sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Rabugices


Há pouco mais de um ano escrevi um texto intitulado A consciência individual, nele explanava meus pensamentos sobre o excesso do politicamente correto que vêm nos cercando. Pelo visto a coisa continua piorando, e pessoas iguais a mim, tendem a se fechar ainda mais ante a imbecilidade reinante.

Sempre disse que o único valor absoluto em que acredito é a Lei, enquanto estiver em vigor. Mas não nutro bons sentimentos para qualquer forma de cerceamento de pensamento, mesmo os que são considerados preconceituosos. Explico-me: livros, textos e comentários expostos – mesmo ofensivos -, devem ser preservados. Servirão de exemplo da estupidez e da falta de racionalidade dos autores, quando assim forem interpretados. Para os excessos comprovados, apliquem-se as punições das leis.

“A cada absurdo dito em público ou em reuniões, escrito na literatura e bem acolhido ou, pelo menos, não refutado, não devemos nos desesperar e crer que valerá para sempre, mas sim nos consolar, sabendo que mais tarde será gradativamente ruminado, elucidado, pensado, ponderado, discutido e, em muitos casos, por fim julgado corretamente.”¹

Eu não quero mudar o meu ser – e não vou – por causa de meia dúzia de demagogos que adoram jogar para a plateia. Minha chatice contumaz eu reconheço, nem por isso vou ser hipócrita fingindo ser outra pessoa. Talvez por saber da minha arrogância é que tenho evitado certas reuniões e ajuntamentos de quem sei não suportar. Jamais deixarei de expressar minha opinião porque isso pode ferir o ego de outrem, para o bem ou para o mal – seja lá o que isso signifique para cada um -, continuarei sincero e defendendo minhas ideias.

Já tem um certo tempo que estava pensando nesta crônica, e por acaso andei lendo alguns autores com quem me identifico, que só reforçaram minha posição. Particularmente, não escrevo com intuito de reconhecimento, de ganhar dinheiro ou algo que o valha. Faço isto porque gosto do exercício, faz-me refletir e a aprender. Talvez ai é que esteja a diferença entre autênticos individualistas e a massa ignara. Não possuo grande estatura intelectual ou literária, e provavelmente nunca a terei como almejo, isto é apenas um simples hobby, um aperfeiçoamento do que sou no dia a dia, refletido em textos.

“Todo ser humano seleto aspirará instintivamente ao seu castelo e retiro onde é resgatado da multidão, dos muitos, da maioria, onde, como exceção, possa ele esquecer a regra ‘homem’.” ²

Uma idiota andou escrevendo baboseiras preconceituosas devido ao resultado da eleição; uma demente quis censurar um livro de Monteiro Lobato; há um ministério para igualdade racial que pensa somente em uma minoria; há um patrulhamento infernal por qualquer tema que se refira a judeus; et caterva.

E segue nossa sociedade, aos trancos e barrancos, com todos seus podres, defeitos e imperfeições. Enxergo hoje, que é justamente por causa de todas essas faculdades que nos tornamos tão belos em nossa individualidade. Querer inibir a ausência de primor do ser humano corresponde a trancafiá-lo dentro da própria mente – isto pode ser torturante!

Já decidi que nasci para a solidão, ainda que por vezes me veja tentado a ir contra minha natureza, sempre quebro a cara. Por melhor que sejam minhas parceiras, meus defeitos suplantam qualquer racionalidade ou sentimento mais duradouro. Talvez daí advenha minha identificação com Schopenhauer e Nietzsche, e alguns contemporâneos de menor expressão.

Nunca possuí a menor admiração a procedimentos utópicos ou autoritários, mas se imbecis pululam dentro a raça pensante em uma quantidade infinitamente superior aos de massa encefálica relevante, que se esbaldem na patuleia desvairada. Mas que não tentem cercear-nos em nossa rabugice, nossos devaneios e nossa forma eremita de viver.

¹ Arthur Schopenhauer

² Friedrich Nietzsche

Nenhum comentário: