quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Iniciando 2009, mãos à obra!

Afonso Vieira

Finda o carnaval, como é o dito popular, estamos oficialmente iniciando o ano de trabalho. Numa era de incertezas globais - de marolas à tsunamis - buscamos nosso lugar ao sol.

Não sou catastrofista, muito menos gosto de tal posicionamento, porém, também não sou um completo otimista. É fato consumado que e um ambiente globalizado, a situação econômico-financeira ainda está longe de se estabilizar. Cabe a nós um certo ceticismo, uma boa dose de cautela, mas com muito cuidado para não perder oportunidades vindouras, ai cabe o feeling pessoal de cada um.

Os governos de todo o mundo têm tentado implementar ações para atenuar os efeitos da crise, ainda que seus resultados não tenham sido satisfatórios, convém que cada um procure resolver primeiramente os seus imbróglios – não espere nada cair do céu. Não tente abraçar o mundo, tente primordialmente fazer a sua parte, pode ter certeza que contribuirá muito positivamente.

Já está na hora de mudarmos a fama de acomodados, de ser o “povo do jeitinho”. O país do carnaval, do samba e do futebol tem muito mais a contribuir do que festa e bunda “made” exportação. Se somos mal vistos e possuímos uma fama que não é invejável, com certeza há um bom fundo de verdade. O bairrismo e nacionalismo exacerbado, quando confrontados com fatos, tende a emburrecer e não contribuir em nada para uma melhora do quadro. Temos que reconhecer nossos defeitos, somente assim poderemos saná-los.

Começamos muito mal o ano, a visão do país da impunidade, das pessoas que querem levar vantagem em tudo só foi reforçada por acontecimentos recentes. Infelizmente, casos como de Cesare Battisti e Paula Oliveira só denigrem nossa imagem mundo afora.

Precisamos sair da mediocridade cultural reinante, deixar de patinar e dar uma guinada radical, dificilmente isso virá de ações políticas, daí a necessidade de maior envolvimento dos cidadãos nas diversas esferas sociais. Vamos cobrar das autoridades, participar mais efetivamente da educação de nossas crianças, não há outro caminho senão o de uma educação básica de qualidade, não há! Isso parece ser o óbvio ululante, mas que pouquíssimos enxergam, debatem e procuram mudar.

Chega de pasmaceira, de comodismo, de ilusão. O mundo não nos espera de braços e portas abertas, deve ser conquistado, e a batalha é diária. Um bom princípio para 2009 seria dizer: sou parte da solução, não do problema, arregacemos as mangas e mãos à obra!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Saudosismo nostálgico


Afonso Vieira


Eis-me aqui, sentado lendo notícias e curtindo uma tarde de fim de semana. Resolvi ouvir música clássica para acalmar o espírito, em determinado momento escolhi ouvir tenores e me deparei com uma versão de Time to say goodbye, automaticamente passei a recordar de outras épocas, dos amigos distantes, das pessoas queridas que não voltam mais. Enfim, passei a uma fase de saudosismo puro, uma nostalgia estranha, até mesmo gostosa – uma contradição, eu sei.

Como é bom poder olhar para trás e ver que tivemos fases fantásticas, amigos maravilhosos, uma vida intensa. Ver que os erros serviram somente para nortear as novas atitudes, de forma a corrigi-los. Lembrar dos locais, das cidades, das casas, brincadeiras, romances, festas, jantares e tudo mais.

Houve situações banais na época, que nas lembranças atuais se tornam boas e marcantes. Lembrar das brincadeiras de criança, dos contos de fadas, da árvore em que subíamos, da inocência da idade. Como era bom subir na goiabeira e comer seu fruto, lambuzar-se com a manga colhida no pé, sujar toda a cara com a amora, pescar no córrego próximo à sua casa. Éramos crianças “arteiras”, chegávamos a sair de casa pela manhã e retornar só ao fim da tarde.

Lembro-me ainda que tínhamos brinquedos e estes nos acompanham até próximo da idade adulta, às vezes até escondíamos dos amigos mais velhos, com medo da gozação. Definitivamente, nossos filhos não terão a oportunidade de viver com tamanha liberdade que fomos criados.

E as festinhas com “jogo de luz” - quem tem mais de trinta entende do que falo -, era todo mundo esperando a hora da “lenta” para chamar a paquera. Éramos tímidos, ingênuos, mas felizes! O refrigerante, na maioria das vezes, era a bebida oficial. Quando raro, havia um ponche. E o primeiro porre, a ressaca monumental! Quem já se esqueceu do primeiro beijo, da descoberta da sexualidade, do primeiro grande amor?

Fomos para a faculdade, começamos a trabalhar, mudamos de cidade; vieram compromissos e responsabilidades. Todas essas recordações batem no âmago do ser, embriaga com a vontade de revivê-las com o maior prazer possível. Até mesmo estabelecimentos que não costumávamos gostar, vêm à mente numa boa dose de saudade.

As viagens, os acampamentos, as cidades que visitamos. Os excessos que resultaram em problemas, e agora nos traz boas gargalhadas. É possível sentir falta até da chatice de certas pessoas.

As amizades podem se distanciar com o tempo, seguindo o percurso da jornada da vida, mas as memórias permanecem, bem como a consideração.

A vontade que surge é retornar no tempo, passar novamente pelas situações, só para poder apreciar cada fato mais intensamente. Sorte dos que podem recordar somente de coisas boas e agradecer pelo que a vida nos deu.

Momentos de prazerosos de profunda introspecção. . .

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Visão empresarial e qualidade profissional


Afonso Vieira


Muito tenho escutado e também lido sobre a má-qualificação dos profissionais nos mais variados setores, e isto não é particularidade de apenas uma região do país, já trabalhei - tendo inclusive empreendimento próprio - em alguns estados da federação. A reclamação é sempre a mesma. Analisando melhor a questão, vejo que - muitas vezes - não é falta de mão-de-obra qualificada, e sim, ausência de visão empresarial e gerenciamento incorreto dos recursos humanos por parte dos gestores.

Quando se tem uma boa experiência no mercado, é fácil identificar deficiências gritantes na execução das tarefas dos mais variados locais. A qualidade na prestação de serviços nos locais que morei - MS, MT e BA – deixa muito a desejar, é um fato duro de engolir para os bairristas de plantão, e de fácil constatação. Agora faço um questionamento: o problema é somente nos funcionários – detesto o termo “colaborador” -, ou também é falta de valorização do profissional e/ou reciclagem?

Não é raro ver vagas de emprego - solicitando nível superior para cargo de gerência - que oferecem salários medíocres, beirando o ridículo. Mão-de-obra eficaz exige contrapartida, dizer que “as pessoas não querem trabalhar” é menosprezar anos de estudo e dedicação em detrimento de um “lucro” irrisório, que provavelmente ocasionará prejuízo.

Citando Peter Drucker, em artigo de 1963: “Todo produto, toda operação e toda atividade de uma empresa deveriam, portanto, ser submetidos a um teste a cada dois ou três anos.” Isto é um fato, qualquer fundamento administrativo não é absoluto, podemos dizer que a única tese imutável da administração é exatamente a “mudança constante”. Notem que na frase em questão, dá para englobar os recursos humanos. Após anos na mesma função, boa parte se acomoda, poucos levam a “disciplina consciente” a sério. Talvez seja a hora de fazer um rodízio de funções, ou uma reciclagem nos quadros.

Ainda Drucker, agora em 2002: “Todo executivo terá de aprender o que um bom chefe de departamento em uma universidade ou um bom regente de uma sinfônica há muito sabem: que a chave da excelência é descobrir qual o potencial de cada indivíduo e se empenhar em seu cultivo.” Experiência é importante, mas não é primordial, às vezes temos um bom trabalhador desempenhando um cargo satisfatoriamente, que pode ser muito melhor em outra colocação. Por vezes temos dentro da própria empresa alguém com perfil para o ofício, mas por miopia preferimos contratar gente de fora, e ainda exigindo muito tempo na área como pré-requisito, oras, servidores competentes dificilmente estarão disponíveis!

Leio muitas críticas contrárias ao lucro das instituições, isso - normalmente - é gritaria sem embasamento de frustrados incompetentes. Mas tenho que dar o braço a torcer em alguns casos. A tendência é a concentração do mercado, grandes aquisições vêm ocorrendo, e via de regra, o quadros enxugados. Até ai nenhum problema - é sabido que o diferencial hoje é no custo de produção e não no preço final -, mas ainda assim está ocorrendo a redução de salários dentro das próprias funções já exercidas. O resultado podemos verificar in loco nas instituições financeiras e de ensino superior, utilizando apenas 2 exemplos.

Por fim, nem sempre falta qualificação no mercado, ou ainda, as opiniões dos “comandantes” são sempre as corretas. O que tem faltado é visão ampla, abertura nos horizontes e tato na lide com as adversidades do dia-a-dia. A reciclagem acima sugerida, deveria começar pelas cabeças das organizações, nada que uma boa dose de Inovação e Espirito Empreendedor não norteie, ou até mesmo resolva.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Sabedoria de vida


Afonso Vieira

Vou tratar no presente ensaio sobre um tema que me fascina, que faz perder horas a fio e aprofundar no mais oculto do meu ser; enxergando possibilidades infinitas em algo que a maioria tem ojeriza, medo, um certo pavor – talvez pela incapacidade de se adaptar, de evoluir dentro de si próprio -, falo da solidão.

Certa vez escrevi um texto sobre o assunto, era uma reflexão semelhante a esta. Sempre verifico que há uma parcela enorme de entes próximos a mim que fazem de tudo para fugir da condição solitária, alguns raros – assim como eu – aprenderam a gostar, a vislumbrar o estado de espírito como algo que dificilmente mereça desapego.


Qual o problema e ter uma vida sociável, cheia de amigos e festas e mesmo assim gostar de um refúgio, de se entocar por vezes ou se fechar no mundo pessoal, usufruindo do que de melhor sua mente possa lhe proporcionar? Muitas das vezes, tais ponderações são extremamente produtivas e benéficas, um aperfeiçoamento de ego necessário e saudável.


Comecei a ler um livro do filósofo alemão Arthur Schopenhauer. A indicação de uma amiga não poderia ter sido melhor. Em que pese muitas coisas que discorde, especificamente nessa obra, Aforismos para a sabedoria de vida, identifiquei-me com suas divagações.


Filósofos são incompreendidos, muitas vezes seus pensamentos são utilizados de forma vil, mas é respeitável a infinidade de opções que nos põem à mesa. Schopenhauer influenciou Nietzche, que por conseguinte lota os cérebros do mundo até os dias atuais em seus devaneios brilhantes.


O que faz com que pessoas passem a rejeitar certos ambientes, ou não dar muita importância para os locais que frequenta? É algo que tenho me perguntado. Talvez seja uma certa experiência adquirida ao longo dos anos - apesar da aversão à hipocrisia reinante da sociedade -, onde se aprende filtrar e aproveitar a cada momento, descartando o que é supérfluo e banal. Em uma mesa de bar, uma reunião com colegas, ou mesmo dentro de uma casa noturna, nada estará bom se o Eu interior não corroborar com a paz externa. De nada adianta o lugar, a companhia ou a ocasião – é claro que ajudam, mas não é o principal -, se a mente não for sóbria e inteligente.


A condição de eremita não é um fardo ou sacrifício, provavelmente nem é eterna. Mas, na maioria das vezes, pode ser fruto de uma opção individual para o que o momento nos pré-dispôs. Isso não quer dizer necessariamente o isolamento do mundo, pelo contrário, em boa parte das situações é meramente mental, fruto da imaginação, uma decisão pessoal. Condição, diga-se, extraordinária, basta aceitá-la e aprender a apreciar no melhor estilo possível. Ou seja, da forma que melhor lhe convir.


“Na solidão, onde todos se veem limitados aos seus próprios recursos, o indivíduo enxerga o que tem em si mesmo. O tolo em trajes finos suspira sob o fardo de sua própria individualidade miserável, da qual não pode se livrar, enquanto o homem de grandes dotes povoa e anima com seus pensamentos a região mais deserta e desolada” - Schopenhauer

http://www.campogrande.news.com.br/canais/debates/view.php?id=4372