domingo, 18 de março de 2018

Ditadura de opinião



Há uma frase – indevidamente atribuída a Voltaire – que deveria ser exaltada e muito valorizada nos dias atuais: desaprovo o que dizeis, mas defenderei até a morte vosso direito de dizê-lo – da autora britânica Evelyn Beatrice Hall.

O que temos visto ultimamente, juntamente com o fenômeno da radicalização do debate sobre os mais variados assuntos, é a tentativa de imposição – goela abaixo – de uma visão de mundo de determinados grupos sobre os demais. O “determinados grupos” pode ser qualquer minoria/ideologia, o que possuem em comum é a agressividade, prepotência e desrespeito com quem pensa diferente.

É surreal acreditar que pessoas que sofrem ou sofreram qualquer tipo de perseguição, preconceito e agressão queiram combater esses atos da mesma forma com que foram ofendidas. É contraditório, hipócrita e literalmente tosco! A História deveria ser escrita para aprendermos com os erros, não mais cometê-los - mas esse ensinamento é ignorado por uma crença cega e doutrinária em determinado tema ou assunto.

As mentiras tomam vulto, são propagadas numa velocidade assustadora, sem a menor preocupação de checagem de fontes. E isso não é particularidade de um ou outro grupo, é quase uma regra de uma época irresponsável, radical e boçal. Não importam os fatos, o que importa é que se o que estou lendo ou repassando coaduna com minha “opinião”, às favas com os escrúpulos!

Feministas combatem machismo com misandria; negros combatem racismo com mais racismo; liberais e socialistas esquecem completamente os ensinamentos teóricos e defendem o que um partido ou líder prega, protagonizando verdadeiros exemplos de vergonha alheia a céu aberto – ou para melhor contexto, em público numa rede social; são apenas alguns de vários exemplos de como anda deturpada a lógica. De nada importam anos de estudo, com verificação e comprovação empírica, se eu não concordo o que vale é a minha “verdade”. Surgem especialistas em todos os assuntos, que nunca presenciaram ou trabalharam com a questão de forma real, prática.

A suposta tolerância só é válida quando diz respeito ao que eu penso, o voto só presta quando meu candidato é eleito, a música só é de qualidade quando é o meu gosto pessoal, um veículo de comunicação só é sério e possui credibilidade quando escreve matérias que possuem uma tendência que eu quero ler ou ouvir, e assim caminha o festival de ditadores da opinião alheia.

Tempos sombrios, onde deturpam falas, tiram do contexto e agridem gratuitamente qualquer cidadão. Acabam com reputações. Há vários exércitos de minorias, prontos para atacar, fazendo um patrulhamento ideológico e comportamental. Se você faz parte de um grupo e não segue a agenda, torna-se um pária, digno de desprezo e isolamento.

A liberdade – palavra que esteve presente em todos os discursos influentes do último século, incluam-se todos os “ismos” – é usada conforme a música, sempre adaptando e sendo desvirtuada. Até mesmo estilo musical agora tem que ser necessariamente de um nicho específico, mostrando claramente a mente totalitária de um discurso propagado como tolerante. Confundem o artista com a pessoa, não conseguem separar o público do privado.

O direito a emitir uma opinião livre é um pilar da sociedade ocidental e democrática. O que poderia ser prezado é apenas o bom senso, a busca de um mínimo conhecimento antes de emitir juízo e o que nos tem faltado como seres pensantes: RESPEITO!