domingo, 3 de janeiro de 2010

Entre palavras e idéias


Afonso Vieira

Há muito tempo atrás, Nietzsche escreveu a seguinte frase: “A força e a liberdade que surgem do vigor e da plenitude intelectual se manifestam através do ceticismo”, nada mais niilista e que expressa o que deveria ser o norte de todo filósofo. Oras, como teorizar eternamente possuindo amarras que limitem o pensamento e a visão? Afinal, segundo Oscar Wilde, “definir é limitar”.

Temos tido todo o tipo de patrulhamento quanto idéias e informações escritas, sejam na mídia ou na literatura. Não dá para expressar nada sem que haja um crivo de censura, de minorias, de políticos ou de governos. Imaginar que certas obras clássicas - de pensadores dos mais variados rincões - estariam nas prateleiras atuais das livrarias, acaba por ser algo impensável.

Eu, quando li Mein Kampf, de Adolf Hitler, li como uma obra histórica, que obrigatoriamente deveria ser lida por todos os historiadores e pessoas que tendem a discutir política/ideologia. Mas tenho plena certeza que ele jamais seria publicado nos dias atuais. O túmulo do fanatismo, de Voltaire, seguiria pela mesma linha, ao menos em países de maioria cristã; o que dizer de O anticristo, de Nietzsche? Já imaginaram as feministas de plantão lendo A metafísica do amor, de Schopenhauer?

Em discussões e fóruns, já li os mais variados argumentos e interpretações. Muitos enxergam racismo, preconceito e objeções em diversas obras tidas como clássicas, das mais variadas vertentes; nos padrões atuais, podem ser consideradas, mas temos que contextualizar a época e momento em que foram escritas. Iniciar uma leitura com uma pré-concepção é uma armadilha, pois já tendemos a ter juízo antes mesmo de se deliciar com os escribas. Muitos dos grandes pensadores, hoje, seriam escachados pelas suas idéias.

Temos, na atualidade, pouquíssimos filósofos de grande estatura. Creio que isso seja consequência da infinidade de amarras impostas pela sociedade atual - frise-se que entre os maiores censores, encontram-se supostos filósofos. Costumo dizer que poucas coisas me chocam, que onde alguns veem algo danoso, vejo aprendizado, cultura e outra versão.

Os que buscam a verdade, que tentam ser senhores da razão, tendem à limítrofe visão una. Não há verdade, há versões! Há a forma que cada indivíduo enxerga a respectiva situação. A primeira coisa a se fazer quando lhe veem com algo - que supostamente é o fato consumado -, é contestar! É na antítese, na discussão que se chega ao mais próximo do que é real.

Inicia-se o ano, jornais e blogueiros continuam sob censura. Supostos democratas e libertos continuam hipócritas e fazendo exatamente o oposto do que pregam. Uma infinidade de idealistas continuam limitados, dentro de mundicos e redomas, que criaram ou foram doutrinados.

Dentro de todo este contexto mundano, quem perde é somente a liberdade, seja individual ou coletiva. Quem perde são as mentes, definitivamente abertas, árduas por informações, por palavras e idéias.

http://www.campogrande.news.com.br/canais/debates/view.php?id=4979

http://www.douradosagora.com.br/not-view.php?not_id=272149

http://www.folhadedourados.com.br/view.php?cod=47612

2 comentários:

Anônimo disse...

Não creio, no sentido filosófico do termo, na liberdade do homem. Todos agem não apenas sob um constrangimento exterior mas também de acordo com uma necessidade interior.

Albert Einstein

SILVIA disse...

Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.

Voltaire