chata e inconveniente está desagradando, seja inteligente, faça com que certos comentários logrem umas risadas, procure entrar no ritmo do papo e tente mudar o rumo da prosa, ou ainda, tente sacar algo produtivo, se nada adiantar, mude de mesa.

O fato é, o mundo real não distingue credo, gosto ou preferência, é nu e cru. Cabe a cada um saber extrair o melhor para si; podem aprisionar nossos corpos na ditadura do status quo, mas jamais nossas mentes. Eu, como libertário, creio que preciso - às vezes - ser um pouco menos racional, recomendo cautela sempre, mas não excessiva; resta saber agora quando eu darei o exemplo a ser seguido. Como diz a letra da música:

“O que hoje somos,não se compara ao que fomos. Ao que fomos antes, quando éramos bem mais mutantes” - Bêbados Habilidosos

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Idas e vindas


Afonso Vieira


Existem momentos em nossa vida que precisamos tomar importantes decisões, muitas das vezes isso é fruto de situações alheias aos nossos interesses, outras, de caráter estritamente particular. Erramos e acertamos em tantas oportunidades, porém, a satisfação pessoal deve ser o objetivo final.

Talvez, devido ao caráter liberto de minha personalidade, tenha ido e vindo para tantas localidades, cidades e estados de meu país. Acredito que o espírito rebelde - um tanto aventureiro - tenha norteado algumas das minhas decisões, outras foram na loucura do momento, da natureza infante.

Passados praticamente treze anos após minha primeira partida, retorno ao local que sempre admirei, que me identifiquei e escolhi para ser minha terra preferida. Digo que aprendi muito nessa jornada, evoluí tanto intelectual como profissionalmente a um nível que não sei se atingiria permanecendo na terra dos guaicurus.

A cada cidade, cada lugar que passei, pode ter certeza que ficou um pouco de mim, um pouco da amizade que me é tão cara. Às vezes me decepcionei, ou o fiz com outrem, mas garanto que nunca tive esta intenção ou guardo rancor de quem quer que seja. Minhas amizades permanecem praticamente intactas, ou muito mais fortes que antes. Em cada ente municipal que residi, criei raízes afetivas que continuam firmes e fortes em minha memória, apesar da distância.

Não sei ainda, nem tentei mensurar o preço que paguei até hoje pela minha busca pela liberdade - talvez tenha sido alta demais. Só sei que redefini minhas prioridades, se cometi erros que permanecem, tentarei corrigi-los ou compensá-los. Continuo de certa forma avesso a qualquer coisa que cerceie meus ideais, mas já repensei muita coisa, talvez quebre paradigmas e dogmas pessoais, por enquanto, continuo um ermitão moderno - extremamente feliz com os rumos que agora abracei.

Um grande fato que continuo defendendo: não existem valores absolutos nem verdades universais. Talvez minha vida de andarilho, sem apego e sem rumo, possa estar chegando a outro patamar. Provavelmente estou diante de novas conquistas, novos objetivos e ideais, cabe definir o preço que pretendo pagar e quão alto chegar. Que venham os obstáculos e barreiras, porque o simples fato de ter sido novamente muito bem acolhido - rever os entes amados - já me estimulou, mãos à obra!

Ps. ando um tanto afastado da internet devido ao serviço 3G, que até agora não funcionou corretamente.