Todos os dias lemos e assistimos notícias de políticos e empresários sendo presos Brasil afora, não se passam 24 horas para nos depararmos com algo novo, pode não ser neste município ou estado, mas no país, há algum tempo convivemos com novos escândalos como se fosse parte da rotina diária.
O recente episódio da operação navalha é apenas a ponta do iceberg. Qualquer pessoa com o menor conhecimento do funcionamento da máquina estatal, sabe que quase a totalidade das grandes licitações do poder público sofre algum tipo de irregularidade, o difícil é documentar o ilícito. O papel é frio e aceita tudo, em uma auditoria dificilmente se encontrará algo irregular no procedimento licitatório, apesar de todas as amarras previstas na Lei 8666/93, só mesmo alguém muito incompetente para não formalizar um contrato com a padronização estabelecida.
Sem hipocrisia e sendo claro, é praticamente impossível que um órgão público sobreviva sem que cometa algo irregular, quem tem vivência no assunto entende o que escrevo. A chamada “química”, é prática corriqueira nas unidades administrativas, é ilegal mas não imoral, infelizmente os caminhos burocráticos nos obrigam a isso. Da mesma forma que não há como imaginar que todas as aquisições obedeçam aos estágios da despesa, empenho, liquidação e pagamento, existem coisas prioritárias, que não têm como aguardar dotação orçamentária.
Mas o que presenciamos não são irregularidades banais, e sim crimes previstos na legislação em vigor. O próprio empresariado já apresenta a proposta de preços levando em conta o valor da propina. As licitações são praticamente todas direcionadas em favor desta ou daquela empresa, difícil não encontrar envolvidos diretos com estes procedimentos sem a respectiva culpa.
Dizer “eu não sabia” ou “fui traído”, só engana a massa de manobra ignorante e analfabeta funcional. Discursos populistas e demagogos proliferam proporcionalmente com a impunidade reinante. A corrupção há muito passou da endemia, isso é para tranqüilizar os incautos, pandemia é o termo correto para a situação degradante em que vivemos.
Difícil é ter esperanças, quando os mesmos corruptos presos e envolvidos em crimes, são eleitos e “anistiados” pelas urnas, falta memória e vergonha na cara também ao cidadão brasileiro. É difícil esperar muito de um povo que mal consegue ler, que vê o “jeitinho brasileiro” como algo a ser exaltado, que já se acomodou com as mazelas políticas e só pensa no almoço. Difícil ter esperanças em um país que as instituições chafurdam em um mar de lama, que o preso de hoje é o governante de amanhã. Triste e real.
* Publicado em O Jornal, Edição 55, pág. 02, de 26 de maio de 2007.
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