Afonso Vieira
Muito se ouve e fala sobre liberdade, sobre conquistas e fatos históricos, mas até onde há realidade e utopia nos discursos proferidos?
Em todos os discursos – tanto políticos como filosóficos - a exaltação à liberdade - seja individual, coletiva ou econômica - permeia as mentes dos pensadores. Mas, muitas vezes, há um abismo entre prática e teoria. Apesar de eu considerar “liberdade” um valor absoluto, acredito que seu conceito seja relativo à platéia destinada.
Na parte econômica temos grandes pensadores com diversos exemplos empíricos de sucesso, porém todos necessitam adequar o discurso para as conjunturas reais do ambiente proposto; e isso, muitas das vezes, tendo que ceder a uma idéia totalmente contrária ao seu raciocínio. O Nobel e economia Milton Friedman aplicou com sucesso suas teorias na economia chilena, ainda que o governo fosse um regime de exceção - forma de governo contrária a qualquer tipo de liberdade.
Na parte política temos discursos para todos os gostos; porém, são sempre discursos “adequados” e muitas vezes, falsos. Citando exemplos atuais, vemos ministros de Estado alardeando a ilusão de que lutaram pela democracia e liberdade na época do regime militar - alegação mentirosa e que vem sendo desmantelada a cada pesquisa mais profunda sobre o período. Lutavam, sim, para implantar outra forma de regime totalitário, a ditadura do proletariado, forma esta que foi responsável por milhões de mortos ao longo da história. Em contrapartida, militares deram o golpe que julgavam “preventivo”, com o compromisso de Castelo Branco em devolver o poder a um presidente civil; esse fato não ocorreu por diversos fatores, sendo um deles a paranóia da linha dura reforçada pelo surgimento de guerrilhas e atentados a bomba, ocasionando o fechamento do regime. Mais uma vez, perda de liberdade.
Na parte religiosa, creio que seja o ambiente mais espinhoso. Muitas igrejas, em caminho inverso ao desenvolvimento mundial, tendem a restringir comportamentos - emitem padrões de conduta que não têm mais espaço na realidade atual. Cito alguns exemplos: a proibição de televisores, a contrariedade a pesquisas em células-tronco, a proibição do uso de anticoncepcionais e preservativos, as diversas tentativas de impor seu pensamento aos demais credos. Liberdade de crença deve existir, assim como o direito da descrença. Da mesma forma que o Estado é laico, o que não quer dizer, ateu.
Eu, em minha utopia libertária, seria totalmente favorável a que o indivíduo decidisse o que é melhor para si, sem restrições dogmáticas, legais ou conservadoras. Mas é uma utopia, e como tal - sendo produto do meio que convivo - guardo para mim, procurando coerência, cumprimento de Leis, assumindo deveres e cobrando direitos.
Liberdade é respeitar o contraditório, aceitar as diferenças, mas não há ser livre sem responsabilidade, sem dever e primordialmente, tolerante das adversidades.
http://www.portalgrito.com.br/arquivol/arquivol.php?id=79
*Publicado em O JORNAL, 31 de maio de 2008
Um comentário:
Grande Afonso.......mesmo não concordando ipsis literis com suas reflexões, talvez por nossas diferenças no campo da ideologia política, seu artigo é deveras consistente e de uma lucidez invejável....parabéns...e viva a liberdade de pensamento...FORÇA SEMPRE!!!
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