Não, este texto não será enviado a nenhum site, nenhum jornal, quando muito repassado aos amigos. Não estou aqui para falar dos interrogatórios do DOI CODI, muito menos dos atos de Lamarca e Marighella; vou falar da tortura que é ser diferente em meio à ditadura da maioria.
Qual o problema em gostar de rock, música clássica, ópera e de música mais trabalhada? Pelo certo, não haveria nenhuma discriminação. Mas, quando se mora no interior, onde a cultura ao fútil, ao chifre e demais ornamentações atinentes ideário do povão predomina, muitas vezes nos vemos sufocados.
Recentemente um amigo escreveu um artigo na Folha de São Paulo, onde malhava toda nossa produção cultural no que tange à música. Ainda que eu goste de muita coisa produzida em solo tupiniquim, a grosso modo ele não deixa de ter razão. Tudo que não presta, vende, e muito! Oras, quem nunca se irritou com meia dúzia de retardados em volta de um carro ouvindo “música” no volume para chinês escutar? O desrespeito aos demais é imenso, e não há um pingo de educação nessa galera, pelo contrário, acham bonito ser ridículo!
Morando no Mato Grosso, a coisa tende a piorar, já que o afastamento dos grandes centros parece que é condição para nos distanciar ainda mais de qualquer produção de qualidade. Recentemente teve em minha cidade uma apresentação de jazz - nem preciso dizer que o quórum foi medíocre -, evento que me surpreendeu pela ousadia. Poucos gostam ou conhecem o gênero musical, por motivo de força maior me vi impossibilitado de assistir.
As pessoas reclamam a falta de opção, mas quando alguém prepara algo diferente, mesmo os adeptos e fãs não prestigiam. Não há peças teatrais, raramente uma feira do livro, show musical, só se for de axé, sertanejo ou funk. Como é duro dissonar do meio que me cerca.
Quando eu era mais novo até me arriscava ir a bailes, micaretas e aglomerações costumeiras, não digo que não mais o farei, mas pode ter certeza que penso várias vezes antes de consumar o ato. É, sou um chato exigente que sofre muito devido aos gostos pessoais, mas o fato é: não justifica no mundo atual, ser produto do meio, quando este é extremamente limitado.
O que nos salva do ostracismo é a internet, que nos possibilita acompanhar a evolução da humanidade. Criamos uma nova modalidade de sociedade, a virtual, onde nos falamos, brincamos, trocamos informações como se estivéssemos em uma mesa de bar. Livros? Tenho encontrado praticamente todos que preciso. Músicas? Até seus clipes consigo ver. Filme? Dá para acompanhar todas as tendências. Mas e a inteligência? Ah, a inteligência, o papo produtivo com um ser do sexo oposto, infelizmente ainda é artigo de luxo no seio que me abriga.
Torturados pela ditadura do status quo, ainda assim, sabemos filtrar, relevar e sobreviver na selva da ignorância, do fanatismo pelo medíocre e acultural. Somos produtos do meio, mas felizmente conseguimos ser um fruto sem podres, na verdade, menos imperfeitos.
Viva a diversidade! Desde que esta não me sufoque, não me obrigue a nada e respeite primordialmente meu direito de escolha. Minha liberdade!
Publicado em O Jornal do Vale, 27.10.2008
Qual o problema em gostar de rock, música clássica, ópera e de música mais trabalhada? Pelo certo, não haveria nenhuma discriminação. Mas, quando se mora no interior, onde a cultura ao fútil, ao chifre e demais ornamentações atinentes ideário do povão predomina, muitas vezes nos vemos sufocados.
Recentemente um amigo escreveu um artigo na Folha de São Paulo, onde malhava toda nossa produção cultural no que tange à música. Ainda que eu goste de muita coisa produzida em solo tupiniquim, a grosso modo ele não deixa de ter razão. Tudo que não presta, vende, e muito! Oras, quem nunca se irritou com meia dúzia de retardados em volta de um carro ouvindo “música” no volume para chinês escutar? O desrespeito aos demais é imenso, e não há um pingo de educação nessa galera, pelo contrário, acham bonito ser ridículo!
Morando no Mato Grosso, a coisa tende a piorar, já que o afastamento dos grandes centros parece que é condição para nos distanciar ainda mais de qualquer produção de qualidade. Recentemente teve em minha cidade uma apresentação de jazz - nem preciso dizer que o quórum foi medíocre -, evento que me surpreendeu pela ousadia. Poucos gostam ou conhecem o gênero musical, por motivo de força maior me vi impossibilitado de assistir.
As pessoas reclamam a falta de opção, mas quando alguém prepara algo diferente, mesmo os adeptos e fãs não prestigiam. Não há peças teatrais, raramente uma feira do livro, show musical, só se for de axé, sertanejo ou funk. Como é duro dissonar do meio que me cerca.
Quando eu era mais novo até me arriscava ir a bailes, micaretas e aglomerações costumeiras, não digo que não mais o farei, mas pode ter certeza que penso várias vezes antes de consumar o ato. É, sou um chato exigente que sofre muito devido aos gostos pessoais, mas o fato é: não justifica no mundo atual, ser produto do meio, quando este é extremamente limitado.
O que nos salva do ostracismo é a internet, que nos possibilita acompanhar a evolução da humanidade. Criamos uma nova modalidade de sociedade, a virtual, onde nos falamos, brincamos, trocamos informações como se estivéssemos em uma mesa de bar. Livros? Tenho encontrado praticamente todos que preciso. Músicas? Até seus clipes consigo ver. Filme? Dá para acompanhar todas as tendências. Mas e a inteligência? Ah, a inteligência, o papo produtivo com um ser do sexo oposto, infelizmente ainda é artigo de luxo no seio que me abriga.
Torturados pela ditadura do status quo, ainda assim, sabemos filtrar, relevar e sobreviver na selva da ignorância, do fanatismo pelo medíocre e acultural. Somos produtos do meio, mas felizmente conseguimos ser um fruto sem podres, na verdade, menos imperfeitos.
Viva a diversidade! Desde que esta não me sufoque, não me obrigue a nada e respeite primordialmente meu direito de escolha. Minha liberdade!
Publicado em O Jornal do Vale, 27.10.2008
3 comentários:
'Como é duro dissonar do meio que me cerca.'
É duro...já senti o mesmo inúmeras vezes.O meu consolo, é que a mesmice que impregna o dia-a-dia da maioria, está lotada de hipocrisia, do politicamente correto e do 'fácil assimilar' (a pior).Ou seja, sejamos dissonantes e questionadores sempre ....e viva a liberdade sem amarras, viva a diversidade!
Afonso o jeito é:
"Beber ... cair ... levantar./
Beber, cair, levantar!"/
Beber, cair, levantar!"
he he he
Afonso, chega de tortura...vem aqui pro sul...te mexe logo, antes que crie raízes por aí...daí vai ficar mais difícil..eheh...Lembras, Tortura nunca mais!!! Outra coisa, aqui tem todas cevas que gostas e outras mais que vai adorar, tenho certeza.Vem logo, guri!!!
Postar um comentário