Afonso Vieira
Um dos fatos mais marcantes do cenário político atual, com certeza foi a eleição do primeiro presidente negro da maior democracia do planeta. Sinal de maturidade, que enche de esperanças boa parte dos corações mundiais.
Particularmente, torcia por McCain, em que pese toda a péssima administração Bush, é público e notório que um republicano é menos protecionista que um democrata, engana-se redondamente quem pense o contrário. Para nossas exportações e muita da retórica do Planalto, Barack Obama tende a ser mais prejudicial, um bom exemplo será com o nosso etanol.
Não acredito que Obama tenha ganho a eleição só pelo fato de ser negro, ou ainda, que o racismo acabou. Mas é inevitável elogiar a escolha, que faz com que muitos racistas tenham que engolir seus sentimentos execráveis. A grosso modo - independente de qual partido vença as eleições - a política norte-americana muda muito pouco, isso é uma característica de solidez das instituições. Ambos, tanto McCain como Obama, a meu ver, têm estatura para o cargo. O vencedor teve alguns pontos que jogaram a seu favor: 8 anos de Bush, U$ 400 bilhões em déficit fiscal, a crise do subprime, etc.
A ala mais radical dos conservadores, assim como boa parte da nossa esquerda, já estão enxergando um socialista na América. Sinto destruir seus castelos, um democrata fora dos EUA, sempre se encaixará mais a direita que qualquer político que conheçemos fora das terras do Tio Sam. Eles vão sempre defender seu país primeiro de tudo, são patriotas – característica que nos têm faltado, e muito.
Mudanças virão, e todos torcemos que sejam para melhor. A desastrada política externa de Bush ao menos não mais terá continuidade, nem mesmo se o vencedor fosse McCain. Mas cabe um adendo, não pensem em modificações muito profundas e que revolucionarão o planeta, uma dose de ceticismo não faz mal a ninguém.
Há pouco mais de 40 anos, era praticamente impossível imaginar que um negro - ainda mais com sobrenome muçulmano - fosse assumir a chefia do império do norte.
A alternância do poder é um dos mecanismos que fortalece os pilares da democracia. Uma oposição forte também contra-balanceia e faz parte do jogo - ao contrário do que muitos pensam e desejam. O que muitas vezes nos faz falta é um oponente de peso, vide nosso desastrado Congresso Nacional, inerte e apático com os crimes que têm ocorrido.
Odeiem ou idolatrem os EUA, mas o fato é que temos tido muito mais a aprender com eles do que com nós mesmos. O exemplo atual só reforça a tese de que a liberdade, o bom senso e os valores democráticos ainda têm tido espaço em nossas vidas, ao contrário do que poderíamos ter em uma ditadura.
“Democracia é a pior forma de governo, excetuando-se todas as outras que já foram tentadas” – Winston Churchill
http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2008/11/11/os_percalcos_da_democracia-586348208.asp
Publicado em O Jornal do Vale, 12.11.2008
Publicado em O Jornal do Vale, 12.11.2008
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