sexta-feira, 30 de abril de 2010

A adoção por casais homossexuais e o direito das crianças


Afonso Vieira

Esta semana a justiça brasileira reconheceu o direito de casais homossexuais em adotar crianças. Em que pese todo o conservadorismo existente em nosso meio, analisando os prós e contras, entendo que isso é um avanço tremendo para os nossos valores arcaicos. Ainda temos muito preconceito, algo que está em nossas entranhas mais profundas.

Há tempos já temos discutido o tema, isso em diversos fóruns e rodas sociais. Normalmente as posições são embasadas muito mais em visões religiosas e ultrapassadas do que pela razão. Qual o problema de duas pessoas constituírem união estável, se não for dentro de uma instituição religiosa? Oras, eles também pagam impostos e têm o direito de serem servidos pelo Estado!

Dentro do universo ultraconservador, isso é uma aberração, uma afronta aos dogmas religiosos. De cara, quando li sobre o assunto, já imaginei onde iria ler os mais absurdos impropérios. Para minha surpresa, um dos maiores conservadores da mídia atual, Reinaldo Azevedo, postou-se a favor da decisão. Ponto para ele! É preciso muita coragem para assumir essa postura, ainda mais tendo com público leitor, uma ampla maioria de fundamentalistas cristãos.

Deixo claro que sempre tive completa ojeriza a qualquer militância de minorias, entendo que praticamente todos eles enxergam um único mundo, de forma torpe e bicolor. Que existe um patrulhamento “gayzista”, isso não se pode negar; a mais inocente brincadeira é interpretada de forma errônea e manipulada a exaustão. Mas esta medida nada tem a ver com militância, e sim com direitos individuais, principalmente das crianças, e não dos adultos!

Pelo que me informei sobre o processo de adoção, um casal precisa preencher inúmeros requisitos para ser julgado apto para tal. Isso inclui uma verdadeira varredura na vida dos cônjuges.

Os contrários à medida pensam meramente naquilo que lhes choca, esquecem-se dos maiores interessados e beneficiados pelo ato, que são os adotados. Pelo comportamento dessa classe, eles preferem que as elas cresçam em um orfanato, sem muita perspectiva de vida. Não há nenhum embasamento empírico que comprove que a imagem de um casal gay causará malefícios ao filho pretendido. Em contrapartida existem famílias tradicionais que espancam e destroem os sonhos de seus entes, diariamente.

A orientação sexual de uma pessoa não determina seu caráter, e sim seus atos como ser humano, suas responsabilidades e seu legado. Há, dentro das comunidades religiosas, pessoas boas e ruins tanto quanto em qualquer nicho de nossa sociedade.

Eu, particularmente, não tenho o menor problema com relação aos homoafetivos, pelo contrário, tenho amigos e amigas no meio e que já demonstraram possuir ética, moral e caráter muito superiores que boa parcela da população. Na verdade, pela minha vivência, passei a enxergar com maus olhos quem muito receio tem dos gays, creio que não possuem firmação o suficiente e têm medo de sucumbir aos anseios da carne . . .

Comportamentos extremistas só demonstram o que já enxergo há um bom tempo: não há nada mais nocivo para a liberdade individual de que um extremista conservador - que prefere um hétero marginal a um gay probo, ou um órfão em dificuldades a um filho com lar e sendo amado.

http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2010/04/30/a-adocao-por-casais-homossexuais-o-direito-das-criancas-916467702.asp

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