domingo, 23 de agosto de 2015

A falência do debate

O célebre dramaturgo Nelson Rodrigues dizia que uma das características da juventude era a estupidez, de fato não estava errado; mas pelo visto a estupidez deixou de ser meramente inerente a juventude, está enraizada nos radicais, que insistem em não amadurecer com a idade.
Estamos passando por um acirramento ímpar no ânimo da população. A suposta diminuição da desigualdade, fomentando o preconceito de classe, divisão por raça, credo, ideologia e alhures, tem feito surgir duas novas e perigosas facções:
- de um lado uma militância radical, que quer defender o governo a todo custo. Não importa a quantidade de ilícitos apontados, de nada vale condenações na justiça. De nada vale o previsto na Lei. Tudo é justificável se feito pelo partido e tudo que o denigre é oriundo de uma elite branca, golpista que não suporta um governo “popular” (?);
- do outro vem o opositor radical, que quer derrubar o governo a todo custo. Vale até mesmo se aliar a qualquer crápula que apareça, desde que o “bem maior” seja alcançado e o governo extinto. Querem atropelar trâmites legais, impor sua agenda. Todos que não são a favor do impeachment da Presidente são comunistas, fazem parte do Foro de São Paulo e deveriam se mudar para Cuba.
Nota-se o nível em que se chegou no debate político do país. Infelizmente esses radicais tem afastado a ala moderada e pensante das discussões. Curiosamente, quando se procura aprofundar em qualquer assunto, já se identifica que a radicalização causa cegueira automática no interlocutor. De nada valem títulos acadêmicos, posição social, cargo que ocupa ou erudição se eles não concernem senso crítico; se não são usados com inteligência!
Se agarrar em qualquer maluco que escreve ou fala, só porque ele cita o que você quer ouvir, é muito perigoso. Achar bonito um senhor de idade ficar mandando seus opositores “tomar naquele lugar” é sintoma de que algo está muito errado, e não é com o adversário. Crer que quem é contra cotas é racista – muitos contrários são negros - é ser muito infantil.
A tolerância com o contraditório chegou praticamente a zero. Vemos que, por mais que o mundo evolua, que ideologias tenham sido sepultadas e comprovadamente inaplicáveis, ainda vão existir viúvas do muro de Berlim, da ditadura, anarcocapitalistas, xenófobos e demais cidadãos que vomitam intolerância, desequilíbrio e despreparo.
A virtude está no meio! Teorias sempre existirão, mas devem buscar comprovação empírica. Os fatos ai estão, não adianta subterfúgios para tentar defender o indefensável, provar algo que nunca existiu ou deu certo, por mera simpatia.
Mandar uma pessoa estudar história, chamá-la de racista, fascista, nazista, comunista, et caterva, diz muito mais a respeito de você mesmo do que de outrem. E não faz ninguém ganhar debate ou chegar a lugar algum.
A falência de nosso sistema educacional é gritante há décadas, agora chegamos na falência intelectual das discussões. Sai a massa encefálica cinzenta e entra uma borrada, tendendo ao marrom, que nem sempre se encontra no cérebro . . .

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Nós e as leis

Venho notando recentemente certo comportamento nas pessoas, sempre criticando a postura das autoridades quando aumentam a fiscalização ou cumprem seu dever legal. O fato é que uma crítica embasada e construtiva é primordial para o aprimoramento das instituições, mas vejo que nem sempre elas seguem essa ótica.

Há um claro aumento na fiscalização do trânsito em diversas cidades do país, em vários estados é comum vermos notícias a esse respeito, assim como aumento das críticas, que chegam a ser infantis sobre variados temas.

Primeiro, dentro daquilo que está previsto na Lei, no Código de Trânsito Brasileiro e resoluções do Contran: não existe indústria das multas! Oras meus caros, todos sabemos que temos que pagar o IPVA/Seguro Obrigatório, que temos que obedecer limites de velocidade, que não se pode ultrapassar sinal vermelho e temos que manter nossos veículos em condições de uso e não desacatar autoridades.

Sinto lhes dizer, mas se você está criticando uma fiscalização que vai coibir maus motoristas, inadimplentes e veículos que deveriam estar no ferro velho, você está contribuindo para a corrupção e descaso que tanto abomina!

Particularmente, não gosto do governo. Não vejo com bons olhos um  Estado me monitorando; acredito que pagamos impostos demais com retorno de menos. É fato que os recursos públicos são muito mal aplicados, que são desviados em larga escala, mas isso não é justificativa para desrespeitar as Leis. A meu ver o Estado deveria se ater a setores essenciais e agir somente em situações de extrema necessidade, mas ele continua sendo um “mal necessário”.

Qual é o único valor absoluto independente de credo ou ideologia? No meu entendimento são as Leis, elas devem existir para a manutenção de um Estado de Direito, mesmo que seja mínimo! É uma espécie de imperativo categórico formal. Se não concordamos com elas, temos mecanismos para contestá-las com base em processos legais, qualquer coisa fora disso é passível de sanção.

Vejo pessoas criticando a ação das polícias, dos agentes investidos de autoridade para averiguar determinados setores, imputando muitas vezes culpa a quem nada tem a ver com a causa do problema. Oras senhores, todos temos plena consciência de nossos deveres, se estamos em dívida com algum encargo, temos que batalhar para quitá-la e não depreciar um trabalho que está sendo feito. Por mais que a intenção de um órgão público seja meramente monetária, se estivermos em dia com nossas obrigações, não seremos afetados. Não estamos falando de situações pontuais de desvio de servidores, frise-se!

Curiosamente, eu que não gosto de um Estado inchado e bisbilhoteiro, não tenho problema algum com autoridades, blitz, multas e outros recursos estatais que visam coibir atos considerados infracionais. O fato de ser um libertário não me dá o direito de infringir as Leis, ponto! Da mesma forma, muitos progressistas criticam ações policiais por cumprirem o seu dever de manutenção da lei e da ordem, não enxergam que se estão sendo cerceados de alguma forma, é porque estão cometendo um ilícito.

Por pior que as nossas instituições sejam – na maioria das vezes por causa de maus funcionários -, elas devem ser preservadas. Bem ou mal, são elas que ainda não deixaram cairmos num caos absoluto, haja vista a completa incapacidade e inépcia de nossos representantes e gestores públicos.


Você pode ter sua utopia, visão política, seus conceitos morais, mas o preceito de alguém que se autodeclara idôneo, é cumprir com seus deveres para poder cobrar direitos. Caso contrário você não passa de mais um hipócrita, de um grande relativista moral!