quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Discursos bonitos, mas . . .


Afonso Vieira

Muito tenho lido em mídia impressa, artigos exaltando virtudes humanas e sempre condenando o apego aos bens materiais. Discursos bonitos - que levam à reflexão e que são usados até mesmo para justificar certos erros e fracassos - porém, muito longe da realidade.

Já virou clichê no Brasil e até mesmo na maior parte do mundo que todo o fracasso é culpa do capitalismo, da elite, do imperialismo, e por ai vai. Há alhos e bugalhos.

Primeiramente, a ampla maioria das pessoas é individualista antes de ser coletivista; segundo, os culpados por fracassos pessoais normalmente somos nós mesmos e não outrem; terceiro, não há pobre ou rico isento de virtudes e defeitos, o percentual de criminosos não é muito diferente entre a classe mais abastada e os menos favorecidos; quarto, as políticas de outros países nem sempre refletem a exatidão das críticas propostas e nem são de todo ruins, apenas procuram preservar primeiramente seus interesses antes de abrir a guarda aos demais - coisa, aliás, que é pratica corriqueira da maioria dos governos; quinto e último, achar um culpado para as próprias mazelas é comumente usado por incompetentes, pois é muito mais fácil atribuir um problema à outra pessoa do que solucioná-lo e assumir responsabilidades.

Tirar juízo por amostras pequenas ou posições equivocadas de alguns é totalmente errado, já que nos induz ao pensamento medíocre. Nesse culto ao fracassado, ao coitado, temos palavras bonitas e destoantes do que é real.

Será que não está mais do que na hora de pregarmos que a Educação é a única forma de subirmos na vida? Nossos intelectuais - os que são taxados por esta alcunha - são, em sua maioria, exemplos de pessoas que vivem de pregar utopias e que estão longe da realidade do competitivo mercado de trabalho.

Em vez de pregarmos a abolição aos bens de consumo, por que não ensinamos o caminho a ser seguido para conquistarmos nossas aspirações? O mais curioso é que a maioria dos críticos da sociedade consumista também luta por uma moradia de qualidade em um bairro nobre; lutam por comprar um carro bom, uma roupa de grife e se esbaldam usufruindo do melhor que o capitalismo de mercado lhes fornece.

Nossa própria legislação é uma aberração; assim como é cultuado pelas massas, os próprios despachos de ações trabalhistas mostram verdadeiras excrescências. Criou-se uma imagem de que todo empresário é ruim, que sempre explora o trabalhador. Há muita falsidade no perfil alardeado, a maioria dos empregadores não é um monstro sugador, assim como parte dos funcionários não é exemplo de trabalhador.

Não vim fazer apologia a um sistema econômico, nem defender uma concorrência desenfreada ou mesmo justificar erros cometidos. Escrevo o texto simplesmente porque acredito que está faltando uma dose de realidade, os pés devem permanecer no chão e os passos dados do tamanho que as pernas comportam.

A vida é uma batalha constante, o mundo é conquistado pelos mais fortes e mais competentes, não existe e nunca vai existir sociedade sem divisão de classes sociais; o que existe, sim, são sociedades mais justas e dignas, que só são alcançadas com pessoas qualificadas e preparadas, onde se luta por um trabalho melhor e não uma bolsa assistencial.

Preguem a realidade, lutem por empregos e salários dignos - conquistados com o próprio suor - enxerguem os próprios defeitos e busquem corrigi-los. Jamais esperem que as coisas caiam dos céus, corram atrás de seus objetivos, você - como indivíduo - e toda a sociedade só têm a ganhar.

Ser bem sucedido não é crime, pelo contrário, deveria ser a aspiração e objetivo de todos.

*Quadro Ufognose de Aniano Henrique

**Publicado em O JORNAL, de 15 de outubro de 2007.

7 comentários:

Dagata disse...

Caro Afonso,

Antes de tudo quero parabenizá-lo pela iniciativa e também pelas colocações que tem feito, demonstrando boa fluência nas palavras. Mas discordo de algumas coisas, em relação a seu último artigo.
Quando você diz que..." terceiro, não há pobre ou rico isento de virtudes e defeitos, o percentual de criminosos não é muito diferente entre a classe mais abastada e os menos favorecidos",não concordo pois os crimes cometidos pelos mais pobres são com certeza em maior número,mas as circunstâncias em que esses crimes ocorrem são bem diferentes, onde o social conta muito para que eles aconteçam. Em sua grande maioria jovens que não têm oportunidades, em virtude da própria natureza do sistema, que não dá condições a todos de poderem conquistar seu lugar ao sol. Nós, mesmo tendo vindo de famílias pobres estudamos em boas escolas, tivemos educação de pai e mãe, diferente da imensa maioria de jovens de nosso país. Ou seja, as oportunidades não são as mesmas. Portanto, o caminho da criminalidade é mais fácil. Não acredito que todos os bandidos são assim por que querem, mas as mazelas do sistema contribui em muito para que isso ocorra.
Em seguida, quando você diz ..." quarto, as políticas de outros países nem sempre refletem a exatidão das críticas propostas e nem são de todo ruins, apenas procuram preservar primeiramente seus interesses antes de abrir a guarda aos demais - coisa, aliás, que é pratica corriqueira da maioria dos governos", concordo em partes. Os Estados Unidos, através de sua política expansionista, promove desde o século XIX com a conquista de possessões outrora mexicanas invasões e intervenções em países dos quatro cantos do mundo, principalmente na América Latina, além de influenciar diretamente na política desses países. Você deve saber da existência do "Destino Manifesto", que prevê a "América para os Americanos", ou da "Doutrina de Segurança Nacional", que permite a intervenção direta estadunidense sobre os demais países do globo terrestre, com o objetivo de "civilizar", "livrar os demais países de tiranos", para que os "povos tenham acesso às benesses da democracia". Pura balela, que cheira o diabólico. Exemplo disso aqui no Brasil é a influência direta estadunidense no golpe civil-militar de 1964, com o envio do porta-aviões USS Firewall, destroyers, 5.000 agentes da CIA, munição e combustível ao exército brasileiro durante a operação "Brother Sam". Ou seja, preservar seus interesses é puramente normal e aceitável, agora usurpar a autonomia dos povos com a desculpa de "civilizar", como os Estados Unidos vem fazendo a quase 150 anos é algo que passa muito longe da compreensão humana.
Logo depois quando você diz"...Em vez de pregarmos a abolição aos bens de consumo, por que não ensinamos o caminho a ser seguido para conquistarmos nossas aspirações?", as idéias iluministas do liberalismo econômico antes difundidas por Voltaire e depois aprofundadas pelos bastiões do neo-liberalismo são muito bonitas quando escritas em um papel. Coisas como "oportunidades para todos" ou "lassez-faire" são atingíveis a partir do momento que existem condições para isso, o que quase nunca acontece. As oportunidades que nos foram dadas não são as mesmas de indivíduos que moram em condições precárias de higiene, em empregos com remunerações ínfimas, tendo que correr atrás da sobrevivência quando deveriam estar em uma sala de aula. No mesmo parágrafo, quando você aponta "...O mais curioso é que a maioria dos críticos da sociedade consumista também luta por uma moradia de qualidade em um bairro nobre; lutam por comprar um carro bom, uma roupa de grife e se esbaldam usufruindo do melhor que o capitalismo de mercado lhes fornece", acredito que os intelectuais que tem uma visão progressista tem todo o direito de usufruir do conforto proposto pelo capitalismo, haja vista que o problema não está em dividir a riqueza, e sim em dividir a miséria, que é algo inaceitável. Não conheço ninguém em sã consciência que faça apologia à pobreza. O problema não está na abolição aos bens de consumo, que ao meu ver usa do anacronismo quem ainda mantém tal discurso. A questão é de que forma conquistar os bens de consumo, em uma sociedade de privilégios para poucos.
Concordo com muita coisa que você diz, principalmente quando você fala que o mundo é uma batalha constante, e que vencem os mais fortes e mais bem preparados. Mas isso me faz pensar que existem oportunidades iguais, que as pessoas nascem iguais, sem levar em conta as circunstâncias de vida de cada um, que faz com que alguns sejam ricos e a grande maioria pobres.
Mas é isso aí, idéias diferentes enriquecem o debate e promovem o crescimento intelectual das pessoas. Mais uma vez, fica aqui o meu respeito e minha consideração por você.
Um grande abraço e FORÇA SEMPRE!!!

Fernando Dagata

Afonso Vieira disse...

Obrigado pela visita, Fenando. Estou me divertindo neste exato momento vendo clipes dos anos 80 e já bebi algumas cervejas, amanhã faço um comentário sobre sua postagem.

Obrigado por participar do espaço, você, com meu grande amigo que é, sempre será bem vindo.

Até amanhã.

Afonso Vieira disse...

Fernando, creio que você interpretou errado, eu disse percentual. Em números absolutos é claro que os crimes dos pobres são em maior quantidade, eu quis demonstrar que mesmo com todas as dificuldades encontradas, ainda assim temos uma proporção semelhante entre ricos e pobres. Vou mais longe, se pegarmos os ricos de nossa própria cidade – Dourados -, acredito que o percentual de quem esteja envolvido com um ilícito possa até ser maior que o de pobres. Ao menos se formos colocar as pessoas que conhecemos, podemos dizer que a proporção é muito grande.

Eu tenho amigos que cresceram e ainda vivem em áreas suburbanas e nunca cometeram nenhum delito, e essa parte da população é a maioria. Isso é sinal que os valores ainda existem, que pessoas honestas são a maioria da população, até podemos dizer que o imperativo categórico de Kant possa ser exemplificado com essa situação – ainda que eu o ache extremamente utópico.


Na sua colocação sobre os americanos, sei perfeitamente da política externa deles, o que ocorre é que é ruim com eles e pior sem eles. Por mais que muitos vejam somente defeitos nos americanos, muito do que eles fazem/fizeram, está longe de ser a pior alternativa. Quanto ao golpe de 64, a operação Brother Sam nunca saiu do papel, tanto que eles só ficaram sabendo do golpe alguns dias depois, o plano existia e seria deflagrado somente se houvesse resistência interna, os militares brasileiros acreditavam que Assis Brasil - Chefe da Casa Militar de Jango – pudesse retaliar, pois o mesmo sempre alardeou poder rechaçar qualquer golpe; de qualquer forma, a ajuda seria na área da logística e não no envio de pessoal. Acreditar que os EUA foram os maiores responsáveis pelo golpe é ingenuidade, militares nunca morreram de amores pelos nossos irmãos do norte, muito menos foram preponderantemente influenciados. Havia uma bipolarização do mundo, e o comunismo é o oposto de tudo que um militar prega e defende. A esquerda brasileira já enviava militantes para treinar guerrilha em Cuba e na China antes mesmo de 64, e eles lutavam por qualquer coisa, menos por democracia, essa conversa é mero fruto de retórica e mais um discurso bonito alardeado erroneamente. Brizola e seus comparsas nada mais eram que agentes de esquerda querendo implantar um sistema autoritário no Brasil, e isso é facilmente comprovado até mesmo nas memórias de Prestes.

De qualquer forma, o tipo de política é e sempre foi usada pelas potências, de um lado tínhamos os americanos e do outro a URSS


No outro parágrafo que você cita, eu quis dizer que devemos ensinar o caminho para que se consiga as aspirações, e isso depende na maior parte de mérito próprio, ou seja, eu prego que deva ser pela Educação – com E maiúsculo mesmo. É claro que não há igualdade de condições, nem por isso deixamos de ter jovens oriundos de escolas públicas nas primeiras colocações dos vestibulares mais concorridos do Brasil. As idéias liberais são tão utópicas quanto as socialistas. Eu prego a praticidade e o alinhamento ao que é real. Meus vizinhos de infância não tiveram bons estudos, mesmo assim possuem uma vida relativamente boa, incluindo carro próprio, prova de que lutar e trabalhar - até mesmo em um país com tantas desigualdades como o nosso – é o caminho certo a ser seguido

Sobre nossos intelectuais, eles são o retrato da hipocrisia, exatamente na perfeição do “faça o que falo, mas não faça o que faço”. Se fazem apologia à distribuição de riqueza e criticam o estilo de vida dos bem sucedidos, que não vivam como tais. Chico Buarque, Saramago e Luis Fernando Veríssimo são exemplos dos hipócritas, vivem alardeando amores por Cuba e pelos pobres, mas o mais próximo que passaram de uma favela foi dentro de um avião quando aterrizava em um aeroporto. Vivem em mansões e consumindo vinhos e whiskys importados, se deleitam daquilo que a ampla maioria da população, provavelmente jamais irá ter acesso. Ir morar em Cuba, nenhum quer.


Como eu já disse, devemos criar uma ambição nas pessoas, pregar a busca por uma vida melhor, e só teremos isso com amor próprio e consciência do sistema, que é uma máquina voraz, que sempre cobra seus preços. Se não dermos uma Educação de qualidade e não mostrarmos que somente com esforço, primeiramente individual e próprio, jamais sairemos da condição de terceiro mundo.

Anônimo disse...

Ow moçada, um espacinho pra mais um douradense, rs.

o texto foi ótimo e este segundo comentário do Afonso idem.

Legal q todos os três aqui curtimos rock sem nunca termos sido forçados a isso. Desta parte do "imperialismo estadunidense" ninguém reclama.

Yáscara disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Yáscara disse...

Boa réplica, mas os argumentos se mostram - com todo o respeito - bem previsíveis.

Tréplica detalhada e "desmontante", meu amigo...
Englobou muita coisa.
Nós podemos sempre ser mais do que a sociedade nos impõe - muito mais! Essa é a força do homem.

Parabéns pela boa utilização do espaço dos coments, rsrs... Inusitado, isso!

Bj!

Anônimo disse...

" vida é uma batalha constante, o mundo é conquistado pelos mais fortes e mais competentes"

Faço aí um adendo.
O mundo tb é muitas vezes dos mais "espertos" ou "espertalhões"

Ética e valores morais não deixam de ser parte da Educação e que tem na família o q deveria ser o seu maior alicerce.