terça-feira, 4 de outubro de 2011

Bebidas, Bukowski e solidão

Há poucos dias terminei de ler o livro Mulheres, do Bukowski. Como não podia deixar de ser, identifiquei-me muito com o personagem. Os conflitos, o desapego e a indiferença contumaz do escritor - o alter ego Henry Chinaski -, são apenas algumas das características. É realmente curioso, o velho safado consegue ser envolvente mesmo numa linguagem simples e recheada de palavrões, bem no estilo “a vida como ela é”.

Uma das coisas que chama a atenção é o fascínio que o escritor causava em suas fãs. Em suas obras, Bukowski/Chinaski sempre englobava coisas do seu cotidiano, situações que vivenciou, de forma que seus escritos sempre refletiam muito da sua personalidade e sua vida. A forma solitária, singular e desbocada de ser, parecia ser seu charme, e isso lhe propiciava inúmeras mulheres.

Com todos os defeitos do ser humano, às vezes são justamente os deméritos que atraem e apaixonam, e não as qualidades alardeadas e exaltadas aos quatro cantos. Pessoas mais evoluídas conseguem compreender, filtrar e superar pré-conceitos, deliciando-se dos momentos de prazer.

Em tudo que leio, escuto, estudo e vivencio, nada me atrai mais do que quando se fala em solidão. Letras de músicas, escritores, filósofos, entre outros, sobressaem à maioria quando se compara a qualidade oferecida no conjunto da obra.

Certa vez estava conversando com um companheiro de boteco, músico e compositor dos melhores, quando toquei no nome de Schopenhauer. De imediato, Renato Fernandes se revelou leitor do autor alemão, talvez daí saia uma das fontes da genialidade de suas canções de blues.

Todos nós temos necessidades, mas com o passar do tempo, nossas prioridades mudam. Há dez ou quinze anos, eu, por exemplo, era o maior arroz de festa - não perdia um único evento de porte. Hoje, só me prontifico a sair de casa ou viajar se realmente tiver algo que considere valer à pena. Dedico meu lazer apenas para viagens visitando amigos e para algo raro e que me seja caro.

Bukowski era viciado em mulheres, e quem não o é? O problema é ter alguém invadindo sua intimidade mais que alguns dias. Todo bêbado gosta de sentar, beber e não ter ninguém para enchê-lo e dar satisfação. Isso é algo impossível para um compromissado com um ser que quer fazer de tudo para substituir até o ar que se respira.

Paga-se um preço pelas escolhas, nada mais justo para ter uma vida conforme se deseja. Uns nasceram para serem dominados, subjugados ou para alegrar a família e a sociedade. Gostam do mundo perfeito. Outros, mais “endiabrados”, preferem um boteco sujo, um livro instigante, um quarto de hotel, uma transa casual, um copo de whisky e acima de tudo, sua liberdade, sem dogmas e muito poucas regras para seguir.

Um comentário:

Helena Erthal disse...

Gosto da maneira lúcida com que faz suas escolhas...O preço sempre se paga, seja por escolher uma caminho ou outro, mas o que importa é a certeza de viver segundo suas próprias convicções.
abraços,