Afonso Vieira
Eis-me aqui, sentado lendo notícias e curtindo uma tarde de fim de semana. Resolvi ouvir música clássica para acalmar o espírito, em determinado momento escolhi ouvir tenores e me deparei com uma versão de Time to say goodbye, automaticamente passei a recordar de outras épocas, dos amigos distantes, das pessoas queridas que não voltam mais. Enfim, passei a uma fase de saudosismo puro, uma nostalgia estranha, até mesmo gostosa – uma contradição, eu sei.
Como é bom poder olhar para trás e ver que tivemos fases fantásticas, amigos maravilhosos, uma vida intensa. Ver que os erros serviram somente para nortear as novas atitudes, de forma a corrigi-los. Lembrar dos locais, das cidades, das casas, brincadeiras, romances, festas, jantares e tudo mais.
Houve situações banais na época, que nas lembranças atuais se tornam boas e marcantes. Lembrar das brincadeiras de criança, dos contos de fadas, da árvore em que subíamos, da inocência da idade. Como era bom subir na goiabeira e comer seu fruto, lambuzar-se com a manga colhida no pé, sujar toda a cara com a amora, pescar no córrego próximo à sua casa. Éramos crianças “arteiras”, chegávamos a sair de casa pela manhã e retornar só ao fim da tarde.
Lembro-me ainda que tínhamos brinquedos e estes nos acompanham até próximo da idade adulta, às vezes até escondíamos dos amigos mais velhos, com medo da gozação. Definitivamente, nossos filhos não terão a oportunidade de viver com tamanha liberdade que fomos criados.
E as festinhas com “jogo de luz” - quem tem mais de trinta entende do que falo -, era todo mundo esperando a hora da “lenta” para chamar a paquera. Éramos tímidos, ingênuos, mas felizes! O refrigerante, na maioria das vezes, era a bebida oficial. Quando raro, havia um ponche. E o primeiro porre, a ressaca monumental! Quem já se esqueceu do primeiro beijo, da descoberta da sexualidade, do primeiro grande amor?
Fomos para a faculdade, começamos a trabalhar, mudamos de cidade; vieram compromissos e responsabilidades. Todas essas recordações batem no âmago do ser, embriaga com a vontade de revivê-las com o maior prazer possível. Até mesmo estabelecimentos que não costumávamos gostar, vêm à mente numa boa dose de saudade.
As viagens, os acampamentos, as cidades que visitamos. Os excessos que resultaram em problemas, e agora nos traz boas gargalhadas. É possível sentir falta até da chatice de certas pessoas.
As amizades podem se distanciar com o tempo, seguindo o percurso da jornada da vida, mas as memórias permanecem, bem como a consideração.
A vontade que surge é retornar no tempo, passar novamente pelas situações, só para poder apreciar cada fato mais intensamente. Sorte dos que podem recordar somente de coisas boas e agradecer pelo que a vida nos deu.
Momentos de prazerosos de profunda introspecção. . .
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