sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sobre glória e maturidade


Afonso Vieira

Às vezes me deparo com situações que me levam a grande reflexão, dependendo da situação, pode vir a ser até filosófica. Enquanto zapeio jornais e revistas, observo as conversas do dia a dia, fico imaginando se há limites para a imaginação humana.

Há uma frase de Schopenhauer que me chamou bastante atenção: é na velhice, quando todas as fruições e alegrias esmorecem, como as árvores no inverno, que a árvore da glória verdeja do modo mais oportuno, como uma autêntica vegetação de inverno.

No que diz respeito à assertiva acima, substituo em meu pensamento somente o termo velhice pelo da maturidade, já que boa parcela dos idosos não alcançou e provavelmente não alcançará o cume do que almejam. Como o filósofo discorre sobre a glória em consequencia da idade – neste caso, mental e não física -, fico a imaginar o que vem a ser o júbilo de uma vida.

Há tempos mudei meu jeito de ser e de pensar, creio que o termo correto seja: evoluí. Hoje pouquíssimas coisas me chocam, mas muitas ainda me emocionam, ainda que momentaneamente. É da natureza do meu ser a busca pelo aprimoramento constante. Aprendi a enxergar cada vez mais os próprios defeitos e a trabalhar de forma a diminuí-los ou extirpá-los. Existem muitas coisas de que me arrependo e faço votos constantes de não mais incorrer nos mesmos erros.

Vejo profissionais, dentre os mais variados ramos, que ao invés de melhorarem, pioram ainda mais. Aprendi, ainda jovem, que a fé cega é um dos piores fatores para a evolução da personalidade, talvez daí decorra a angústia e infelicidade de considerável parcela da população politicamente/socialmente ativa.

A fé, seja em que dogma for - de forma absolutista e imaculada - tapa visões e leva ao pensamento uno. O que é contrário a qualquer filosofia que vise a evolução do senso crítico e abertura de idéias.

Como ainda engatinhamos como nação crítica e que sabe interpretar corretamente o meio que nos cerca, vejo que a cada eleição o debate – que deveria ser animador – só tem decaído dentre o que seria um padrão aceitável, em todas as esferas do poder e classes sociais.

No quesito pessoal, temos um monte de enganadores de si próprios. Sim, há muita gente se iludindo diariamente, tentando ser quem não é. Alguns resumem sua existência ao amor conjugal, sua busca única e exclusiva é a pessoa amada, mesmo que isso signifique passar por cima de todos os limites do bom senso. Outros enxergam sua glória basicamente no poder monetário, também atropelando a tudo e a todos para satisfazer sua ambição. Há também os que insistem em acreditar em utopias, no personalismo e existência de um sistema perfeito, mesmo que tudo indique o contrário; estes são os incorrigíveis, sua glória se resume em tentar ad infinitum impor seu pensamento, por vezes, de forma autoritária. Por fim, chegamos aos acomodados, que desejam que o mundo acabe em barranco para se encostarem, esses não possuem a menor perspectiva de vida, sua aspiração se resume ao ócio completo e improdutivo.

Oras, é tão difícil aceitar as coisas como elas são, ou buscar aquilo que nos é possível e saber aproveitar as oportunidades? Ter ambição não é ruim, pelo contrário, é saudável, o problema vem quando isso vira obsessão. Não deveria haver dificuldade em aceitar viver apaixonado por uma doce garotinha, mas saber que isso é apenas platonismo, ou ainda, enxergar que o mundo atual não dá brechas para sistemas perfeitos – mesmo porque eles inexistem! -, que vivemos em constante evolução e a glória só está reservada aos que entendem isto. Não nos é proibido sonhar, mas temos que manter os pés no chão. Nosso padrão de sociedade nos obriga ao trabalho, e essa ótica provavelmente nunca mudará – para nossa sorte.

A glória só virá com a maturidade, para alguns isso significa dinheiro, para outros amor, em certos casos seria a consolidação de uma sociedade perfeita; outros jamais saberão sequer o verdadeiro sentido do termo. Mas, para alguns parcos libertários, ela se resume única e exclusivamente a uma bela paz interior.

http://www.folhadedourados.com.br/view.php?cod=52505

2 comentários:

Unknown disse...

Como sempre , ler seus textos é uma dádiva...obriada por envia-los.bjss

Helena Erthal disse...

Afonso,
Antes de tudo, obrigada por nos oferecer, mais uma vez, um texto inteligente e sensível.
Como você bem falou a "glória" não está fora de nós mesmos (dinheiro, poder, romance etc.). Tem algo a ver com o porque de estarmos aqui. Esse autoconhecimento é que nos revelará o caminho(difícil de ser percebido) para essa importante realização. Fico triste ao identificar pessoas com idade, porém sem sabedoria, mas nem todos tem prontidão para alcançar a "evolução".
abraços