segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Inspiração


Afonso Vieira


Sento-me em frente ao computador com a intenção de ler ou escrever algo, paira a dúvida sobre a inspiração que não vem há dias. Sempre admirei a capacidade criativa dos escritores e a erudição dos cultos, mas o que os move? Qual o bálsamo de sua produção? O atrativo do romance é a ficção, a realidade, a filosofia?

Para ler um livro ou escrever uma crônica - ao contrário do que muitos pensam - não basta sentar e começar; dependendo da complexidade da trama ou do nível intelectual, é necessário um envolvimento maior, o que também engloba o poder de concentração, um maior aprofundamento no tema proposto e entusiasmo do executor.

Consegui alguns exemplares de livros que há tempos buscava, aos poucos irei devorá-los, porém, as tarefas do cotidiano e afazeres mais urgentes podem comprometer as metas que costumo estabelecer. Livros filosóficos, polêmicos e baseados em fatos reais me atraem muito mais que histórias de amor ou diálogos monótonos que viram best sellers – até hoje não consigo entender o sucesso de Quando Nietzche chorou.

Os escritos sobre política, economia e educação andam um tanto fora dos pensamentos. Ao ler os clippings diários e as intermináveis discussões sobre a guerra no Oriente Médio, o novo “messias” mundial, Barack Obama e os resultados da crise, vejo que praticamente tudo não passa de repetições toscas e distorcidas de clichês já eternizados. Aprecio quem o faça sem bônus financeiro, já que a monotonia é gritante, assim como a boçalidade da maior parte dos articulistas.

Não tenho o hábito de ler ficções sobre amor, suas tragédias e eternos conflitos. São raríssimos os casos em que não me arrependi de folhear. Fascina-me somente a imaginação dos escribas, que enxergo como eternos apaixonados. Creio a dificuldade em apreciar tais obras advém da própria incapacidade de falar abertamente sobre o tema ou ao fato de relevar sua importância na vida pessoal, o que tem muito mais a ver com a própria personalidade.

As obras filosóficas, estas sim, um emaranhado de pensamentos e divagações que proporcionam ótimos momentos. Às vezes chego a pensar que a tergiversação - que acaba resultando em algo maravilhoso - não poderia ter sido redigida por uma mente sã, não nos moldes de um cidadão normal. Quando se abre um livro e aquele parágrafo necessita de duas ou três vezes de interpretação, não é inaptidão, e sim, sincronizar com a ótica proposta. O prazer é ainda maior quando nos vemos na pele do inventor em perfeita sintonia, como se os manuscritos nos pertencessem, é embriagante!

Ler, assim como escrever, é algo que só tem a agregar à pessoa que o faça. A leitura de um bom texto jamais fará mal a quem aprecia. Os escritos, quando responsáveis, devidamente embasados e amparados, tendem a eternizar e glorificar autor.

A falta de indignação com a realidade pode ser fruto da própria pasmaceira atual, uma descrença ou uma dose grande de ceticismo. Aguardemos a inspiração, mesmo que seja uma imensa dose imaginária de elucubrações no universo das idéias.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Leitura, um ótimo divertimento


Afonso Vieira

Entristece-me muito quando leio que - mais uma vez - a maior autoridade da nação, praticamente se vangloriando da própria ignorância, dizendo que não lê, não se informa e ainda critica a imprensa. Oras, ao contrário do que o presidente diz, a leitura é um ótimo divertimento, um dos caminhos para sairmos do ostracismo e alçarmos a um nível intelectual mais elevado.

São posições como esta que um chefe de Estado deveria guardar para si, pois ele, acima de tudo, é uma instituição e não mero amontoado de carne, osso e ideologia. Esse simplismo começa a cheirar puro marketing político, já que sua aprovação sobe a cada sandice proferida, retratando que a população - com uma parcela vergonhosamente grande de analfabetos funcionais - é o retrato do desconhecimento, do fracasso da nossa educação.

Não vim até aqui falar de política, mas sim, divagar sobre os prazeres da leitura. Neste último fim de semana resolvi ficar em casa, em pleno sábado à noite; a vida tumultuada com compromissos sociais nos últimos dias, levaram-me a decidir pelo isolamento de meu quarto. Sem maiores rodeios abri o e-book de um livro de Mario Vargas Llosa, Guerra do fim do mundo, uma história sobre a guerra de Canudos descrita por um peruano – com uma riqueza de detalhes que me causou inveja por ter morado na região e não conhecê-la tão minuciosamente.

O gosto pela leitura deveria ser incentivado em todas as escolas, pelos nossos educadores e com avaliações sobre os títulos adotados, desde os primeiros anos de ensino escolar.

Dificilmente um filme sai melhor que a obra escrita, o estímulo à nossa imaginação é formidável. Fantasiar as ruas de Salvador, o interior sofrido do Nordeste, ou, muitas vezes, locais desconhecidos, é um ofício saudável e excitante!

Em alguns estudos que li, foi dito que o hábito de ler tem maior influência quando vindo de dentro do próprio lar, o que é algo um tanto quanto óbvio. Mas penso que os docentes deveriam - cada vez mais – pregar esta prática em sala de aula, até mesmo com trabalhos extra-classe. Infelizmente, em muitos casos, os próprios mestres não têm em sua rotina essa nobre particularidade.

Fico imaginando essas mentes brilhantes, que produzem obras maravilhosas, como conseguem tamanha inspiração. Invejo sua erudição, sua inteligência, a capacidade de inventar, fantasiar, criar, até mesmo filosofar. Temos bons escritores no Brasil, mas ainda estão longe da qualidade de seus pares mundo afora. Arrisco a dizer que isso possa ser reflexo de nossos costumes, do culto ao coitadismo e a ignorância, que tristemente é de fácil verificação.

Estou aqui, preparando-me para mais uma dose de férteis palavras sobre um conflito antigo, que mescla dose de realidade e ficção, aos olhos do autor. Tenho plena certeza que as horas destinadas às primeiras páginas do romance, somente agregaram conhecimento e prazer. Se ontem, fosse para a rua beber, talvez eu estivesse com azia agora, mas jamais uma sopa de letrinhas me traria tal infortúnio.

"Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por idéias." (Mário Vargas Llosa)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Preconceito, todos temos!


Afonso Vieira

Se há uma coisa que me irrita, é a hipocrisia politicamente correta de muitos, somente quando lhes convêm. Já notaram a quantidade de ideólogos – defensores da causa alheia – que vivem tomando dores disto e daquilo, mas na menor oportunidade destilam todo seu veneno? Eu tenho preconceitos, dos mais diversos, admito isso e sei perfeitamente que não sou nada “político” em minhas opiniões, exponho-as e as defendo, doa a quem doer.


Notem que as vozes só soam quando é em causa própria. Difícil mesmo é ver os mesmos “ofendidos” se pronunciarem quando desafetos são tratados pejorativamente. Não se trata de classificar esta ou aquela pessoa, credo, raça, agremiação, e sim de cobrar certas posturas para todas as situações.


Tive a oportunidade de morar em Salvador - terra de gente maravilhosa -, a cidade com maior percentual de negros em sua população. Saí do Mato Grosso do Sul, acostumado com os trejeitos locais, onde era quase ofensa chamar um negro de, pasmem!, negro. Sim, isso acontecia, tive um colega de trabalho que não gostava do termo. Achei muito louvável que os soteropolitanos se orgulhassem da própria cor, chegando a exaltá-la. As negras baianas estão entre as mulheres mais lindas que já vi. Certa vez, fui infeliz em chamar uma garota de morena, no ato ela me repreendeu: “meu filho, sou negra!”; até explicar que pelas bandas do MS isso poderia ser considerado ofensa, perdi muita saliva.


Estamos acompanhando o conflito na Faixa de Gaza, onde ambas as partes cometem excessos e possuem lá suas razões. Mas a quantidade de biltres que deixam aflorar seu anti-semitismo no menor sinal de guerra, é impressionante. Não dá para defender a morte de inocentes, de nenhum dos lados! Não há racionalidade nisso, assim como não há muita ética em uma guerra, só estando em combate para tomar decisões, muitas delas nada amistosas para a visão do público em geral. Ao se condenar a ação de Israel, também se deve condenar o terrorismo do Hamas, caso contrário é relativismo moral, rasteiro e da pior espécie.


Outro dia li um artigo de um indígena criticando o termo bugre, o autor fez o maior rodeio para se dizer ofendido com tal alcunha, oras, isso é mero estereótipo. Provavelmente, nada que ele faça irá mudar esse apelido grotesco que já está enraizado na cultura local. Tenho ainda, absoluta certeza, que há coisas infinitamente mais importantes para um índio se preocupar.


Onde quero chegar? Quero dizer que, na maior parte das vezes, o preconceito está muito mais na cabeça do suposto ofendido, do que na do provável ofensor. E que os “paladinos morais”, “guardiões da ética”, não passam de relativistas; são energúmenos que só se pronunciam quando a água bate na canela. Só para citar, os mesmos que choram mortes de palestinos, não escreveram uma vírgula sobre as milhares de mortes que ocorrem diariamente no Sudão. Deve ser porque são negros matando negros e não são os EUA financiando o governo local, como se a vida tivesse menos valor na África . . .


Sou preconceituoso: contra anarquistas, marxistas, petistas, corintianos, pagodeiros e radicais de qualquer espécie, porém, não deixo de tê-los no meu círculo mais próximo de amizade, do convívio diário. Não passam de estereótipos que se limitam a campos específicos, que não prejudicam a vida de ninguém. Para os ruminantes fundamentalistas, lembro que normalmente são eles que querem classificar pessoas por cor, credo e classe social, muitas vezes até mesmo por politicas públicas; são os mesmos que acentuam as rixas e fomentam conflitos, dos mais diversos.


http://www.campogrande.news.com.br/canais/debates/view.php?id=4316

http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=336492

http://www.matogrossomais.com.br/?id=6762&nome=ARTIGOS%20DO%20INTERNAUTA&categoria=13&opcao=noticias