quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Liberdade e solidão


Há um certo tempo uma amiga me disse que tinha certa preocupação com meu apreço pela solidão. Na época respondi que não havia nada de errado com isso. Gostar da solidão não é necessariamente ser solitário, no sentido de isolamento.

Já disse inúmeras vezes que evito locais que, por um pré-conceito, sei que não vou gostar. Às vezes se deve pelo ambiente, outras pelas pessoas ou a combinação dos dois. Também já fui a lugares que achava que seria péssimo, mas as companhias suplantaram todas as intempéries. Mas ainda prefiro seguir a primeira das regras.

Segundo Demófilo, “não é livre quem não tenha obtido domínio sobre si mesmo”. Nesta ótica entra a busca pela paz interior, cada qual segue seu norte, alguns vivem uma busca constante por entes amados, outros pelo conhecimento, reconhecimento moral ou material. Cada qual na sua linha de raciocínio.

Já eu, fico com um dos aforismos de Schopenhauer: “O homem só pode ser si mesmo por completo enquanto estiver sozinho; por conseguinte, quem não ama a solidão, não ama a liberdade; pois o homem só é livre quando está sozinho.” Todos merecemos nosso momento sagrado, aquela hora de reflexão. Os espíritos mais indóceis, talvez precisem de muito mais tempo sós do que acompanhados, como se fosse uma rebeldia natural, entranhada nas profundezas do ser.

Não se trata de viver isolado, sem uma companhia, trata apenas de gostar de poder sair a esmo, mundo afora, sem ter que dar satisfações, sem ter que se preocupar com a “preocupação” de outrem. É ser livre e deixar que os outros também sejam. Infelizmente ou felizmente, pouquíssimas pessoas entendem essa visão.

Dentro das limitações comuns ao ser humano, há um sentimento medíocre de posse, de obtenção de status, de autoritarismo sobre quem lhe cerca. Complementando todas essas excrescências, ainda temos uma infinidade de estultices oriundas de cunho religioso e moral. Todos necessitam ter, e não ser. Mulheres maravilhosas se transformam em verdadeiras assombrações no decorrer do relacionamento.

Talvez por causa de muitas dessas barreiras que são poucos os seres que realmente apreciem o indivíduo como o menor coletivo. Este ser solitário e liberto, que não aceita muitas imposições, restrições e comprometimento com o que não lhe agrade. Que possua como crença apenas aquilo que lhe respeite como pessoa, sem doutriná-lo, sem cerceá-lo, que lhe proporcione seu livre poder de decisão e pensar, onde todas as escolhas são sempre suas, com as respectivas conseqüências.

It's A Long Way To The Top (If You Wanna Rock 'n' Roll)

terça-feira, 9 de novembro de 2010

CPMF - Carta aberta aos deputados e senadores


Prezado(a) deputado/senador(a),

Venho por meio deste texto, solicitar que vossa excelência se manifeste publicamente quanto a sua posição sobre a reapresentação da famigerada CPMF.

Tomei a liberdade de enviar esta mensagem com cópia a várias pessoas do meu círculo social, bem como alguns meios de comunicação, para que sua resposta venha alcançar o maior número de pessoas e que, desde já, tenhamos como avaliar os atos dos nossos representantes. Informo-vos ainda que encaminharei texto semelhante aos demais deputados eleitos e respectivos senadores.

É público e notório que o Brasil possui umas das maiores cargas tributárias do planeta, acima dos já exorbitantes 35%, e a arrecadação federal tem crescido ano após ano. A própria CPMF não acarretou perdas efetivas para o governo federal, haja vista que foi substituída por um aumento do IOF, e, como já citei anteriormente, a arrecadação subiu nos últimos 8 anos o equivalente a duas CPMFs.

Portanto, é uma afronta a inteligência, ao bolso e a moral alheia qualquer tentativa de ressuscitar algo que onere ainda mais o contribuinte, extorquido diariamente pelo governo.

E o que temos em contrapartida? Serviços medíocres, tendo que pagar planos de saúde e escolas particulares para nossos filhos – isto para os que têm condições -, pedágios nas estradas, taxas abusivas por prestações de serviços pífios, até mesmo a segurança tem que ser reforçada por empresas privadas.

Isto é problema de gestão, não de arrecadação!

Há uma infinidade de parlamentares estúpidos, que visando única e exclusivamente a eleição, jogam para a platéia sempre onerando ainda mais o Estado, sem responsabilidade fiscal alguma.

Eu, como cidadão e contribuinte, não quero saber quem criou essa excrescência, muito menos qual argumento para colocá-la novamente em pauta, pois não há nada que justifique o retorno do tributo. Lembro ainda que toda vez que se aumenta a taxação, o custo é repassado automaticamente ao consumidor final, que é quem efetivamente paga a conta pela farra com o erário.

Definitivamente, o maior gargalo do país é com a corrupção: como os “dez por cento” cobrados pela ampla maioria dos parlamentares a cada emenda aprovada pelo repasse ilegal a corruptos e corruptores – estes, de certa forma superfaturam as obras para adocicar as contas de quem lhes favorece com benesses estatais -, e não venha me dizer que isso não existe porque é conhecido por todo cidadão que já entrou e viu como funciona qualquer órgão do poder público, seja municipal, estadual ou federal.

A legislação, assim como a doutrina jurídica - algo extremamente favorável aos que usurpam nossos cofres - contribuem para a impunidade reinante. Basta ver quantos dos atuais parlamentares estão respondendo a processos, ou já responderam, ou ainda, que foram denunciados em esquemas espúrios. Infelizmente, para quem tem condição de pagar um bom advogado, não há Lei. Pode ter vídeo, gravação, documento assinado, nada consegue alcançá-los. O instituto da imunidade parlamentar já deveria ter sido sepultado há anos.

Alonguei-me um tanto neste ensaio, mas aguardo ansiosamente seu posicionamento. E digo mais, não cessarei a cobrança enquanto não obtiver uma resposta oficial, e recomendo aos demais que me leem, a fazerem o mesmo.


Desde já, agradeço sua atenção.


Afonso Vieira

Ps. Enviei esta mensagem para todos os senadores e deputados do meu estado, ao menos para os que consegui o correio eletrônico. Exceção a apenas um deles, que não tem esta informação disponível em nenhum site, nem no twitter, facebook ou orkut (Edson Giroto), e um outro que seu correio, ainda como deputado estadual, retornou o e-mail (Reinaldo Azambuja). Eu, se fosse o leitor, faria o mesmo com seu candidato, agora!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Rabugices


Há pouco mais de um ano escrevi um texto intitulado A consciência individual, nele explanava meus pensamentos sobre o excesso do politicamente correto que vêm nos cercando. Pelo visto a coisa continua piorando, e pessoas iguais a mim, tendem a se fechar ainda mais ante a imbecilidade reinante.

Sempre disse que o único valor absoluto em que acredito é a Lei, enquanto estiver em vigor. Mas não nutro bons sentimentos para qualquer forma de cerceamento de pensamento, mesmo os que são considerados preconceituosos. Explico-me: livros, textos e comentários expostos – mesmo ofensivos -, devem ser preservados. Servirão de exemplo da estupidez e da falta de racionalidade dos autores, quando assim forem interpretados. Para os excessos comprovados, apliquem-se as punições das leis.

“A cada absurdo dito em público ou em reuniões, escrito na literatura e bem acolhido ou, pelo menos, não refutado, não devemos nos desesperar e crer que valerá para sempre, mas sim nos consolar, sabendo que mais tarde será gradativamente ruminado, elucidado, pensado, ponderado, discutido e, em muitos casos, por fim julgado corretamente.”¹

Eu não quero mudar o meu ser – e não vou – por causa de meia dúzia de demagogos que adoram jogar para a plateia. Minha chatice contumaz eu reconheço, nem por isso vou ser hipócrita fingindo ser outra pessoa. Talvez por saber da minha arrogância é que tenho evitado certas reuniões e ajuntamentos de quem sei não suportar. Jamais deixarei de expressar minha opinião porque isso pode ferir o ego de outrem, para o bem ou para o mal – seja lá o que isso signifique para cada um -, continuarei sincero e defendendo minhas ideias.

Já tem um certo tempo que estava pensando nesta crônica, e por acaso andei lendo alguns autores com quem me identifico, que só reforçaram minha posição. Particularmente, não escrevo com intuito de reconhecimento, de ganhar dinheiro ou algo que o valha. Faço isto porque gosto do exercício, faz-me refletir e a aprender. Talvez ai é que esteja a diferença entre autênticos individualistas e a massa ignara. Não possuo grande estatura intelectual ou literária, e provavelmente nunca a terei como almejo, isto é apenas um simples hobby, um aperfeiçoamento do que sou no dia a dia, refletido em textos.

“Todo ser humano seleto aspirará instintivamente ao seu castelo e retiro onde é resgatado da multidão, dos muitos, da maioria, onde, como exceção, possa ele esquecer a regra ‘homem’.” ²

Uma idiota andou escrevendo baboseiras preconceituosas devido ao resultado da eleição; uma demente quis censurar um livro de Monteiro Lobato; há um ministério para igualdade racial que pensa somente em uma minoria; há um patrulhamento infernal por qualquer tema que se refira a judeus; et caterva.

E segue nossa sociedade, aos trancos e barrancos, com todos seus podres, defeitos e imperfeições. Enxergo hoje, que é justamente por causa de todas essas faculdades que nos tornamos tão belos em nossa individualidade. Querer inibir a ausência de primor do ser humano corresponde a trancafiá-lo dentro da própria mente – isto pode ser torturante!

Já decidi que nasci para a solidão, ainda que por vezes me veja tentado a ir contra minha natureza, sempre quebro a cara. Por melhor que sejam minhas parceiras, meus defeitos suplantam qualquer racionalidade ou sentimento mais duradouro. Talvez daí advenha minha identificação com Schopenhauer e Nietzsche, e alguns contemporâneos de menor expressão.

Nunca possuí a menor admiração a procedimentos utópicos ou autoritários, mas se imbecis pululam dentro a raça pensante em uma quantidade infinitamente superior aos de massa encefálica relevante, que se esbaldem na patuleia desvairada. Mas que não tentem cercear-nos em nossa rabugice, nossos devaneios e nossa forma eremita de viver.

¹ Arthur Schopenhauer

² Friedrich Nietzsche