terça-feira, 9 de março de 2010

Entre vampiros e lobos


Afonso Vieira

Não, este texto nada tem a ver com a saga juvenil Crepúsculo. Refletindo recentemente sobre uns procedimentos descritos nas teorias administrativas, deparei-me com uma contradição dentro do meu ser: alguém ávido por trabalho, porém, apaixonado pela vida boêmia, pelos prazeres da noite. Às vezes fica difícil conciliar.

Sempre gostei de sair dando voltas a esmo pelas cidades que morei. Por vezes solitário, noutras com amigos. Por ser um tanto conservador nas atitudes, após muito circular acabava sempre pelos mesmos bares e arredores, raramente mudando de nicho. Sou o tipo de cliente fiel.

Os prazeres da noite são envolventes, muito atraentes, todo o jogo de sedução que o ambiente de um bar produz, remete-nos aos mais variados desfechos. Às vezes, trabalhar no dia seguinte chegava a ser extremamente penoso, não pela produtividade em si, mas até “pegar no tranco” demorava um pouco.

Dependendo da cidade, a prática de andar como um lobo solitário ficava comprometida, haja vista as opções proporcionadas. Nesses momentos de ócio noturno eu aproveitava para colocar as leituras em dia.

Dourados não oferece muito que se fazer para pessoas com meu gosto, mas tenho conseguido me divertir à contento. Em alguns dias, pego um livro, sento-me no bar e peço uma cerveja, isto feito me delicio com meus pensadores favoritos. Campo Grande já me agrada mais, tendo mais opções e proporcionando ambientes mais palatáveis, das cidades que conheci e morei, ela está no topo daquilo que enxergo como custo beneficio na qualidade de vida, ao menos para alguém com meu nível de exigência.

Hoje, para não comprometer o rendimento profissional, e sabendo que o organismo não aguenta mais os exageros da juventude, tenho equacionado meu tempo de forma a conseguir me divertir, sempre com o olho no relógio e outro no prazer encontrado. Sempre avaliando o “preço” da noitada.

É gratificante saborear a noite, às vezes escorado no balcão de um boteco, ora ouvindo uma música, ora tergiversando mentalmente por lugares inimagináveis.

Gosto da solidão, da liberdade, mas em certos casos, também faz falta uma companhia agradável – mas isso pode ser apenas consequência do momento. Numa análise mais profunda, libertários sempre penderão para a individualidade - salvo raríssimas exceções.

Ontem estava lembrando do “velho safado” Bukowski, e suas citações irônicas, não há como pensar em boemia e deixar o autor passar em branco.

Seja em locais de reputação estimada, seja em botecos fedorentos, bares tenebrosos ou elitizados, o verdadeiro boêmio se importa muito mais com a qualidade da bebida, do clima que lhe é proporcionado. De que adianta ar condicionado, belas mulheres se o atendimento é deprimente, a cerveja quente e música chinfrim? Em muitas situações, o bar do seu Zé da esquina é melhor destino do que a boate do playboy da vez.

Lobos e vampiros da noite preferem perambular, divagar e observar. Louvar a lua, a intimidade ou a coletividade, é mera consequência do estado de espírito do momento. Pouco importa se é a modinha da vez ou o cafofo da dona Maria. Importa é a satisfação pessoal, única e intransferível.

http://www.campogrande.news.com.br/canais/debates/view.php?id=5115

3 comentários:

Unknown disse...

Karaka, isso tá no sangue... é genético...
desde q aprendi a dirigir (11a) adoooooro andar pela cidade.... olhando a quietude e as baladas...
no meu caso, pelas cidades...
PP e Pj...leio suas crônicas e me identifico...pq tem um pouco de mim.... bjs

Helena Erthal disse...

O libertário deve ser, antes de tudo um filósofo, como vc já alcançou as duas coisas, creio que vc sempre gostará de seguir na boemia, coadunando esse universo com sua vida prática!
Poucos conseguem esse "caminho do meio", onde se tira o sumo da vida e ao mesmo tempo faz a manutenção da mesma tendo tempo para viver....
continue escrevendo!
abraços,

Anônimo disse...

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