terça-feira, 19 de agosto de 2008

Sobre nossa educação


Afonso Vieira

Muito oportuna a abordagem que vem sendo feita sobre a educação brasileira por parte de toda a imprensa. Tenho lido bastante a respeito em diversos jornais, blogs e - até mesmo - a capa da maior revista de circulação nacional da corrente semana trata do tema. Pululam opiniões, alertas e sugestões das mais variadas; mas e os professores, têm lido?

Já passou da hora de darmos uma guinada radical em torno do nosso falido sistema educacional. Costumo dizer que sem um investimento maciço no sistema de base, de nada adianta o governo investir milhões em educação superior - mas é justamente essa que angaria votos, infelizmente - já que os acadêmicos chegam em uma universidade sem saber interpretar um único texto.

Notem que, historicamente falando, todos os países que se desenvolveram consideravelmente investiram pesado em educação. Temos diversos exemplos, posso citar o Japão e a Coréia do Sul para não me alongar. Enquanto isso, o Brasil que na década de 60 investia apenas 2% do PIB, terminou o governo militar com míseros 4%, e segundo consta, continua no mesmo patamar.

É deprimente o estado constatado pela revista Veja, onde se demonstram claros exemplos de proselitismo ideológico. Professores que estão mais preocupados em doutrinar alunos a ensinar o conteúdo programático das disciplinas. Isso é fato em nosso Brasil; o próprio curso de Pedagogia, em sua base “humanística”, passa aos acadêmicos praticamente uma única visão, a de esquerda. Oras, o ensino superior deve aprimorar o senso crítico; se a abordagem é somente de crítica ao sistema vigente - e não mostra o outro lado - como teremos profissionais qualificados e condizentes com a realidade do mercado de trabalho?

Recentemente participei de um curso sobre política onde estavam diversos docentes de ensino fundamental e médio; em certa oportunidade, uma professora reclamou que os pais haviam criticado sua postura em sala de aula porque, segundo ela, quis estimular a consciência política nos educandos. Boa coisa não deve ter feito, pois como ela mesma disse: “chegaram a me chamar de petista”. Fato lamentável!

O mundo evolui rapidamente, quem não investir na formação cultural e profissional de seus cidadãos, tende a ficar para trás. Isso é a realidade nua e crua. Precisamos repensar nossos métodos, parar de criticar países e sistemas e começar a agir. O ofício de ensinar é nobre, desde que feito com profissionalismo e dedicação. Não devemos desviar o foco, e sim, reforçá-lo!

Uma educação básica de qualidade resultará em acadêmicos críticos, exigentes e cultos, o que - em conseqüência - trará profissionais preparados para o mercado de trabalho, gerando maior eficiência nas organizações e melhoras para toda a sociedade.

Isso somente se dará quando os profissionais da educação se voltarem para o aprimoramento constante, dedicação e compromisso com a qualidade no ensino; um bom começo seria na preservação do vernáculo, que constantemente é assassinado por nossos “mestres”, tanto na escrita como na oratória. Afinal, como já dizia Roberto Campos: “o mundo não será salvo pelos caridosos, mas pelos eficientes”.
Revista Imagem, Edição 10, agosto/setembro de 2008

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O assassinato da palavra


Afonso Vieira

Houve um tempo, não muito distante, que a palavra de um homem valia mais que qualquer documento escrito, ao menos foi com esses valores que cresci, fui educado e presenciei diversas situações durante minha curta existência.
Tenho certeza que muitos já ouviram o bordão “dou minha palavra”. Sim, uma pessoa honrada, quando assume um compromisso, cumpre! Com o esfacelamento atual de nossas instituições no quesito moral, acredito que a situação tende a se agravar ainda mais.
Já presenciei até mesmo cenas de violência, onde os envolvidos estavam a defender suas afirmações. Particularmente, ao ser acusado de uma falsidade, iria até as últimas conseqüências em busca da realidade.
Institucionalizou-se a mentira: ministros de Estado, autoridades nos mais variados cargos e até mesmo nossa recente história é deturpada. Nossas Leis protegem os falsos, dando-lhes o direito de permanecer calado, mesmo com inúmeras evidências de seus descalabros. Nem mesmo documentos assinados, com exames grafológicos atestando sua veracidade valem – falta óleo de peroba para tanta desfaçatez!
No convívio diário, não é raro o descumprimento de tratados orais. Quantas vezes já deixamos de comparecer a eventos marcados, em que assumimos claramente a presença? Distorcer o que foi dito é comum. Não temos nem o cuidado de comunicar - seja por telefone, correio eletrônico ou correspondência postal - nossa falta.
A preocupação chegou a tal ponto, que boa parte das organizações não mais aceitam apenas documentos escritos, há a necessidade de reconhecimento em cartório.
As pessoas tendem a induzir os demais ao comportamento errôneo, solicitando que participem de suas mentiras, acobertando seus atos. Muitos fogem da responsabilidade, delegando a “maçã podre” a terceiros, ou ainda, simplesmente ignorando a outra parte, como se somente isso solucionasse o problema. Não enxergam que só adiam o inevitável.
Posso estar sendo um tanto quanto conservador, ou mesmo tradicionalista. Mas o fato é que corrói ver que estamos tendo que criar um excesso de normas, leis e padrões de conduta - que seriam totalmente dispensáveis-, pelo simples fato de que ninguém mais dá valor à palavra. Ao menos tenho certeza e coloco a cabeça tranqüilamente no travesseiro, ciente que minha parte tenho feito. Isso é mera questão de respeito com o indivíduo que, ao mentir para outrem, está automaticamente enganado a si próprio.
Iludem-se os filhos, amigos e cônjuges. Autoridades mentem visando galgar postos em suas carreiras, políticos já aboliram a boa-fé de seus dicionários.
Eu ainda fico com o norte-americano Henry David Thoreau: "antes que amor, que dinheiro, que fama, conceda-me a verdade”.
Tragicamente, poucos, muito poucos ainda honram a palavra. Ceticamente falando, creio que faço parte de uma raça em extinção.