sexta-feira, 4 de março de 2011

Perdendo minha fé?

Há muito tempo adotei uma postura cética sobre tudo e todos que nos cercam. Tornei-me um racionalista com o passar dos anos. Dentro desta ótica, passei a enxergar defeitos e virtudes onde antes não os via. Com a maturidade obtida no passar dos anos, tornei-me mais e menos tolerante ao mesmo tempo, tudo dependendo do contexto a ser analisado.

Os que me são mais próximos, sabem que sou um descrente. Não tenho fé em deuses, não possuo dogmas absolutos e nem pauto meus atos por livros, escrituras e instituições consideradas sagradas. Pauto única e exclusivamente pelos meus valores morais e individuais adquiridos ao longo de minha existência.

Por que escrevo este texto? Escrevo porque a maioria de nossa sociedade ainda depende da crença em algo superior para pensar e agir, e nós, agnósticos e ateus, somos uma ínfima parcela, pouco ou nada compreendida. Às vezes, somos até mal vistos pelos mais fundamentalistas.

Vejo, diariamente, pessoas creditando seus sucessos a um Deus, pouco ou nada é ao que realmente importa, o esforço e a dedicação pessoal. Não os culpo nem os julgo, só quero deixar claro, que por mais que se crê em algo, que ore ou reze, de nada vai adiantar se não se dedicar no objetivo proposto. Em termos cristãos, podemos dizer que é algo como livre arbítrio.

Curioso um fato que sempre me deixa a pensar, não vejo descrentes querendo mudar a opinião de religiosos, pena que o inverso não pode ser aplicado, não na regra social. Oras, somos mais de 6 bilhões de entes, com uma infinidade de crendices, e todos, sem exceção, dizem-se o caminho da verdade. Quer dizer, na melhor hipótese, considerando as maiores agremiações, 4 bilhões - no mínimo – estão errados!?

Uma vez perguntei a um ateu – extremamente culto e articulado -, como havia se tornado cético, a resposta imediata foi: lendo a bíblia. Não partilho a opinião dele, que só vê malefícios nas instituições “sagradas”. Mas ao ler e estudar toda nossa história, fica difícil crer nos argumentos daquelas instituições, de todas, frise-se. Na maioria, são teses fracas e de fácil desmonte.

Um perfeito exemplo da necessidade de aprofundamento nos estudos, sejam quais forem,ocorre com uma frase de Voltaire – um dos maiores críticos das religiões que se tem notícia –, que diz: “Se Deus não existisse, precisaria ser inventado”. Basta uma lida na sua obra para entender que isso é uma crítica, não uma afirmação benévola. E assim vai a maior parte das defesas em nome da fé.

Não tenho intuito de criticar ou mudar a opinião de quem quer que o seja, mesmo porque, vejo que as instituições religiosas são ainda de extrema importância para a formação moral dos cidadãos. Não dá para desmerecer a influência dos ensinamentos judaico-cristãos para o ocidente, mas também não podemos tolerar fanatismo, nem mesmo o ateísmo militante – o que de certa forma se torna uma religião.

Atrocidades foram e são cometidas em nome da fé, antes que alguém venha dizer que regimes ateus também mataram milhões - como o caso da URSS - já digo que o comunismo em sua utopia do “Partido”, nada mais era que outra forma de crença fundamentalista.

Talvez nós todos necessitemos de crer em algo, seja em divindades, na razão, em um copo de cerveja ou o que quer que o valha, mas tudo seria bem mais fácil e aceitável se os indivíduos fossem respeitados, independente de credo, cor, classe social ou qualquer parâmetro utilizado para identificar uma minoria/maioria.

Eu, por exemplo, não consigo acreditar em nada que me cerceie a liberdade, nada que diga que o que eu gosto de fazer é pecado, algo ruim. Jamais aceitaria como norte algo contraditório, que perfeitamente explicita o faça o que digo, mas não faça o que faço.

Acredito nos méritos individuais, nas conquistas e na paz interior, que só podem ser alcançadas de dentro para fora, sem necessidade de nenhuma instituição ou ser alheio aos meus pensamentos, de nada que provenha de algo intangível e que seja imposto.

Estou perdendo minha fé? Creio que não, simplesmente evoluí, para alguns posso ter regredido, mas não há nada que digam ou façam que mudará minha opinião. Respeito quem me respeita, faço votos que sejam muito felizes nas vidas que abraçaram, eu vivo muito bem dentro da minha razão.

“A solidão é a sorte de todos os espíritos excepcionais” – Arthur Schopenhauer

Nenhum comentário: