segunda-feira, 2 de julho de 2007

Relativismo Moral

Afonso Vieira

O que vem a ser um valor absoluto? Acredito que a Lei, mesmo que eu discorde de seu conteúdo, o é - ao menos enquanto não for reformulada ou alterada. Eu, como cidadão ciente de meus deveres, estou sujeito ao estabelecido nas normas jurídicas de uma sociedade e a obrigação de cumpri-las. Tenho ainda, meus princípios éticos e morais permeados pelos costumes e ensinamentos que me foram repassados pelo meio do qual sou fruto.

O que está ocorrendo com diversos segmentos de nossa sociedade? Pergunto isso porque as leis e princípios básicos vêm sendo deturpados diariamente.

Na imprensa dita “de esquerda”, temos tido diversos arroubos com o relativismo propriamente dito. De um lado temos um irmão do presidente envolvido em tráfico de influência, com gravações claras sobre o ilícito; do outro, temos vários articulistas relativizando a irregularidade pelo fato do indivíduo ser “pobre” e irmão de um presidente “perseguido” pela imprensa “golpista”.

No cenário do legislativo, temos os senadores envolvidos em desvios de conduta, e seus pares - que deveriam fiscalizar tais atos - relativizam a situação. A bola da vez, Renan Calheiros, diz-se perseguido, como se seus atos não justificassem a cobrança por parte da sociedade.

Temos ainda os “militontos”, sim, esses projetos de revolucionários que nunca procuraram ler nada que não lhes fosse repassado pelos doutrinadores, frutos de um pseudo-intelectual qualquer. Estes vivem a reclamar da cobrança imposta ao atual governo, e no menor sinal de comprovação de irregularidade, saem com o clichê “os outros também fazem”. Como se o fato de alguém roubar é salvo-conduto para que outro também o faça.

O relativismo é tamanho, que o pai de um dos agressores da doméstica Sirlei Dias Carvalho Pinto, disse que o filho não é bandido. Quer dizer que quem agride e rouba uma pessoa sem motivo algum, que são “crianças que estão na faculdade, estão estudando, trabalham” não devem ser responsabilizados por seus atos? A meu ver, o fato de serem de uma classe social mais abastada, serem pessoas com acesso à informação e maior conhecimento, deve ser considerado agravante, e não atenuante.

Não há meio crime, assim como não há pessoa pública isenta de críticas e de “perseguição”. Há, sim, criminosos, isso independe de classe ou origem social. Há, sim, desvios de conduta. Não queiram que pessoas culpadas ou que devem satisfação à sociedade fiquem intocáveis dentro de uma redoma, isso é ruim para a democracia e para suas instituições.

Sou um crítico por natureza, a ponto de ter sido ofendido verbalmente na época do governo FHC pelo termo pejorativo “petista”, o que não aceito. Cobro, assim como todos devem cobrar postura condizente de um cidadão dentro dos limites da lei. Não relativizo crimes e desvios, isso é coisa para cúmplice, coisa que não sou e sei que maior parte da população também não é. Bom seria se os citados no texto também pensassem assim, já seria um bom começo.

*Publicado na Edição 83 de O Jornal, de 29 de junho de 2007.

http://www.portalgrito.com.br/arquivol/arquivol.php?id=44

Um comentário:

Blogildo disse...

Pois é, Cachorrão, o relativismo tá corroendo as bases morais da nação. Infelizmente, creio que é um caminho sem volta. O povo vai se acostumando e dando de ombros com um genérico: "É assim mesmo". Enfim, o exemplo da elite política acaba contaminando as outras camadas.