Afonso Vieira
Entristece-me muito quando leio que - mais uma vez - a maior autoridade da nação, praticamente se vangloriando da própria ignorância, dizendo que não lê, não se informa e ainda critica a imprensa. Oras, ao contrário do que o presidente diz, a leitura é um ótimo divertimento, um dos caminhos para sairmos do ostracismo e alçarmos a um nível intelectual mais elevado.
São posições como esta que um chefe de Estado deveria guardar para si, pois ele, acima de tudo, é uma instituição e não mero amontoado de carne, osso e ideologia. Esse simplismo começa a cheirar puro marketing político, já que sua aprovação sobe a cada sandice proferida, retratando que a população - com uma parcela vergonhosamente grande de analfabetos funcionais - é o retrato do desconhecimento, do fracasso da nossa educação.
Não vim até aqui falar de política, mas sim, divagar sobre os prazeres da leitura. Neste último fim de semana resolvi ficar em casa, em pleno sábado à noite; a vida tumultuada com compromissos sociais nos últimos dias, levaram-me a decidir pelo isolamento de meu quarto. Sem maiores rodeios abri o e-book de um livro de Mario Vargas Llosa, Guerra do fim do mundo, uma história sobre a guerra de Canudos descrita por um peruano – com uma riqueza de detalhes que me causou inveja por ter morado na região e não conhecê-la tão minuciosamente.
O gosto pela leitura deveria ser incentivado em todas as escolas, pelos nossos educadores e com avaliações sobre os títulos adotados, desde os primeiros anos de ensino escolar.
Dificilmente um filme sai melhor que a obra escrita, o estímulo à nossa imaginação é formidável. Fantasiar as ruas de Salvador, o interior sofrido do Nordeste, ou, muitas vezes, locais desconhecidos, é um ofício saudável e excitante!
Em alguns estudos que li, foi dito que o hábito de ler tem maior influência quando vindo de dentro do próprio lar, o que é algo um tanto quanto óbvio. Mas penso que os docentes deveriam - cada vez mais – pregar esta prática em sala de aula, até mesmo com trabalhos extra-classe. Infelizmente, em muitos casos, os próprios mestres não têm em sua rotina essa nobre particularidade.
Fico imaginando essas mentes brilhantes, que produzem obras maravilhosas, como conseguem tamanha inspiração. Invejo sua erudição, sua inteligência, a capacidade de inventar, fantasiar, criar, até mesmo filosofar. Temos bons escritores no Brasil, mas ainda estão longe da qualidade de seus pares mundo afora. Arrisco a dizer que isso possa ser reflexo de nossos costumes, do culto ao coitadismo e a ignorância, que tristemente é de fácil verificação.
Estou aqui, preparando-me para mais uma dose de férteis palavras sobre um conflito antigo, que mescla dose de realidade e ficção, aos olhos do autor. Tenho plena certeza que as horas destinadas às primeiras páginas do romance, somente agregaram conhecimento e prazer. Se ontem, fosse para a rua beber, talvez eu estivesse com azia agora, mas jamais uma sopa de letrinhas me traria tal infortúnio.
"Um público comprometido com a leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que alguns fazem passar por idéias." (Mário Vargas Llosa)
2 comentários:
Sobre Canudos (que você citou) gostaria que lesse "Os Sertões" de Euclides da Cunha. Não conheço a obra de Mário Vargas Llosa sobre tal evento histórico, mas a de Euclides é riquíssima em detalhes geográficos, topográficos, climáticos, antropológicos, sobre a vegetação,os sertanejos, a guerra, enfim...vale a pena dar uma lida. Sem contar o vocábulo do autor que é algo além do extraordinário. Se você quiser, lhe empresto. Quem sabe, você revê sua posição quando diz que os autores estrangeiros tem mais qualidade na grafia que os nossos.
Grande abraço.
Fernando Dagata
vc simplesmente se supera a cada dia, a cada livro . sou viciada em leitura e amo tdo q leio inclusive seus artigos, mas se ainda não leu, leia Érico Verìssimo e Capitãos da areia (Jorge Amado), apesar de concordar com vc e preferir os autores estrangeiros.Continue nos brindando com seus artigos e mandando lenha nos nossos governantes ignorantes.. Um abraço, sempre..
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