domingo, 19 de outubro de 2008

Palpiteiros


Afonso Vieira

É impressionante a quantidade de “especialistas” que aparecem nas ocasiões de crise ou situações trágicas. O ardor por criticar e dar opinião sobre o que pouco ou nada dominam, é maior do que a própria razão ou busca pela verdade. Nem se dão ao trabalho de pesquisar ou aguardar maiores informações sobre o que propõem a debater.

A tragédia do seqüestro paulista é “a bola da vez”. Pululam textos e conversas sobre o despreparo da polícia; oras, convenhamos, se o GATE - referência até mesmo internacional em situações desse tipo - não é o melhor indicado para a ocasião, quem seria? Houve erro, sim, houve, mas já adianto, qualquer que fosse o desfecho do imbróglio, a polícia seria alvo de críticas. Se matassem o meliante e salvassem as garotas ilesas, os grupos de direitos humanos já estariam soltando seu veneno pela mídia nacional. Situações extremas não têm manual padrão, cada caso é ímpar. Alguém tem que tomar decisões, isso faz parte do gerenciamento de crises. Ninguém em sã consciência desejaria a morte das reféns, ninguém do lado da Lei! Só nos resta aguardar a apuração dos fatos por quem de direito.

Na confusão entre as polícias do estado de São Paulo, outro festival de baboseiras em blogs e jornais. Era previsível que oportunistas de sindicatos e políticos apareceriam para incitar a violência; de outro lado, há a autoridade e a Lei a ser preservada, lembrando que existe norma específica proibindo manifestações naquele local. José Serra é conhecido por sua arrogância e destempero, mas a Polícia Civil tem a incumbência legal de preservar a Lei e a ordem. O presidenciável vai ter que descascar esse abacaxi, os salários são pífios e ultrajantes para o maior Estado da Federação.

Sobre a crise financeira global, continuam as estultices sobre o fim do neoliberalismo. A maior parte dos críticos nunca deve ter lido nada de economia ou estudado como funcionam os governos ditos liberais. O que eles criticam, não passa de uma utopia que chamamos de anarco-capitalismo, que nunca existiu! Milton Friedman defendia, muitas vezes, a ausência total de regulação, mas na prática nunca aplicou isso, nem mesmo em sua passagem pelo Chile. Esses mesmos biltres ignoram que o mundo atual está em melhores condições, justamente devido ao capitalismo de mercado, que entre seus tropeços, proporcionou a significativa melhora na qualidade de vida global. Se especuladores erraram por falta de regulamentação, que se corrija o gargalo, proponham-se medidas saneadoras.

Na próxima situação de crise, dispensem os policiais, não se embasem por teorias econômicas e políticas; procurem os doutores em “achismo”, ou aquele blogueiro, pseudo-jornalista sem diploma, professores de história. Não se esqueçam da vizinha fofoqueira, ou daquele palpiteiro de internet que sempre sabe de tudo, mas nunca leu um livro com embasamento teórico sobre o tema que deseja discutir. Tenho certeza que os profissionais de segurança, políticos e das equipes econômicas ficarão extremamente satisfeitos com o desenrolar dos fatos . . .
Publicado em O Jornal do Vale, 22.10.2008

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