Afonso Vieira
A maioria das pessoas tende a ver a solidão como algo ruim, danoso, um mal a ser extirpado; muitos tornam o combate a essa situação como prioridade de vida. Mas já pararam para pensar que há todo um charme, algo de belo e envolvente nessa circunstância?
Quantas pessoas têm seu quarto como algo intocável, sua fortaleza pessoal, sua trincheira de pensamentos e divagações? Quantos seres escolheram ficar só, brindaram-se contra os sentimentos mundanos mais comuns de forma que sabem perfeitamente do que estão abrindo mão, em nome do que acreditam ser melhor para si próprio?
Todos temos nossos limites, desejos e aspirações - cada qual do seu jeito, com sua forma e seu conteúdo. Felizmente, não somos todos iguais!
Muitas vezes saímos sozinhos sem destino certo, procurando nada em lugar nenhum. Ao estarmos rodeados de centenas, às vezes milhares de pessoas, ainda estamos mergulhados em nossa introspecção, em nosso mundo irreal, tergiversando sobre pensamentos que fogem à compreensão da racionalidade.
Como é bom ter um tempo somente para nosso eu interior, para o momento de auto-análise, para uma grande reflexão. Solitários podem ser nossos corpos; em contrapartida, nossas mentes tendem a ser o que há de mais liberto de nossas vidas. A gama de possibilidades é infinita.
Você já parou para pensar que existem pessoas que não gostam muito de bajulações, de que se importem ou se preocupem com elas? Pois é, elas existem e são mais numerosas do que imaginamos. Muitas vezes tendem a ser reservadas com suas particularidades, abominam a invasão de privacidade a tal ponto de se ofender com o mais banal comentário. Gostamos de nossa individualidade – que chega a se confundir com a própria liberdade - a tal ponto que isso se torna uma bandeira a defender.
Às vezes estamos diante de um eremita moderno que - por escolha peculiar - assim o decidiu ser. Possuem vida social, mas não fazem muita questão que seja agitada, glamourosa ou reconhecida, normalmente preferem o anonimato. São pessoas que dão mais valor às idéias e pensamentos, que sentem prazer em estar só, no aconchego de seu quarto, junto a uma meia dúzia de livros e afazeres triviais. Gostam dos prazeres da carne, desfrutam do que a vida lhes dá de melhor, porém, se reservam o direito de terminar no ermo de seu espírito.
De um ponto de vista mais filosófico é possível enxergar beleza em tudo, da mais aterradora catástrofe até o mais belo e admirável ato. O mesmo ocorre com os solitários que, ao contrário da maioria, conseguem atingir sua realização pessoal de forma inimaginável para a maior parte da sociedade.
São esses seres que se vêem sozinhos em uma ilha deserta, no topo do Himalaia ou mesmo no deserto do Saara e, ainda assim, vislumbram inúmeras possibilidades e benefícios da situação. Dão valor a muitas coisas, muitas vezes mais a idéias e atitudes do que aos bens materiais propriamente ditos, podem aparentar estar só - mas não se engane - estão perfeitamente integrados e adaptados ao meio que criaram.
Não somos doentes ou maléficos - talvez um pouco diferentes - mas o que definitivamente queremos e necessitamos é de um pouco de solidão.
"Não ouse roubar a minha solidão, se não fores capaz de me fazer real companhia..." - Nietzsche
6 comentários:
Texto fanstástico Cacho's...'a' de abalou!!!!!!!!!
Bjão
a minha "pior solidão" é qdo acho q tenho amigos... e na verdade estou em meio a multidão...
o meu quarto tbm eh meu refugio!!!
Parabéns pelo texto... sempre são excelentes... bjusss
Cachorrão, uau...que texto maravilhoso...meu ermitão moderno!!
Coisa boa quando a gente consegue viver bem assim, só e completo...
agora eu conheci o Afonso de verdade!
Abração.
*aliás, como sempre contundente!!!!
Profundo hein,
poste na DMM Dog, precisamos alternar os textos lá
SOLIDÃO....
só de pensar em ser sozinha ja entro-me em desespero.
Não fomos feitos para viver sozinhoS, ninguém pode ser feliz, ou se sentir feliz sozinho.
Concordo que há momentos, em que o nosso "eu" necessita estar sozinho, para organizar pensamentos, idéias, sonhar, imaginar, criar fantasias, fazer viagem ao infinito sem ter ninguem para perturbar.
Porém seria triste demais ter muitas idéias, muitos planos e não poder dividir ou compartilhar com alguém....
Enfim.
NÃO SERIA NADA SOZINHA....
Texto sempre atual.
Eu tbém gosto da "minha própria" companhia. Gosto de poder ouvir as coisas que "ela" tem a me dizer.
Acho mesmo que nunca vou me desesperar de ter que partilhá-la até o último dos meus dias, rsrs... ;)
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