sábado, 28 de julho de 2007

Perseguição midiática


Afonso Vieira

Quem persegue os políticos? A mídia? É uma pergunta que levo à reflexão de todos. Já se tornou clichê dos representantes eleitos envolvidos em qualquer tipo de escândalo. Basta surgir um problema ou desvio de conduta, que automaticamente a culpa é imputada aos veículos de comunicação - que têm como missão divulgar fatos.

É público e notório que não existe imparcialidade jornalística, o próprio conceito de imparcialidade é de certa forma utópico. O que um veículo de comunicação tem que buscar é a pluralidade de idéias. As notícias devem se ater aos fatos, e as posições emitidas em colunas de opinião.

Proponho outra questão: haveria perseguição midiática se a “vítima” não se envolvesse em atitudes suspeitas? Digamos assim: uma pessoa sendo eleita ou nomeada para um cargo, é flagrada em conversas telefônicas fazendo acertos nebulosos para partilha de dinheiro; outra, por parentesco com alguém importante, é pega praticando tráfico de influência; a pensão de um filho fora do casamento de um cacique da política é paga por um lobista de uma grande empreiteira; o filho do presidente da nação vira - da noite para o dia - um milionário, sócio de uma empresa de fundo de quintal que recebe aporte de uma concessionária do serviço público; o sigilo bancário de um caseiro é violado por pressão de autoridades; pessoas do primeiro escalão, nomeadas e tidas como de confiança, cometem atos ao menos contestáveis; as filas e atrasos nos aeroportos viram rotina e nada de efeito surge para saná-las. Esses são apenas alguns exemplos. O que nossos representantes querem, que isso tudo fique escondido? O mínimo que se espera é apuração e que a sociedade seja informada.

O curioso é que os chorões de agora exaltavam os jornais e revistas outrora. Recordo-me muito bem de capas de semanários elogiando vários “perseguidos”. Alguns jornalistas que hoje são demonizados por certas militâncias, eram tidos e tratados até pejorativamente com o mesmo nome dos partidários de algumas agremiações políticas.

Será que um jornalista não pode mudar de opinião? É o mínimo que uma pessoa honesta pode fazer: assumir o erro e, por ser imprensa, não se omitir quanto aos fatos. A palavra valia quando elogiava, e agora - quando critica - não vale mais?

Os cidadãos, em contrapartida, devem buscar informações e se inteirar dos assuntos; de preferência ler mais de uma fonte, buscar o senso crítico e não se tornar o animal midiático – perfeitamente descrito no livro "Como ler jornais" de Janer Cristaldo.

Falta ao brasileiro aprender que fazer uma boa gestão é obrigação do político, e que todos os cidadãos têm o dever de cobrá-los. Fazer propaganda para alardear a construção de uma obra emergencial ou a reforma de qualquer escola, hospital e demais estabelecimentos sob a tutela do Estado, nada mais é que compra de votos disfarçada, como se os eleitos já não tivessem a incumbência de gerir a máquina pública.

Falta aos “astutos” hombridade de assumir responsabilidades, vergonha na cara em admitir erros e competência em nos representar. E à imprensa resta noticiar fatos, sem exageros e conclusões precipitadas; caso incorra em crime ou devaneios, a justiça está ai para proteger a quem de direito. Chorar e tergiversar só prova que a mídia não perseguiu e, sim, cumpriu seu dever de noticiar a verdade.

Ps. Pegue um texto de Arnaldo Jabor anterior a 2003, troque FHC por Lula, você se surpreenderá com o resultado.

*Publicado em O JORNAL, de 30 de julho de 2007.

**Publicado no Portal Grito http://www.portalgrito.com.br/arquivol/arquivol.php?id=51


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