Afonso Vieira
No jargão popular, quando diz-se que o Brasil só funciona e inicia suas atividades após o Carnaval, nada mais é do que a triste constatação da realidade. É realmente curioso que isso venha à tona todas as vezes que me pego a pensar sobre nossos costumes.
Conversando com um amigo - que é profissional liberal - ouvi dele que um cliente teve a pachorra de dizer que não lhe pagaria um serviço à vista pelo fato de que viajaria para a praia. Triste inversão de valores. A realidade é que muitos - ouso arriscar, a maioria - dos brasileiros já condicionaram suas vidas aos feriados e festas nacionais. O índice de inadimplência em alguns setores, nos meses de dezembro e janeiro, sempre são alarmantes. Para confirmar isso, basta perguntar para qualquer cobrador ou empresário que trabalhe com vendas a prazo.
Em que pese a diversão e o dinheiro que alguns Estados e Municípios arrecadam com o turismo nessa época, o Carnaval não é feriado. O “jeitinho” brasileiro assim o convencionou. Nada contra quem goste da festa, diversão é bom e devemos aproveitar as oportunidades. Mas fica a questão, o que estaríamos comemorando? A falência das instituições, os índices medíocres na educação, as endemias que voltam a nos assombrar, a farra com dinheiro público nos cartões corporativos, ou a corrupção reinante? A lista é extensa. Para um país que tem pretensão de se tornar potência, alguns conceitos devem ser revistos.
Perdoem-me a generalização, mas somos acomodados por natureza, nossa cultura assim nos fez; nosso Congresso representa exatamente o que somos: um bando de patetas onde os que possuem qualidades são a exceção à regra.
O que dizer de um país que, quando dizemos a verdade, somos criticados por a proferir? Quando a imprensa aponta os erros, é taxada de diversos termos pejorativos. Quando um jornalista diz besteira, não possui a hombridade de se desculpar e assumir sua incapacidade de emitir opinião sobre o que desconhece.
Justiça seja feita, temos evoluído em vários aspectos, mas o que não devemos é nos acomodar e deixar de enxergar e reconhecer que poderíamos estar muito melhor, pois andamos a passos de tartaruga.
Lembrem-se: estamos em ano eleitoral; a quantidade de estultices, despautérios e alianças espúrias atingirão níveis estratosféricos. Uma coisa é certa, com os atuais representantes e pretensos candidatos que possuímos, não vejo grandes esperanças de melhora para o atual quadro. O que podemos fazer é lutar primeiramente por nós; não esperem - nem devem - grande coisa do Estado. Que bom seria se o ano brasileiro realmente se iniciasse em primeiro de janeiro, garanto que já seria um grande passo para melhorar a atual situação. O exemplo deveria partir de nossos líderes - como não é o caso, ao menos façamos a nossa parte. Triste, mas real - mãos à obra!
Ps. É curioso, mas este texto é uma simples adaptação do que escrevi há um ano sobre o mesmo assunto, e ainda assim continua extremamente atual.
Imagem Fúlvio Pennacchi - Volta do trabalho
*Publicado em O JORNAL de 08.02.2008
Um comentário:
Ótimo artigo Afonso
Pq vc nao estah postando estes novos textos no blog da DMM?
abs
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