segunda-feira, 30 de março de 2009

1964, oito ou oitenta?


Afonso Vieira

Estamos no início do ano de 1964, o mundo efervesce no auge da guerra fria. Há uma clara bipolarização política/ideológica em todo o planeta. O “imperialismo” emerge nas versões da águia norteamericana e da foice com o martelo da URSS. Há aproximadamente dois anos o mundo chegou à beira da guerra nuclear, ocasionada pela crise dos mísseis em Cuba. A América Latina vive seu momento mais conturbado da história, falaremos mais especificamente do Brasil e o contexto da situação.

Daniel Aarão Reis, participa do centro estudantil de sua escola - como parte da diretoria -, mais tarde atuará na resistência a o regime militar vindouro, como militante do movimento revolucionário 8 de outubro. Irá exilar-se na Argélia em 1970. Após o término do regime, participará da criação do Partido dos Trabalhadores, atuará como professor e escreverá vários livros. Será um dos poucos que assumirá que as intenções das esquerdas no presente momento, não é a democracia. Dirá - em um futuro não muito distante - que a luta armada que virá foi um grande equivoco, que ela não virá com intuito de liberdade: “As esquerdas radicais não queriam restaurar a democracia, considerada um conceito burguês, mas instaurar o socialismo por meio de uma ditadura revolucionária”.

Heitor de Paola, jovem acadêmico de medicina, em Pelotas, RS. Participa de uma ação comanda por um agitador da Petrobrás e da Superintendência da Reforma Agrária, em Rio Grande, pela encampação da Refinaria de Petróleo Ipiranga, ouvindo dos líderes do ato que a República Socialista do Brasil estava próxima. Tornar-se-á membro da organização comunista Ação Popular. Em um futuro não muito distante, mudará radicalmente sua posição ideológica, será classificado como extrema direita e escreverá artigos reconhecendo que, mesmo antes de 1964, já havia um movimento revolucionário com intuito armado em solo nacional.

Francisco Julião, líder da Ligas Camponesas, em meados de 1961/62 flertou com Fidel Castro, conseguindo ajuda financeira e treinamento de guerrilha para si próprio e outros militantes do movimento rural. Alguns relatos dizem que Julião se gabava, pois, “contava com 100 mil camponeses armados”. Será cassado e preso pelo regime militar, suas ligas, desmanteladas.

Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul. Um dos maiores líderes da esquerda na atualidade. Diversos informes dizem que conspira com comunistas, inclusive enviando militantes para treinamento de guerrilha em Cuba e na China. Cunhado do presidente do país. Possui apoio de membros do alto escalão das Forças Armadas. Fugirá do Brasil após o golpe militar. Fixará exílio no Uruguai, onde receberá ajuda financeira cubana para patrocinar movimentos revolucionários em solo nacional. Segundo várias fontes, incluindo o serviço secreto do Itamaraty, desviará boa parte dos recursos em benefício próprio.

João Goulart, Presidente da República. Assumiu o poder após a renuncia de Jânio Quadros. Flerta com as esquerdas, dá amplo apoio a movimentos militares, tidos como subversivos na caserna. Não acredita em um golpe fardado, crê piamente que seu chefe da casa militar, Assis Brasil, tem poder para debelar qualquer ato dessa natureza. Discursará em 30 de março para mais de mil sargentos , quebrando a ordem hierárquica, já abalada pelos acontecimentos recentes. Será deposto pelos generais do alto comando do Exército.

Castelo Branco, atual chefe do Estado-Maior do Exército. Será eleito presidente pelo Congresso, após o golpe de 31 de março. Assumirá o governo com o compromisso de devolver o poder aos civis, o que não se consumará. Segundo a Revista Cruzeiro que sairá em 10 de abril, não será a favor do golpe, “O General Kruel não desejava a deposição do Presidente. O General Jair nunca a desejou. Nem o General Âncora, nem o General Castelo Branco . O Comandante do II Exército chegou a sugerir ao Presidente, no momento em que suas fôrças se preparavam para marchar sôbre o Rio, que desarticulasse o sistema esquerdista, fechasse o CGT, normalizasse a situação na Marinha e êle, Goulart, contaria com o apoio das Fôrças Armadas. Mas o Presidente disse não.”
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Todos os relatos citados acima encontram amparo em livros de historiadores, revistas, artigos de jornais e documentos liberados dos diversos órgãos de informação. A tentativa de contextualizar o momento do golpe é para dar uma visão de como estava o país naquele momento. Não dá para dizer que a esquerda possuía um poder real para um golpe nos moldes que ocorreu através dos militares. Mas estávamos em um momento extremamente delicado, havia clara ameaça à ordem constitucional. Não se defende nenhum tipo de ditadura, mas será que tínhamos outra alternativa entre o socialismo nos moldes de Cuba, e uma ditadura militar? Se foi uma “ditabranda” como disseram, pode até ser, se for para comparar números, mas jamais se justifica 20 anos de privação das liberdades individuais - que se agravou justamente pela luta armada -, talvez se as esquerdas não optassem por esse caminho, o regime teria durado menos. Não há santos quando se fala em política e, como sempre, quem mais sofre é a população como um todo.

*A foto que ilustra esta postagem mostra Jango em meio a uma manifestação sobre a reforma agrária, os cartazes contêm frases como: "na lei ou na marra" e "terra ou morte".

quarta-feira, 25 de março de 2009

Um alento



Há tempos não tenho escrito nada, creio que já faz umas três ou quatro semanas que não postei uma única letra no blog. É, se no último texto disse que estávamos iniciando o ano – que na prática tupiniquim começa após o carnaval -, para mim, literalmente foi o que ocorreu. Até me adaptar na nova rotina e pegar o ritmo, até a leitura tem sofrido queda. Mas são degraus que galgamos a cada etapa da vida, cabe-nos a adequação.

Pois bem, já disse que a inspiração para falar sobre política e outros assuntos que foram foco por muito tempo, tem sido mínima, mas creio que este ano haverá assuntos em praticamente todas as frentes. Como sempre, vou procurar não falar sobre o que não tenho domínio. O próximo artigo – que ainda não saiu do mero desejo – é algo embasado, com fontes e referências históricas, algo destinado a publicação e que visa dar outra ótica sobre 1964. Bom, deixo este assunto para a ocasião oportuna.

Percebi que há dois meses não li mais artigos do Stephen Kanitz na Veja, o que é uma lástima; caso o autor tenha deixado a publicação, considero uma grande perda. Ainda não encaminhei e-mail para a redação da revista nem para o articulista, só dei uma passada de leve em seu novo blog (
http://brasil.melhores.com.br/).

Hoje li sobre alguns escândalos, algumas consequências da crise e outros fatos atuais. Pelo visto pouca coisa muda, e é por isso que informação nunca é demais.

Meus passatempos preferidos têm sido: ler, escrever, correr no fim da tarde e tomar cerveja com amigos, não necessariamente nesta ordem, he he. Mas uma coisa que me surpreendeu outro dia foi que muitos amigos leem meus textos, bem mais do que imaginava. Tenho certeza que boa parte recebe e deleta, porém, normalmente quem comenta comigo sobre os temas abordados, são pessoas que realmente fazem a diferença e que efetivamente eu gostaria que lesse. Pô, saber que uma amiga dá uma bisbilhotada no blog, em uma mesa de bar às 3 da madrugada, chega a ser cômico. Em uma festa recente, um amigo que não via há anos também comentou sobre os textos. É gratificante!

Nos últimos meses andei dando uma boa filosofada nos artigos, e pretendo partir mais para esse lado. A lista de obras que pretendo ler no corrente ano é imensa, quem sabe eu compre O ópio dos intelectuais ainda em abril, Schopenhauer também terá uma maior abordagem. Creio que ando precisando de uma boa dose de raiva, indignação, revolta, e coisas do gênero. Acredito que o conteúdo sai mais agressivo e mais consistente, vou tentar provocar o ego nesse sentido. Este é um início de ano que vou relegar os prazeres da carne para segundo plano – mas nem tanto, hehe -, as prioridades são outras.

Desculpem-me por este ensaio sem pé nem cabeça, é só um esboço para retornar com mais vigor ao hábito que deixei de lado há alguns dias. A prática melhora a qualidade, ao menos em tese. Assim espero. À luta!
*Foto: Cachoeira Salto das Nuvens, em Tangará da Serra