terça-feira, 2 de outubro de 2007

A História e suas versões

Afonso Vieira


Esta semana a Revista Veja, em sua edição 2028, trouxe uma matéria de capa que reduz o mito do guerrilheiro argentino, Ernesto Che Guevara de la Serna. Em que pese as diferenças sempre gritantes entre o que efetivamente aconteceu e a romantização de qualquer personagem histórico, é de se espantar com a publicação, ainda mais como matéria de capa.

De fato, alguém com senso crítico apurado dificilmente acredita na história oficial que nos é contada, ao menos não acredita ao pé da letra. O jornalista Ali Kamel, do jornal O Globo, já vem denunciando a manipulação dos livros didáticos adotados pelos governos brasileiros nos últimos tempos.

Primeiramente chamo a atenção para uma tendência natural dentro do nicho dos professores de História – principalmente na América Latina -, uma maioria considerável é de esquerda, e dentro dessa amostragem, poucos, realmente muito poucos aceitam contestações sobre o que eles acham que aconteceu no percalço da humanidade.

Segundo, com a publicação da matéria, que denigre um dos mais cultuados mitos já criados pela esquerda, as manifestações nas comunidades virtuais pipocaram. Os militantes que encarnam soberbamente o Manual do Perfeito Idiota Latino-americano, já organizavam manifestações para queimar a revista e procuravam meios para boicotarem o veículo. Desmentir a publicação com dados e provas, não foi cogitado.

Terceiro, é de um espanto imenso que a revista desmistificasse Che, já que em sua edição 1503, de 09.07.1997, em reportagem assinada por Dorrit Harazim, o especial praticamente exaltava o “mito”. Formas totalmente distintas de se abordar um mesmo tema, e praticamente opostas.

Mas o fato que mais chama atenção nesse imbróglio, é exatamente o dado histórico contra a desvirtuação feita por quem conta a História. Acreditar que o guerrilheiro era a encarnação do super-homem, um poço de virtudes e que praticamente estava acima do bem e do mal, é ingenuidade primária, da mesma forma que não se pode acreditar que alguém que não tenha a menor afeição pela figura, possa emitir parecer totalmente confiável sobre o personagem.

Vamos aos fatos, a maior obra de Ernesto Guevara culminou em uma ditadura sangrenta que perdura até hoje. Ele possuía suas qualidades como combatente, ninguém sobreviveria tanto tempo em condições adversas e totalmente desfavoráveis, se não tivesse certo domínio militar. Aceitar uma reportagem contrária ao que você acredita, é sinal de maturidade - poder queimar seus exemplares é uma atitude aceitável, coisas da democracia -, mas não pense que poderia fazer o mesmo com um exemplar do Granma em uma praça de Havana.

Aos admiradores de Che, resta buscar fatos e dados concretos que desmintam a reportagem, mas o façam com coerência e sem paixão, esta é inimiga da razão, não se contradigam.

Particularmente, nunca possuí o menor sentimento de afeto a alguém que lutou para implantar um regime totalitário. Liberdade é algo com que não costumo brincar.

Parabenizo a revista por mostrar uma outra face da história, até então inédita na grande mídia brasileira, quem tem a ganhar é a História - com "H" maiúsculo - e principalmente, a verdade.

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