domingo, 28 de outubro de 2007

Uma música para uma tarde de domingo chuvosa

Ceticismo ideológico


Afonso Vieira

Passados praticamente 18 anos da queda do Muro de Berlim, ainda surpreende
que certas correntes ideológicas existam com tamanha quantidade de seguidores. Este é um fato bastante identificado na América Latina dos dias atuais.

A diversidade de opiniões e culturas, juntamente com a tolerância e compreensão às suas formas de expressão, devem ser busca constante de uma sociedade civilizada; porém nota-se que há muito proselitismo pregado em locais que deveriam respeitar e prezar pela pluralidade.

Conservadores cristãos tendem à radicalização das interpretações descritas na Bíblia, pregando muitas vezes defesas a atos que não respeitam as demais opiniões. Há correntes que beiram a uma verdadeira guerra santa, com um totalitarismo permeando à Santa Inquisição.

Comunistas radicalizam tanto seus discursos que se tornam verdadeiros caricatos; assistir ao horário político do PCB virou obrigatoriedade para quem deseja proferir umas boas gargalhadas.

Liberais beiram a estupidez em defesa do “Deus” Mercado e sua “americanofilia"; ignoram o contexto histórico e as situações práticas das diversas situações.

Socialistas conseguem ter a pachorra de defender o projeto de ditador Hugo Chavez e o Ditador Fidel Castro. Defendem utopicamente idéias impraticáveis e simplesmente desprezam o indivíduo.

A existência das variadas correntes é democrática; a diversidade de opiniões tende a contribuir para o estabelecimento de regras e atitudes que melhorem a convivência e busquem uma sociedade mais justa. Entretanto, o radicalismo que uma minoria extremista adota chega a ser preocupante.

Não existe sistema perfeito, muito menos governo ou empresa que adote apenas uma linha de pensamento. As organizações que dão certo e prosperam, são – justamente - as que conseguem filtrar as coisas boas e expurgar as ruins. A necessidade de aprimoramento constante é condição imperativa - o único ensinamento administrativo absoluto.

Mesmo com tantos exemplos práticos de fracassos, vemos as viúvas da ideologia adotando ao pé da letra o que teóricos escreveram há muito tempo e que já tem mais do que provado sua inaplicabilidade. O conhecimento da teoria é importante, mas ninguém é infalível e senhor da verdade - não se pode levar um único pensador ou linha de pensamento como verdade universal.

Sindicatos tiveram importância tremenda para as relações trabalhistas, só que hoje nada mais são que cabides de pelegos e pseudo-políticos. A Igreja - em nome de seus dogmas - cometeu atrocidades históricas, mas hoje não se pode negar sua importância na preservação e proliferação dos valores morais. As idéias de Adam Smith e Karl Marx serviram para o aprimoramento de toda a sociedade; seu contraponto foi, é e será sempre importante.

Devemos estudar o passado, saber interpretar as idéias – coisa rara em nossos “formadores de opinião” - e verificar se ainda possuem aplicabilidade. Temos que ter consciência que podemos estar errados, admitir as falhas e corrigi-las.

Nenhuma pessoa ou idéia é a personificação das virtudes e muito menos o poço dos defeitos; todos têm algo a ensinar e os sábios, a aprender. Teorias são importantes para embasamento, mas nada supera a prática. Está faltando visão crítica e mais ceticismo nos ideólogos de plantão.

"Aprender é a única coisa que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende." (Leonardo da Vinci)

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http://www.portalgrito.com.br/arquivol/arquivol.php?id=63

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Aumento do número de vereadores


Afonso Vieira

Ao ler a edição de O JORNAL de quarta-feira, 24 de outubro de 2007, me deparo com a pérola: “o aumento do número de vereadores não causará nenhum gasto a mais do que o já existente”, na coluna de Diego Soares. Desculpem-me, mas isso é uma ofensa à inteligência alheia.

Enquanto vemos uma verdadeira briga no plano federal para a manutenção de tributos que já deveriam ter sido extintos, o referido colunista prega o aumento de vereadores, que automaticamente acarretará o aumento de despesas destinadas ao legislativo municipal. Mesmo que tal medida não onere ainda mais o orçamento da Prefeitura Municipal (?), o recurso deverá sair de outro local. Será que podemos nos dar a esse luxo? É claro que não, com a saúde e educação em condições precárias - muito longe do ideal -, um formador de opinião deveria estar clamando por melhoras nesses setores, não no elefante branco.

Qual a relevância de um vereador? Sinceramente, a mesma de um deputado estadual, ou seja, praticamente nula. Já está mais do que provado – pelos exemplos nacionais, estaduais e municipais – que os nossos políticos, na imensa maioria, não estão preocupados com os interesses da população. Políticos são eleitos para representar seus eleitores e defender o interesse público, na prática, preocupam-se única e exclusivamente nas finanças pessoais, muitas vezes por formas ilícitas.

Não há colocação plausível que justifique o aumento de parlamentares, nem mesmo a suposta representatividade. Praticamente todas as ações realizadas pela Câmara Municipal, poderiam ser feitas e substituídas por secretariados eficientes e um modelo de gestão adequado. Aprovar nomes de ruas e autorizar a realização de festas populares, não justifica. Fiscalizar as ações do executivo, seria muito mais eficaz com uma auditoria composta de pessoas qualificadas e técnicas.

O curioso é que só vemos vereadores e pretensos candidatos defendendo um absurdo desses. Ninguém quer largar a “boquinha”, e outros pretendem mamar também. Jamais vi um cidadão comum e sem amarras partidárias, com um discurso semelhante.

O Estado gasta muito, e gasta mal. Um exemplo é a CPMF, criada para ser provisória - demagogicamente combatida outrora pelo PT e hoje pelo PSDB - está se tornando permanente. Eu até prefiro pagar a CPMF, que serve de instrumento para fiscalizar fraudadores do fisco, mas que seja em substituição a outro imposto. Temos a CIDE para manutenir estradas, mesmo assim teremos que pagar pedágios devido à última privatização do governo Lula.

Para embasar melhor meu pensamento, tentei acessar os dados das prestações de contas do município, mas os relatórios estão indisponíveis para consulta, provavelmente por falha de carregamento ou na configuração dos sítios eletrônicos da Prefeitura e da Câmara Municipal de Tangará da Serra.

Infelizmente, em um país onde o Governo Federal defende o aumento da máquina estatal, que já se demonstrou mais do que ineficiente em gerir recursos, não é de surpreender que um militante do PSOL, pretenso candidato a vereador, advogue em causa própria.

*Publicado em O JORNAL de 25 de outubro de 2007.

domingo, 21 de outubro de 2007

Meus amigos socialistas

Afonso Vieira

Em recente artigo, expus minha visão sobre a realidade do nosso sistema econômico e social; para minha felicidade, um grande amigo visitou meu blog e colocou sua posição - contrária à minha. Devido a alguns acontecimentos que presenciei esta semana, escrevo o presente texto.

Como freqüentador assíduo de debates na Internet, me chama a atenção uma certa intolerância praticada pelos debatedores. Até mesmo os chamados “liberais” – que deveriam defender a liberdade acima de tudo - portam-se de forma autoritária.

Costumo dizer que um debate permeado por argumentos bem embasados, não possui vencedores, e sim aprendizes. Dificilmente mudaremos a opinião de alguém que realmente acredita no que defende, também podemos aprimorar nosso conhecimento - mas raramente alteraremos completamente o próprio juízo.

Ambientes virtuais sofrem a imposição das regras de seus moderadores, e estes deveriam prezar pela pluralidade de idéias. Na comunidade do orkut, Apoiamos o Presidente Lula PT, qualquer opinião contrária ou contestatória ao chefe da nação, já é excluída e o postulante expulso; o curioso é que na descrição da comunidade consta: “democracia e liberdade com responsabilidade” – acredito que eles tenham um conceito distorcido dessas palavras. Isso não é particularidade daquele fórum, é prática corriqueira em diversos locais.

Chego a pensar como devem ser essas pessoas na vida real, será que se portam com tamanho fanatismo? Oras, sem o contraditório, dificilmente chegaremos a uma opinião que mereça respeito. Até mesmo nas democracias mais desenvolvidas, há o papel primordial de uma oposição forte, exatamente para contestar certos atos e chegar a um resultado que agrade a todos.

Tenho amigos socialistas, comunistas, liberais, conservadores e de todo tipo que possamos encontrar, não é por causa de sua visão política que irei tratá-lo melhor ou pior.

Alguns blogs deixam claras suas posições, que irão censurar comentários ofensivos ou com o qual não concordam; neste ponto entra Reinaldo Azevedo - onde jamais tive qualquer colocação recusada. No fórum de Paulo Henrique Amorim, minhas únicas duas colocações não foram ao ar, e posso afirmar que não continham nada de ofensivo, apenas mostrava que ele estava errado em seu texto. Um blog bem democrático é o de Luis Nassif, apesar de não concordar com a maioria do que ali é postado, a pluralidade de idéias é respeitada a contento.

Ao preservarmos opiniões divergentes - evitando o proselitismo e deixando o pensamento fluir - chegamos a um aprimoramento saudável; é mais ou menos como exercitar nossa meditação diária, no nosso cotidiano - onde convivemos com pessoas de credos, cores, classes sociais diferentes, e podemos ter a certeza de que aprendemos sempre, até mesmo com o menos erudito dos seres.

Espero que cada vez mais eu tenha encontros com opositores de idéias; pode ter certeza que o calor do debate é facilmente refrescado com a cerveja do bar, onde daremos risadas e faremos piadas, cada qual com sua visão, sem ofensas e com a certeza de que só temos a ganhar.

“Desaprovo o que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo” - Evelyn Hall.

http://www.portalgrito.com.br/arquivol/arquivol.php?id=62

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Discursos bonitos, mas . . .


Afonso Vieira

Muito tenho lido em mídia impressa, artigos exaltando virtudes humanas e sempre condenando o apego aos bens materiais. Discursos bonitos - que levam à reflexão e que são usados até mesmo para justificar certos erros e fracassos - porém, muito longe da realidade.

Já virou clichê no Brasil e até mesmo na maior parte do mundo que todo o fracasso é culpa do capitalismo, da elite, do imperialismo, e por ai vai. Há alhos e bugalhos.

Primeiramente, a ampla maioria das pessoas é individualista antes de ser coletivista; segundo, os culpados por fracassos pessoais normalmente somos nós mesmos e não outrem; terceiro, não há pobre ou rico isento de virtudes e defeitos, o percentual de criminosos não é muito diferente entre a classe mais abastada e os menos favorecidos; quarto, as políticas de outros países nem sempre refletem a exatidão das críticas propostas e nem são de todo ruins, apenas procuram preservar primeiramente seus interesses antes de abrir a guarda aos demais - coisa, aliás, que é pratica corriqueira da maioria dos governos; quinto e último, achar um culpado para as próprias mazelas é comumente usado por incompetentes, pois é muito mais fácil atribuir um problema à outra pessoa do que solucioná-lo e assumir responsabilidades.

Tirar juízo por amostras pequenas ou posições equivocadas de alguns é totalmente errado, já que nos induz ao pensamento medíocre. Nesse culto ao fracassado, ao coitado, temos palavras bonitas e destoantes do que é real.

Será que não está mais do que na hora de pregarmos que a Educação é a única forma de subirmos na vida? Nossos intelectuais - os que são taxados por esta alcunha - são, em sua maioria, exemplos de pessoas que vivem de pregar utopias e que estão longe da realidade do competitivo mercado de trabalho.

Em vez de pregarmos a abolição aos bens de consumo, por que não ensinamos o caminho a ser seguido para conquistarmos nossas aspirações? O mais curioso é que a maioria dos críticos da sociedade consumista também luta por uma moradia de qualidade em um bairro nobre; lutam por comprar um carro bom, uma roupa de grife e se esbaldam usufruindo do melhor que o capitalismo de mercado lhes fornece.

Nossa própria legislação é uma aberração; assim como é cultuado pelas massas, os próprios despachos de ações trabalhistas mostram verdadeiras excrescências. Criou-se uma imagem de que todo empresário é ruim, que sempre explora o trabalhador. Há muita falsidade no perfil alardeado, a maioria dos empregadores não é um monstro sugador, assim como parte dos funcionários não é exemplo de trabalhador.

Não vim fazer apologia a um sistema econômico, nem defender uma concorrência desenfreada ou mesmo justificar erros cometidos. Escrevo o texto simplesmente porque acredito que está faltando uma dose de realidade, os pés devem permanecer no chão e os passos dados do tamanho que as pernas comportam.

A vida é uma batalha constante, o mundo é conquistado pelos mais fortes e mais competentes, não existe e nunca vai existir sociedade sem divisão de classes sociais; o que existe, sim, são sociedades mais justas e dignas, que só são alcançadas com pessoas qualificadas e preparadas, onde se luta por um trabalho melhor e não uma bolsa assistencial.

Preguem a realidade, lutem por empregos e salários dignos - conquistados com o próprio suor - enxerguem os próprios defeitos e busquem corrigi-los. Jamais esperem que as coisas caiam dos céus, corram atrás de seus objetivos, você - como indivíduo - e toda a sociedade só têm a ganhar.

Ser bem sucedido não é crime, pelo contrário, deveria ser a aspiração e objetivo de todos.

*Quadro Ufognose de Aniano Henrique

**Publicado em O JORNAL, de 15 de outubro de 2007.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

A História e suas versões

Afonso Vieira


Esta semana a Revista Veja, em sua edição 2028, trouxe uma matéria de capa que reduz o mito do guerrilheiro argentino, Ernesto Che Guevara de la Serna. Em que pese as diferenças sempre gritantes entre o que efetivamente aconteceu e a romantização de qualquer personagem histórico, é de se espantar com a publicação, ainda mais como matéria de capa.

De fato, alguém com senso crítico apurado dificilmente acredita na história oficial que nos é contada, ao menos não acredita ao pé da letra. O jornalista Ali Kamel, do jornal O Globo, já vem denunciando a manipulação dos livros didáticos adotados pelos governos brasileiros nos últimos tempos.

Primeiramente chamo a atenção para uma tendência natural dentro do nicho dos professores de História – principalmente na América Latina -, uma maioria considerável é de esquerda, e dentro dessa amostragem, poucos, realmente muito poucos aceitam contestações sobre o que eles acham que aconteceu no percalço da humanidade.

Segundo, com a publicação da matéria, que denigre um dos mais cultuados mitos já criados pela esquerda, as manifestações nas comunidades virtuais pipocaram. Os militantes que encarnam soberbamente o Manual do Perfeito Idiota Latino-americano, já organizavam manifestações para queimar a revista e procuravam meios para boicotarem o veículo. Desmentir a publicação com dados e provas, não foi cogitado.

Terceiro, é de um espanto imenso que a revista desmistificasse Che, já que em sua edição 1503, de 09.07.1997, em reportagem assinada por Dorrit Harazim, o especial praticamente exaltava o “mito”. Formas totalmente distintas de se abordar um mesmo tema, e praticamente opostas.

Mas o fato que mais chama atenção nesse imbróglio, é exatamente o dado histórico contra a desvirtuação feita por quem conta a História. Acreditar que o guerrilheiro era a encarnação do super-homem, um poço de virtudes e que praticamente estava acima do bem e do mal, é ingenuidade primária, da mesma forma que não se pode acreditar que alguém que não tenha a menor afeição pela figura, possa emitir parecer totalmente confiável sobre o personagem.

Vamos aos fatos, a maior obra de Ernesto Guevara culminou em uma ditadura sangrenta que perdura até hoje. Ele possuía suas qualidades como combatente, ninguém sobreviveria tanto tempo em condições adversas e totalmente desfavoráveis, se não tivesse certo domínio militar. Aceitar uma reportagem contrária ao que você acredita, é sinal de maturidade - poder queimar seus exemplares é uma atitude aceitável, coisas da democracia -, mas não pense que poderia fazer o mesmo com um exemplar do Granma em uma praça de Havana.

Aos admiradores de Che, resta buscar fatos e dados concretos que desmintam a reportagem, mas o façam com coerência e sem paixão, esta é inimiga da razão, não se contradigam.

Particularmente, nunca possuí o menor sentimento de afeto a alguém que lutou para implantar um regime totalitário. Liberdade é algo com que não costumo brincar.

Parabenizo a revista por mostrar uma outra face da história, até então inédita na grande mídia brasileira, quem tem a ganhar é a História - com "H" maiúsculo - e principalmente, a verdade.