Certa vez escrevi um texto sobre a solidão, há aproximadamente um ano. Nele divagava sobre situações onde pessoas enxergam algo ruim, em que outras – as solitárias – conseguiam vislumbrar algo belo, prazeroso e de bom tom. Na medida em que me aprofundo em pensamentos filosóficos, creio que me torno mais antissocial, com menos apreço pelo meio que me cerca.
Antigamente fazia muitas amizades, e isso era uma constante. Sempre frequentava os locais “da moda” onde me sentia bem. Com o amadurecimento, o rancor e a chatice nos tornam extremamente mais seletivos, ao ponto de evitarmos nos sentar com este ou aquele ser que não nos agregam valor, ou mesmo nos levantar e ir embora de um estabelecimento por motivo banal.
Fico vendo que a autenticidade e opinião própria é algo que nos afasta de muita coisa. Não sou radical como amantes clássicos da solidão como Schopenhauer – mesmo porque seria muita pretensão me comparar com o escritor -, mas não é à toa que me identifico muito com sua obra.
Nossos atos e convicções dizem muito do que realmente somos, às vezes pequenas atitudes dizem muito mais que diversas palavras. Têm dias que sento na mesa de um bar, sozinho, peço uma cerveja e fico a divagar sobre milhares de coisas, outro momento muito propício para elucubrar é na hora da corrida solitária. Sempre penso que se conseguisse colocar no papel aquilo que vem à mente nesses curtos espaços de tempo, talvez produziria algo realmente de qualidade. Nunca fui fã do notebook, mas creio que será algo inevitável, eis uma forma de minimizar o abismo entre as idéias e o “papel”. Sentar em um café no fim da tarde e poder tergiversar ad infinitum é uma dádiva, mas só será à contento na individualidade do ser.
No livro Travessuras da menina má, do Mario Vargas Llosa, Ricardito – que era tradutor – se aproveitava dos cafés para executar seu ofício. A imagem que aquela leitura propicia do personagem é muito semelhante ao que penso quando me transfiro para um happy hour, seja onde for, sozinho com “papel e caneta à mão”.
A rabugice dos teimosos necessita de muito controle e policiamento. Muitos dissabores poderiam ser evitados, mas a força de nossas idéias tende a ir de encontro com o bom senso, por diversas vezes.
Mas é isso, a luta do lobo solitário que habita em nós é uma constante, como não acredito em valores e conceitos absolutos, creio que podemos mudar, para melhor ou pior, dependendo da ótica individual e situação de cada um. Mas que briguemos para que seja com cordialidade e respeito, que o “ermitão moderno” prossiga na sua busca incessante pela paz interior.
Um comentário:
Acho que, à medida que envelhecemos e amadurecemos, tendemos a ser mais introspectivos. Acho isso normal, principalmente em pessoas que sentem prazer na leitura e na necessidade de contemplação gerada por ela. Também sou assim. Gosto desses momentos solitários. Mais que isso: tenho necessidade deles. A sorte é quando encontramos alguém que aceita compartilhar uma vida a dois respeitando esses momentos de introspecção e solidão. Isso é possível, sim. E é muito legal.
Um pouco de oba-oba coletivo é sempre bom, mas não troco isso pelos meus momentos comigo mesma de forma alguma.
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