Afonso Vieira
Estamos no início do ano de 1964, o mundo efervesce no auge da guerra fria. Há uma clara bipolarização política/ideológica em todo o planeta. O “imperialismo” emerge nas versões da águia norteamericana e da foice com o martelo da URSS. Há aproximadamente dois anos o mundo chegou à beira da guerra nuclear, ocasionada pela crise dos mísseis em Cuba. A América Latina vive seu momento mais conturbado da história, falaremos mais especificamente do Brasil e o contexto da situação.
Daniel Aarão Reis, participa do centro estudantil de sua escola - como parte da diretoria -, mais tarde atuará na resistência a o regime militar vindouro, como militante do movimento revolucionário 8 de outubro. Irá exilar-se na Argélia em 1970. Após o término do regime, participará da criação do Partido dos Trabalhadores, atuará como professor e escreverá vários livros. Será um dos poucos que assumirá que as intenções das esquerdas no presente momento, não é a democracia. Dirá - em um futuro não muito distante - que a luta armada que virá foi um grande equivoco, que ela não virá com intuito de liberdade: “As esquerdas radicais não queriam restaurar a democracia, considerada um conceito burguês, mas instaurar o socialismo por meio de uma ditadura revolucionária”.
Heitor de Paola, jovem acadêmico de medicina, em Pelotas, RS. Participa de uma ação comanda por um agitador da Petrobrás e da Superintendência da Reforma Agrária, em Rio Grande, pela encampação da Refinaria de Petróleo Ipiranga, ouvindo dos líderes do ato que a República Socialista do Brasil estava próxima. Tornar-se-á membro da organização comunista Ação Popular. Em um futuro não muito distante, mudará radicalmente sua posição ideológica, será classificado como extrema direita e escreverá artigos reconhecendo que, mesmo antes de 1964, já havia um movimento revolucionário com intuito armado em solo nacional.
Francisco Julião, líder da Ligas Camponesas, em meados de 1961/62 flertou com Fidel Castro, conseguindo ajuda financeira e treinamento de guerrilha para si próprio e outros militantes do movimento rural. Alguns relatos dizem que Julião se gabava, pois, “contava com 100 mil camponeses armados”. Será cassado e preso pelo regime militar, suas ligas, desmanteladas.
Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul. Um dos maiores líderes da esquerda na atualidade. Diversos informes dizem que conspira com comunistas, inclusive enviando militantes para treinamento de guerrilha em Cuba e na China. Cunhado do presidente do país. Possui apoio de membros do alto escalão das Forças Armadas. Fugirá do Brasil após o golpe militar. Fixará exílio no Uruguai, onde receberá ajuda financeira cubana para patrocinar movimentos revolucionários em solo nacional. Segundo várias fontes, incluindo o serviço secreto do Itamaraty, desviará boa parte dos recursos em benefício próprio.
João Goulart, Presidente da República. Assumiu o poder após a renuncia de Jânio Quadros. Flerta com as esquerdas, dá amplo apoio a movimentos militares, tidos como subversivos na caserna. Não acredita em um golpe fardado, crê piamente que seu chefe da casa militar, Assis Brasil, tem poder para debelar qualquer ato dessa natureza. Discursará em 30 de março para mais de mil sargentos , quebrando a ordem hierárquica, já abalada pelos acontecimentos recentes. Será deposto pelos generais do alto comando do Exército.
Castelo Branco, atual chefe do Estado-Maior do Exército. Será eleito presidente pelo Congresso, após o golpe de 31 de março. Assumirá o governo com o compromisso de devolver o poder aos civis, o que não se consumará. Segundo a Revista Cruzeiro que sairá em 10 de abril, não será a favor do golpe, “O General Kruel não desejava a deposição do Presidente. O General Jair nunca a desejou. Nem o General Âncora, nem o General Castelo Branco . O Comandante do II Exército chegou a sugerir ao Presidente, no momento em que suas fôrças se preparavam para marchar sôbre o Rio, que desarticulasse o sistema esquerdista, fechasse o CGT, normalizasse a situação na Marinha e êle, Goulart, contaria com o apoio das Fôrças Armadas. Mas o Presidente disse não.”
. . .
Todos os relatos citados acima encontram amparo em livros de historiadores, revistas, artigos de jornais e documentos liberados dos diversos órgãos de informação. A tentativa de contextualizar o momento do golpe é para dar uma visão de como estava o país naquele momento. Não dá para dizer que a esquerda possuía um poder real para um golpe nos moldes que ocorreu através dos militares. Mas estávamos em um momento extremamente delicado, havia clara ameaça à ordem constitucional. Não se defende nenhum tipo de ditadura, mas será que tínhamos outra alternativa entre o socialismo nos moldes de Cuba, e uma ditadura militar? Se foi uma “ditabranda” como disseram, pode até ser, se for para comparar números, mas jamais se justifica 20 anos de privação das liberdades individuais - que se agravou justamente pela luta armada -, talvez se as esquerdas não optassem por esse caminho, o regime teria durado menos. Não há santos quando se fala em política e, como sempre, quem mais sofre é a população como um todo.
Estamos no início do ano de 1964, o mundo efervesce no auge da guerra fria. Há uma clara bipolarização política/ideológica em todo o planeta. O “imperialismo” emerge nas versões da águia norteamericana e da foice com o martelo da URSS. Há aproximadamente dois anos o mundo chegou à beira da guerra nuclear, ocasionada pela crise dos mísseis em Cuba. A América Latina vive seu momento mais conturbado da história, falaremos mais especificamente do Brasil e o contexto da situação.
Daniel Aarão Reis, participa do centro estudantil de sua escola - como parte da diretoria -, mais tarde atuará na resistência a o regime militar vindouro, como militante do movimento revolucionário 8 de outubro. Irá exilar-se na Argélia em 1970. Após o término do regime, participará da criação do Partido dos Trabalhadores, atuará como professor e escreverá vários livros. Será um dos poucos que assumirá que as intenções das esquerdas no presente momento, não é a democracia. Dirá - em um futuro não muito distante - que a luta armada que virá foi um grande equivoco, que ela não virá com intuito de liberdade: “As esquerdas radicais não queriam restaurar a democracia, considerada um conceito burguês, mas instaurar o socialismo por meio de uma ditadura revolucionária”.
Heitor de Paola, jovem acadêmico de medicina, em Pelotas, RS. Participa de uma ação comanda por um agitador da Petrobrás e da Superintendência da Reforma Agrária, em Rio Grande, pela encampação da Refinaria de Petróleo Ipiranga, ouvindo dos líderes do ato que a República Socialista do Brasil estava próxima. Tornar-se-á membro da organização comunista Ação Popular. Em um futuro não muito distante, mudará radicalmente sua posição ideológica, será classificado como extrema direita e escreverá artigos reconhecendo que, mesmo antes de 1964, já havia um movimento revolucionário com intuito armado em solo nacional.
Francisco Julião, líder da Ligas Camponesas, em meados de 1961/62 flertou com Fidel Castro, conseguindo ajuda financeira e treinamento de guerrilha para si próprio e outros militantes do movimento rural. Alguns relatos dizem que Julião se gabava, pois, “contava com 100 mil camponeses armados”. Será cassado e preso pelo regime militar, suas ligas, desmanteladas.
Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul. Um dos maiores líderes da esquerda na atualidade. Diversos informes dizem que conspira com comunistas, inclusive enviando militantes para treinamento de guerrilha em Cuba e na China. Cunhado do presidente do país. Possui apoio de membros do alto escalão das Forças Armadas. Fugirá do Brasil após o golpe militar. Fixará exílio no Uruguai, onde receberá ajuda financeira cubana para patrocinar movimentos revolucionários em solo nacional. Segundo várias fontes, incluindo o serviço secreto do Itamaraty, desviará boa parte dos recursos em benefício próprio.
João Goulart, Presidente da República. Assumiu o poder após a renuncia de Jânio Quadros. Flerta com as esquerdas, dá amplo apoio a movimentos militares, tidos como subversivos na caserna. Não acredita em um golpe fardado, crê piamente que seu chefe da casa militar, Assis Brasil, tem poder para debelar qualquer ato dessa natureza. Discursará em 30 de março para mais de mil sargentos , quebrando a ordem hierárquica, já abalada pelos acontecimentos recentes. Será deposto pelos generais do alto comando do Exército.
Castelo Branco, atual chefe do Estado-Maior do Exército. Será eleito presidente pelo Congresso, após o golpe de 31 de março. Assumirá o governo com o compromisso de devolver o poder aos civis, o que não se consumará. Segundo a Revista Cruzeiro que sairá em 10 de abril, não será a favor do golpe, “O General Kruel não desejava a deposição do Presidente. O General Jair nunca a desejou. Nem o General Âncora, nem o General Castelo Branco . O Comandante do II Exército chegou a sugerir ao Presidente, no momento em que suas fôrças se preparavam para marchar sôbre o Rio, que desarticulasse o sistema esquerdista, fechasse o CGT, normalizasse a situação na Marinha e êle, Goulart, contaria com o apoio das Fôrças Armadas. Mas o Presidente disse não.”
. . .
Todos os relatos citados acima encontram amparo em livros de historiadores, revistas, artigos de jornais e documentos liberados dos diversos órgãos de informação. A tentativa de contextualizar o momento do golpe é para dar uma visão de como estava o país naquele momento. Não dá para dizer que a esquerda possuía um poder real para um golpe nos moldes que ocorreu através dos militares. Mas estávamos em um momento extremamente delicado, havia clara ameaça à ordem constitucional. Não se defende nenhum tipo de ditadura, mas será que tínhamos outra alternativa entre o socialismo nos moldes de Cuba, e uma ditadura militar? Se foi uma “ditabranda” como disseram, pode até ser, se for para comparar números, mas jamais se justifica 20 anos de privação das liberdades individuais - que se agravou justamente pela luta armada -, talvez se as esquerdas não optassem por esse caminho, o regime teria durado menos. Não há santos quando se fala em política e, como sempre, quem mais sofre é a população como um todo.
*A foto que ilustra esta postagem mostra Jango em meio a uma manifestação sobre a reforma agrária, os cartazes contêm frases como: "na lei ou na marra" e "terra ou morte".
Nenhum comentário:
Postar um comentário